J.R. Guzzo
Existência do ‘consórcio da imprensa’ é a negação do jornalismo e a vitória do conformismo de rebanho
A impressão é que o sonho de
muito jornalista brasileiro é trabalhar num grande Pravda nacional, com
redação única e Lula na cadeira de redator-chefe [entre as centenas de erros cometidos pelo tal consórcio, está o de muitas vezes apresentar como atuais dados já veiculados em prazo superior as 24h.]
Andrys/PixabayDiariamente, veículos da imprensa brasileira se juntam para divulgar os mesmos dados a respeito da Covid-19
Parece
destinada em breve ao cemitério, por falência progressiva dos motivos
que tinha para manter-se viva, uma das piores ideias que a imprensa brasileira já teve em seus duzentos e poucos anos de existência. Com a diminuição dos casos de Covid-19, e o seu desaparecimento das manchetes e do horário nobre da televisão, pode
estar caindo em exercício findo, como se diz em português de
funcionário público, o “consórcio” dos principais veículos da mídia
brasileira para divulgar em conjunto os mesmos números diários sobre
mortos na epidemia. Virou uma coisa de religião. Só esses
números, segundo os jornalistas, são (ou eram) a verdade, o caminho e a
luz. Ficou a cargo do “consórcio”, desde o dia em que foi criado, o
direito exclusivo de dizer quantas pessoas tinham morrido na véspera –
nenhum outro poderia ser admitido, sob pena de incentivo ao genocídio e
sabe lá quanta desgraça ainda pior. Não haveria mais perigo, a partir
daí, de que “o Bolsonaro”
inventasse números e acabasse, em sua estratégia de “desinformação”,
com os objetos de desejo mais intensos que a imprensa brasileira já teve
em tempos modernos: o “fique em casa”, a máscara e o uso do álcool em
gel.
Durante meses a fio, ou até mais, era
o momento do dia mais empolgante para muito jornalista deste país: a
hora de fechar os mortos da edição com o número sagrado que baixava do
“consórcio”. Quanto mais alto o número, maior a alegria nas redações,
secreta ou sem disfarce. “Yesssss!”,
exultava-se intimamente, a cada vez que os números produzidos pelo
“consórcio” batiam recordes – diários, mensais, quinzenais, nos dias
ímpares, nos dias de chuva, nas vésperas de feriados, nos dias santos e
por aí afora. Era sinal, então, que a Covid
continuava à toda. Isso, no tumulto mental de muito comunicador, iria
enfraquecer o governo Bolsonaro, apressar o fim do capitalismo e dar um
impulso decisivo nas lutas pela diversidade, por mais terras para os
índios e contra o aquecimento global. [a propósito lembramos que jornalistas famosos, ou que se consideravam importantes, além do prazer obtido com os recordes no número de mortos (a possibilidade de orgasmos virtuais não pode ser descartada) que justificativa até o encerramento do 'velório' noticioso, na penumbra mortuária) ainda - padecem dos malefícios de tentar 'derrubar' o capitão, tarefa impossível, por se basear em crimes que não ocorreram. Só que de tão azarados, tudo conspira contra eles. Vejamos:
- tentaram a covid-19, fracassaram, se tornaram ridículos e levaram ao descrédito o veículo que servem;
- tentaram atribuir ao capitão o genocídio só que faltaram os cadáveres;
- tentaram criar a crise hídrica e "deram com os burros n' água" - graças a DEUS e a São Pedro as chuvas são fartas;
- tentaram o 'apagão energético' - tipo o ocorrido no incompetente governo do ex-presidente sociólogo - fracassaram.
Mesmo assim, tentaram a narrativa dos incêndios no 'pantanal' e outras florestas = coisa que só a mídia militante pode tentar criar: incêndios em áreas encharcadas - consequência das abundantes chuvas.]
Onde foi parar a vontade de competir e de dar matéria melhor que a do competidor?
Foi um momento de ruptura violenta
com a vida inteligente, mas, até aí, tudo mais ou menos bem – são coisas
que acontecem e depois, com o passar do tempo, se dissolvem em sua
própria mediocridade orgânica. O que chama a atenção no “consórcio de
mídia” é a brutalidade do equívoco profissional cometido por quem
imaginou e criou esta deformidade. É simples. O consórcio é a própria negação da ideia mais elementar do jornalismo independente: a capacidade, por parte de cada órgão de imprensa, de apurar, escrever e publicar as notícias que julga de interesse para o público, sem consulta aos vizinhos, sem a sua licença e sem a interferência de ninguém. Não deveria ter existido, em nenhuma circunstância – até por uma questão mínima de amor próprio.
