O ambiente no qual se desenvolve o debate em torno da inevitável
reforma da Previdência é, no mínimo, esquizofrênico. Todo mundo sabe que
ela é vital, necessária, inadiável – sem a qual o País quebra logo ali
adiante. Ninguém discute seu objetivo fim de tapar o histórico rombo em
escalada geométrica. Mas não existe viva alma hoje disposta a arcar com a
conta ou a ceder um milímetro no seu quinhão desse butim. A começar
pelos grupos organizados. É a elite de servidores públicos, militares e
da própria armada parlamentar quem mais resiste e protesta de maneira
ruidosa. Galvaniza as ruas.
Recebe concessões. Na maioria dos casos fica
de fora do prejuízo. Mantém os privilégios. Não contribui para a
solução. Articulada com sindicatos e agremiações de oposição (que
trabalham pelo tumulto e sabotam projetos sem propor alternativas), essa
elite trata de puxar para si o cobertor curto enquanto grande parte da
população fica a descoberto. No amplo espectro de desigualdade social,
quem menos pode e grita levará a pior. De novo. A reforma tem de sair e
políticos – desprezíveis nas suas intenções – cozinham o assunto para
não se indispor com as bases. Correm atrás de salvaguardas, blindando as
categorias predominantes nos respectivos currais eleitorais. Dão de
ombros às gerações futuras. Afinal, elas não lhe asseguram hoje uma vaga
no Congresso.
Não estão no seu “target” de eleitores a agradar. O obstáculo maior à
reforma em curso são os interesses pontuais daqueles com a caneta para
aprová-la. A turma do atraso conspira rumo ao desastre geral. Atualmente
48% das despesas primárias do Estado são consumidas por aposentadorias e
pensões. Em outras palavras: quase metade tudo que a União arrecada
evapora nessa rubrica. O número avança absurdamente a cada ano e
estima-se que já no exercício de 2024 nada menos que 100% do orçamento
serão gastos no sistema previdenciário, caso nada seja feito. O colapso
tem assim data marcada.
Décadas se passaram nessa toada. Inúmeras alternativas apareceram.
Entraram em pauta no Congresso. Foram negociadas à exaustão. Vários
governos acenaram para a urgência do tema. Mas, invariavelmente,
qualquer iniciativa nesse sentido teve por destino a gaveta, desfigurada
e rejeitada pelos lobbies, pela burocracia e por injunções políticas.
Mofa nos arquivos as melhores intenções. Não há mais como seguir nessa
incompatível expansão de gastos sem lastro para bancar desde gordos
benefícios a castas privilegiadas até o atendimento básico de quem se
aposenta mais cedo. O mundo mudou. O Brasil também. Com o envelhecimento
da população – todos sabem! – cada vez menos contribuintes estão tendo
de segurar a conta de mais beneficiários. O sistema travará.
Irá
sucumbir, sem dúvida alguma, por inanição da classe política que apela
ao populismo e barra medidas amargas com a desfaçatez típica de
canastrões. A sociedade não pode acreditar nas intenções dessa gente.
Deve reagir, em benefício próprio. E logo! O presidente Temer soou o
alarme, avisando que o Brasil pode virar uma Grécia em menos de uma
década. E não há exagero nesse tipo de prognóstico. Estados e
municípios, por exemplo, estão à beira do cadafalso e se não ajustarem
os desembolsos previdenciários dos servidores não terão como escapar.
Precisam, com urgência, apresentar novas regras locais que mudem o
regime em vigor. Isso – claro! – se os governantes ainda tiverem algum
juízo e senso de responsabilidade. Nenhum brasileiro pode perder de
vista o fato de que o modelo de previdência em vigor ficou insustentável
e está a exigir arranjos e sacrifícios indiscriminados em prol do bem
geral. [mais importante e duradouro que a reforma e seus efeitos, é a necessidade do Brasil voltar a crescer.
Com a economia funcionando bem - lamentavelmente estragada por dois animais: Lula e Dilma - a Previdência se torna auto sustentável.
O que agrava agora é que além do natural e explicável menor número de contribuintes para segurar a conta de mais beneficiários (consequência esperada e desejada do envelhecimento da população) temos que considerar que os quase 14.000.000 de desempregados também não contribuem.]
Fonte: Editorial IstoÉ - José Carlos Marques
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