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domingo, 15 de setembro de 2019

Moro desculpou-se mas não se arrependeu - Elio Gaspari

O Globo

Data era única verdade em carta de Moro  

Em 2016, o juiz Sergio Moro pediu “escusas” ao Supremo Tribunal Federal (STF) por ter liberado a divulgação do áudio de um telefonema da presidente Dilma Rousseff a Lula. Os 95 segundos da conversa detonaram a nomeação de Lula para a chefia da Casa Civil e deram mais um empurrão na derrubada do governo petista. [com as devidas vênias, destacamos que Moro, foi um verdadeiro Superman, visto que com sua decisão impediu que um criminoso fosse nomeado ministro de Estado (aliás, a Casa Civil, durante os governos petistas, foi sempre comandada por bandidos: Zé Dirceu, Erenice, Palocci, quase Lula, etc) e quanto a ter dado mais um empurrão na organização criminosa que presidia o Brasil, temos que agradecer, cada minuto do perda total = PT no governo aumentava o desastre que Temer herdou - tentou consertar, Janot não deixou - e passou para Bolsonaro - cujos inimigos, que também são do Brasil, tentam impedir que o presidente reduza os danos que herdou.]
 
Moro escreveu o seguinte:
“Diante da controvérsia decorrente do levantamento do sigilo, compreendo que o entendimento então adotado possa ser considerado incorreto, ou mesmo sendo correto, possa ter trazido polêmicas e constrangimentos desnecessários. Jamais foi a intenção desse julgador provocar tais efeitos e, por eles, solicito desde logo respeitosas escusas a este Egrégio Supremo”. 

Mensagens e grampos reunidos por uma equipe da Folha de S.Paulo e do Intercept Brasil mostraram que a única coisa verdadeira na carta de Moro era a data. Moro e os procuradores quiseram, e conseguiram, criar a polêmica e constrangimento.
[dois detalhes de grande importância:
- as conversas do 'intercePTação', são produto de crime e  sem autenticidade comprovada - a única verdade que elas poderiam conter, não contém, já que não contam sobre as movimentações atípicas do deputado David Miranda, marido do 'verdevaldo';
- na época da hipotética 'mentira' de Moro, mentir era a regra, tanto que o presidiário petista na defesa de um dos seus rolos, apresentou recibos com datas inexistentes; 31 de junho e 31 de novembro.]
 
(...)
 
O telefonema de Dilma muda tudo
Às 13h32m, Dilma telefonou para Lula, avisando que o “Bessias”estava a caminho, levando o documento de sua nomeação para chefia da Casa Civil.
Doze minutos depois, o jogo mudou. Numa rapidez inédita, o agente federal Rodrigo Prado informou aos procuradores:
“Senhores: Dilma ligou para Lula avisando que enviou uma pessoa para entregar em mãos o termo de posse de Lula. Ela diz para ele ficar com esse termo de posse e só usar em ‘caso de necessidade’... Estão preocupados se vamos tentar prendê-lo antes de publicarem no Diário Oficial a nomeação do Lula”. 

Às 13h46m, o Planalto divulgou a nomeação de Lula para a chefia da Casa Civil.
Às 14h26m, o delegado Luciano Flores de Lima mandou que Prado transcrevesse a conversa de Dilma com Lula, “sem comentários”. Às 15h34m, o delegado narrou ao juiz Moro o conteúdo da conversa.
Às 16h21m, Moro levantou o sigilo de todos os telefonemas, inclusive daqueles que ocorreram depois do seu despacho suspendendo a escuta.
Às 17h21m, Moro disse a Deltan que havia levantado o sigilo mas que “aqui não vou abrir a ninguém”. Minutos depois, mandou uma mensagem urgente ao procurador, mas seu conteúdo não é conhecido.

“O mundo caiu”
Às 18h40m, ao vivo e a cores, o diálogo de Dilma com Lula foi ao ar e o procurador Carlos Fernando registrou: “Tá na GloboNews”.
Deltan comentou: “Ótimo dia. Rs”.
O procurador Athayde Costa arrematou: “O mundo caiu”.
Caiu, mas todos sabiam o que haviam feito.
O procurador-geral Rodrigo Janot estava na Suíça e seu chefe de gabinete, Eduardo Pelella, perguntou: “Vocês sabiam do áudio da Dilma? (...) A gente não falou sobre isso”(19h17m).
Minutos antes, Deltan dissera que “por cautela, falei com Pelella e deu ok”. Esquisito, porque ao saber que o grampo de Dilma com Lula não estava no relatório da PF, Pelella espantou-se:
“Não estão nos relatórios? Caralho!!!” (19h23m).
(...)

