Advogados do ex-presidente se
desentendem na estratégia de tentar colocá-lo nas ruas a tempo de fazer
campanha
[maravilhoso que a defesa do presidiário Lula continue batendo cabeça;
enquanto os defensores buscam os holofotes o condenado vai puxando cadeia.]
Em agosto
do ano passado, um grupo de jurisconsultos liderado pela professora Carol
Proner, da PUC-RJ (que nas horas vagas namora Chico Buarque), lançou o livro Comentários
a uma sentença anunciada — O processo Lula, no qual uma centena de
advogados e juristas criticavam a condenação do juiz Sergio Moro no caso do
tríplex do Guarujá.
A advogada Valeska Teixeira repete discurso de Lula de perseguição
política e rejeita a possibilidade de concessão de prisão domiciliar ao
ex-presidente (Foto: Reprodução)
A ideia
da publicação era jogar luz em pontos polêmicos do processo que culminou na
prisão do ex-presidente. Quando o livro estava para ficar pronto, os advogados
de Lula — Cristiano Zanin e sua mulher, Valeska Teixeira — começaram a chiar.
Não haviam sido consultados sobre a iniciativa, não foram chamados para revisar
ou opinar sobre o livro nem tampouco palpitaram sobre a importância do
documento para a estratégia jurídica. A presença de Lula no lançamento da obra
em São Paulo — que já estava confirmada — foi suspensa na última hora. Na tarde
da terça-feira 26, um petista relembrou o caso: “Eles trabalharam muito nos
bastidores contra o livro. Foi feito por gente que não ia ganhar nada, queriam
apenas denunciar a injustiça com elementos jurídicos”, disse. “A confusão foi
só ciúmes.”
Entrevista coletiva dos advogados de Lula após a condenação por Moro. O
painel com a inscrição Teixeira Martins rendeu críticas por busca de
autopromoção inadequada (Foto: DÉBORA ELY/AGÊNCIA RBS)
Naquele
mesmo dia, o mais recente entrevero envolvendo advogados de Lula havia vindo à
tona. Na semana anterior, o advogado Sepúlveda Pertence, ex-ministro do STF,
que também integra a equipe de defesa, havia entregado um memorial a ministros
do Supremo, pedindo a prisão domiciliar do ex-presidente. Em uma nota,
Cristiano Zanin — que é par de Pertence na defesa — desmentiu o colega em
público. “A defesa não apresentou ao STF ou a qualquer outro Tribunal pedido de
prisão domiciliar”, escreveu. Ao ver a nota, como era de imaginar, Pertence
ameaçou deixar o caso. Sentiu-se desrespeitado, exposto, ultrajado.
Havia
apresentado o memorial depois de receber a sinalização de um ministro da Corte
de que o melhor caminho para Lula sair da cadeia seria entrar com um pedido de
domiciliar. Como um amigo contou, “ao ter esse sinal, Pertence foi trabalhar.
Fez o que se espera de um advogado que tem o cliente preso”. Do outro lado,
Zanin dizia a pessoas próximas que não havia sido consultado sobre a ideia. [por óbvio , o tal ministro 'sinalizador' agiu da mesma forma que o ex-procurador Miller no caso JBS e merece ser investigado e devidamente processado.]
Pertence
apresentou pedido ao STF de que fosse concedida a prisão domiciliar a Lula,
após sinalização de que poderia ter sucesso na estratégia. Surpreendido, Zanin
enfureceu-se
Quando
colunas de notas políticas passaram a publicar que Lula dizia não querer o
benefício, o caos se instalou. A falta de comunicação, de alinhamento e de
estratégia comum da defesa ficou patente. Pertence se fechou em copas e passou
a considerar seriamente pular fora do barco. Tem ouvido de interlocutores de
Lula que seria uma péssima ideia abandonar um cliente preso, sobretudo um
cliente para o qual trabalha pro bono (de graça) e com o qual tem uma
amizade de décadas. Ele responde dizendo que, aos 80 anos, com a biografia que
tem, não precisa mais passar por certas situações.