Proposta feita pelo ministro da Defesa, Raul Jungmann, é reunir representantes do Judiciário, do Ministério Público Federal e da PF para enfrentar a criminalidade
Na última semana, ao mesmo tempo em que a cidade sediava um dos maiores festivais de rock do planeta, a guerra do tráfico na Rocinha exibia para o mundo o lado B do Rio. O pesadelo começou na madrugada do dia 17, quando um “bonde” formado por cerca de cem bandidos invadiu o morro para tomar o controle da venda de drogas das mãos do traficante Rogério 157. A ação teria sido ordenada por Antônio Francisco Lopes, o Nem da Rocinha, de dentro de um presídio federal em Porto Velho, Rondônia, depois de um racha na facção criminosa que domina a favela. Os dias que se seguiram foram de terror. Pelo menos sete mortos, intensos tiroteios a qualquer hora do dia ou da noite, crianças e jovens sem aulas, comércio fechado, ruas interditadas, itinerários de ônibus alterados, medo generalizado, enfim, o caos.A guerra parece longe de acabar. Por enquanto, a comunidade está ocupada pelas polícias e cercada por quase mil soldados das Forças Armadas, que não têm prazo para deixar o morro. E, mesmo quando as forças de segurança se retirarem, moradores continuarão vivendo numa espécie de estado de exceção, apesar da existência de uma UPP na favela desde 2012. Traficantes detêm não só o controle do território, mas também de serviços essenciais, como a venda de gás aos moradores.
O que acontece na Rocinha é só mais um capítulo do trágico prontuário da violência no Rio. Mas serve para expor as muitas deficiências da política de segurança do estado. Ao menos um desses problemas — a falta de integração entre os diversos órgãos — parece ter sido contornado, como atestam as ações conjuntas em andamento.
Força-tarefa para combater corrupção, praticada por bandidos de colarinho branco (que são assassinos quando roubam recursos para a Saúde, recebem obras de engenharia fora dos padrões de segurança, mas, são inofensivos no cronfronto direto, no combate) que deixem rastros nas operações bancárias, documentos e outros meios de prova é uma coisa.
Enfrentar a corrupção de dentro de gabinete, atrás de um computador - atividade que muitos promotores executam e estão certos, já que a função principal deles não é o embate com bandidos - é fácil;
mas, o combate ao tráfico exige ações de inteligência, um pouco de burocracia mas se elimina o tráfico no combate, no confronto, na bala.
Essa força-tarefa vai atrasar o combate ao tráfico.
O certo são operações conjuntas das Forças Armadas, PF, PM, PRF, Polícia Civil, ações de cerco e asfixia. O resto é enrolação.]
Não se sabe exatamente o tamanho do problema, mas pode-se ter uma ideia. Durante a Operação Calabar, em junho deste ano, quase cem PMs do quartel de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, foram acusados de receber propina de traficantes para não reprimir a venda de drogas na região. Escutas telefônicas feitas com autorização da Justiça revelaram fatos estarrecedores. Num dos diálogos, traficantes diziam estar sem dinheiro para o pagamento, e policiais sugeriam que eles roubassem carros para se capitalizar. Para que a violência no Rio seja enfrentada de fato, é preciso que as autoridades atuem em todas as frentes. E a força-tarefa será um passo importante, porque permitirá agilizar decisões. No mínimo, tornará mais eficiente o trabalho da polícia.
Fonte: Editorial - O Globo