Nessa troca de mensagens que foi das 21h às 23h, os procuradores Andrey Borges de Mendonça e Antonio Carlos Welter levantaram dúvidas quanto à legalidade da divulgação do grampo de Dilma com Lula. Seis outros acompanharam a tese de Carlos Fernando para quem discutia-se uma filigrana, prontificando-se a renunciar, indo à televisão para denunciar o governo.

Não foram necessárias renúncias coletivas nem entrevistas agressivas. A manobra teve o apoio da opinião pública, o ministro Gilmar Mendes cassou a posse de Lula e seis meses depois Dilma Rousseff foi deposta pelo Congresso.
No dia 16 de março de 2016, a República de Curitiba teve sua maior vitória. Como no gol de Maradona, a bola foi ajeitada com a mão (“de Deus”, como ele disse).

Cinco dias depois, trocando mensagens com Deltan, Sergio Moro resumiu sua conduta: “Não me arrependo do levantamento do sigilo. Era a melhor decisão”.
Era?

Na Folha de S. Paulo e O Globo, leia matéria completa - Elio Gaspari, jornalista





segunda-feira, 14 de maio de 2018

ÁUDIO: 'Ai! Credo, doeu!', diz ex-mulher de juiz ao ser agredida e xingada de 'cachorra mentirosa'




Gravações feitas por Michella Marys, ex-mulher de Roberto Caldas, revelam rotina de agressões e insultos


Áudios obtidos pelo GLOBO  revelam a rotina de agressões físicas, xingamentos e humilhações psicológicas vivida por Michella Marys Pereira, ex-mulher do juiz Roberto Caldas, integrante da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Foi a própria Michella quem fez as gravações. Em uma delas, quando os dois aparentemente estavam dentro de um carro, ele xinga a mulher e há um barulho de uma pancada seguido de uma reclamação de dor.
— Eu não menti nada! — diz ela, durante a discussão.
— Sei! — responde o homem, na gravação.
Ouve-se então o barulho e xingamentos:
— Cachorra, mentirosa!
— Ai! Credo, doeu! — reclama Michella.
— Mentiu o caralho! Foda-se — responde o marido.


A notíciadas agressões foi publicada pela revista "Veja". Na última quarta-feira, conforme revelou a revista, o magistrado compareceu ao 1º Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, em Brasília, onde tramita um processo sobre o caso. O Ministério Público chegou a pedir que o Juizado concedesse uma medida protetiva para proibir que o advogado se aproximasse da mulher, mas o juiz negou por considerar que Caldas já saiu de casa e porque, para o magistrado, as questões que envolvem o casal são "aparentemente" financeiras.

De acordo com a revista, o juiz é acusado de injúria, agressão, espancamento e ameaça de morte por Michella Marys. Sobre Roberto Caldas recairia ainda a acusação de assédio sexual a duas babás de seus filhos. O advogado do juiz, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, nega que seu cliente tenha agredido a mulher.
Roberto Caldas: são apenas “tumultos e agressões verbais”, diz advogado de defesa (Acervo CIDH/.)

Na sexta-feira, o advogado Roberto Caldas pediu licença do cargo de juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos por tempo indeterminado. Conforme a assessoria do juiz informou, a licença foi pedida depois que a reportagem foi publicada, para que ele se dedique à própria defesa. Em e-mail enviado a todos os integrantes da Corte, Roberto Caldas afirma que pede licença, "por razões particulares", e que prestará maiores esclarecimentos "oportunamente".

'QUERO QUE VOCÊ ENJOE DE MIM'
Numa outra gravação, a voz identificada por Michella como sendo de Caldas usa uma coleção de palavrões para reclamar da bagunça na casa dos dois. Diz que não vê a mulher fazer nada. Critica o fato de ela ir à academia de ginástica cinco vezes por semana no meio do dia e do que gasta com terapia. Também se queixa que os filhos ficam sob o cuidado das empregadas. A discussão é interrompida por outro barulho que sugere agressão.
— Ai, Roberto — diz ela.

