É impossível qualquer brasileiro
medianamente informado não se sentir envergonhado diante de dois
anúncios que se tornaram públicos na última semana.
O governo dos
Estados Unidos e autoridades da União Europeia aconselharam seus
cidadãos, particularmente as mulheres grávidas, a não virem para o
Brasil e para a América Latina. Isso porque, pisar em solo latino
americano, em particular em terras brasileiras, significa expor-se ao
Aedes aegypti, o conhecidíssimo mosquito da dengue, da zika e da
chicunkunya. No caso do Brasil a decisão de americanos e europeus revela
com incrível nitidez o alto preço que pagamos por admitir uma forma de
fazer política que favorece o aparelhamento do Estado.
Quando o
desenfreado empreguismo político se sobrepõe às competências técnicas e o
patrimonialismo fala mais alto do que o investimento social,
invariavelmente chegamos a uma situação como a que vivemos agora: falta
uma política de saúde pública que priorize a prevenção, não há
competência para mobilizar a sociedade com o comprometimento necessário
para encarar a epidemia e o volume de recursos destinados às pesquisas é
inversamente proporcional aos bilionários dutos da corrupção que se
multiplicam por aqui.
Há décadas sabemos que no verão há a
explosão populacional do Aedes. Há décadas sabemos quais as regiões
serão as mais atingidas. Mas, nossas bem remuneradas autoridades,
principalmente as que ocupam postos federais, parecem ignorar esse
zunido. Uma omissão que acabou não só produzindo estatísticas cada vez
mais alarmantes, como permitindo a geração de um supermosquito, vetor de
vírus cuja ação no organismo ainda não é totalmente conhecida e a cada
dia se mostra mais grave e até mortal. Tem razão a comunidade científica
em espernear. Parece inacreditável, mas em 2016 estamos perdendo a
guerra para um mosquito e sequer temos como definir com precisão qual a
consequência disso, embora não seja exagero dizer que em poucos anos
haverá um enorme número de brasileiros portadores de problemas mentais e
necessidades especiais em razão da microcefalia.
Não se trata de falta de recursos. Pelo
contrário, há dinheiro para derrotar o mosquito. O que falta são
projetos sérios, elaborados por técnicos competentes e vontade política
para encarar a questão de frente. Apenas projetos de poder não conseguem
mudar essa realidade e os que temos a nossa disposição são tão tímidos e
sórdidos, que acabam derrotados por um mosquito. Na quinta-feira, a
presidente Dilma se reuniu com diversos ministros e anunciou medidas que
talvez tenham chegado tarde demais.
Fonte: Editorial - Isto É - Mário Simas Filho, Diretor de Redação