A briga durante a madrugada continua. O homem fala que sairá de casa e que o casamento é a única coisa ruim na vida dele. Xinga a mulher de "doida", 'burra", "egoísta" e "ralo de dinheiro". Michella pede que as ofensas parem e que a conversa siga de forma civilizada. Reclama também dos xingamentos feitos em frente aos filhos. Fala que depois de ele chamá-la de "bandida e calhorda", a filha caiu em prantos. 

O marido ignora o pedido e segue com ataques por causa da gestão da casa. Queixa-se até das lâmpadas escolhidas por ela porque gastam energia demais. Fala das câmeras que não funcionam porque, segundo ele, Michella não queria que ele visse o que acontece em casa.
— Eu quero que você voe da minha vida. Que você enjoe de mim porque eu sou agressivo — fala o juiz.
— Eu acho que você está muito estressado e vou te desculpar por isso. Você está muito estressado, sem dormir e vou tentar compreender você — diz Michella.
— Eu estou mesmo — conclui o magistrado da Corte Interamericana de Direitos Humano, que ainda diz: — Michella, sai daqui que eu estou a ponto de explodir em cima de você. Estou nervoso porque sou infeliz com você.

A discussão termina porque Michela sai do quarto do casal.
— Vou só pegar o meu travesseiro — fala a mulher.
Em couta gravação, ele grita aos berros:
— Saia daqui, saia desta casa, saia imediamente! Saia, saia, Michella! Você nunca fala a verdade para mim! Saia, saia de casa, você é uma bandida! Saia de casa!
— Não vou sair! — respondeu ela.
— Saia, saia de casa! Você é uma mentirosa, vive na mentira! — respondeu ele.

TESTEMUNHO DE FUNCIONÁRIOS DOMÉSTICOS
Em 13 de abril de 2018, Michella foi ao cartório juntamente com empregadas deixar registrado agressões sofridas em 23 de outubro do ano passado. Esse dia, segundo Michella, marca o momento em que ele também passou a agredi-la fisicamente na frente dos outros. Em ocasiões anteriores, ele já a ofendia diante dos outros, mas batia apenas quando os dois estavam a sós.  "Declarou que embora ele sempre se descontrolasse apenas quando estavam a sós e no ambiente do quarto para não deixar vestígios e testemunhas e que este nunca havia perdido o controle de agredi-la fisicamente em frente a amigos ou empregados, mas que já a tinha xingado de algumas coisas em frente de alguns empregados, inclusive estas três afirmaram que o viam constantemente tratando a declarante com ignorância e de forma muito grossa", diz trecho da ata notarial. "A solicitante afirmou que teve medo de ir à delegacia, pois, além de não querer terminar com o casamento, sempre foi dependente financeiro e emocionalmente do marido, e também tinha medo da repercussão, já que ele era pessoa reconhecida internacionalmente e dizia", acrescentou trecho da ata.

(...)
'CAGA-RAIVA'
Um dos áudios gravados é com uma psicóloga que atendeu um de seus filhos. Michella conta à profissional:  — Quando ele era pequeno, ele tinha o apelido de "caga-raiva". E na adolescência também. Então ele batia muito nos meninos da escola, que era onde desafogava essa raiva. Com o tempo, o que aconteceu? Ele veio aqui para Brasília, foi fazer direito, foi ser um advogado famoso. Ele podia descontar essa raiva na rua com os amigos? Não podia. A fama dele de advogado não ia funcionar. Então ele desconta em mim esse "caga-raiva" dele que ele fazia com as crianças.

No áudio intitulado "ele me bate no início e ainda coloco para gravar ele fazendo essa agressão, dá para perceber no tom de voz o gesto", Roberto chama a mulher de "filha da puta" e "vagabunda". Diz ainda que a casa do casal é dos filhos dele. E que, se Michella quiser, ela que saia. Numa outra gravação, ela tenta registrar uma agressão que teria acabado de acontecer. Ele teria batido nela com o controle remoto da TV. — Olha aqui o vermelho que está no meu braço da controlada que você deu. Quem não vai dormir aqui é você porque quem me bateu foi você. Não me chama de vaca não.

Num outro episódio, Roberto diz que sairá no dia seguinte e ameaça tirar a guarda dos filhos da mãe:
— Amanhã, eu saio de casa e tiro a guarda dos meninos.