Os editores, nesse episódio, não
apenas levaram os veículos a abrir mão do principal patrimônio que podem
ter: a sua identidade como órgão de fé pública. Nessa condição,
espera-se que um jornalista não renuncie à sua liberdade de publicar o
que acha correto para os leitores, ouvintes ou espectadores – e que
assuma a responsabilidade plena pelo que está publicando.
Os criadores
do “consórcio” deram, além disso, uma demonstração de vacilo
profissional.
Por que pedir ajuda ao concorrente para publicar uma
notícia?
Será que a gente não tem competência para apurar as nossas
próprias informações?
Onde foi parar a vontade de competir e de dar matéria melhor que a do competidor?
É a vitória do conformismo de rebanho
– o importante é obedecer a ordens, ser igual ao colega, aceitar,
colocar “limites” na liberdade individual, seguir um comando político.
Disso não sai nada que preste. Só um Saara mental – um deserto sem
sombra, sem vida e sem alegria.
Não adianta nada, obviamente, dizer
que cada órgão de imprensa tem um representante no “consórcio”. Por que
diabo, então, o representante não entrega ao seu próprio veículo o que
está entregando ao “consórcio”?
A partir daí, cada veículo que cuide da
sua vida e trate de fazer mais e melhor que a concorrência.
Se é para o
sujeito colaborar com o conjunto e doar a todos os outros membros do
“consórcio” a sua informação, em vez de levá-la ao lugar onde ele
próprio trabalha, por que tanto jornal, rádio ou emissora de televisão
assim?
Por que quando cai um avião, por exemplo, não se junta todo mundo
para dar o mesmo número de mortos e feridos?
Vidas são vidas, é o que a
mídia diz sem parar há quase dois anos.
Morto de desastre de avião
seria menos importante, então, que morto de Covid? [o nexo está que o consórcio foi criado em uma tentativa infrutífera de derrubar o presidente da República Federativa do Brasil - JAIR MESSIAS BOLSONARO.]
Não faz nexo. É uma
busca inédita, insaciável e irracional pelo coletivo; a impressão é que o sonho de muito jornalista brasileiro é trabalhar num grande Pravda nacional, com redação única, Lula na cadeira de redator-chefe e nenhum outro veículo em circulação.
Seria difícil, tempos atrás, acreditar que um jornalista poderia se tornar um defensor da proibição de dar notícia
É a mesma coisa, ou uma ideia ainda
pior, com as “agências de verificação” que se dedicam a verificar aquilo
que os seus donos consideram “notícias falsas”, ou fake news.
São os censores de 2021 – uma criação não da autoridade pública nos
regimes de força, como sempre é o caso nos mecanismos de censura, mas
dos próprios jornalistas. Seria difícil, tempos atrás, acreditar que um
jornalista profissional pudesse se tornar um defensor extremado da
proibição de dar notícia – ou do castigo, inclusive penal, para quem
publicar notícias proibidas pelas “agências”. Mas é isso, exatamente, o
que aconteceu. Grupos particulares, sem identidade jurídica ou fiscal,
sem diretores legais ou endereço, deram a si próprios o direito de dizer
o que é verdade e o que é mentira em tudo o que a mídia publica ou pode
publicar. É claro que têm um viés político, e mais claro ainda que viés
é esse: não há uma única agência de fake news
fazendo vigilância sobre notícias falsas contra o governo federal, por
exemplo. Todas, sem exceção, variam da esquerda para a esquerda.
“Falso”, naturalmente, é tudo aquilo que o grupo não quer que seja
publicado.
Ao se associarem às “agências de
verificação”, os órgãos de imprensa, mais uma vez, estão entregando a
terceiros uma parte essencial de sua alma: definir sem interferência de
ninguém o que é correto e, portanto, passível de publicação. Um
veículo de respeito está aí para isso: apurar as suas próprias
informações, publicar o que considera fiel aos fatos e assumir a
responsabilidade pelo que publicou. “Se saiu impresso, ou foi
ao ar, é porque nós fizemos o nosso trabalho, verificamos exatamente o
que aconteceu e garantimos que isso aqui é verdade. É por esse motivo
que o público paga para ter acesso ao que nós publicamos. É esse o nosso
trabalho. Não é o governo, nem uma empresa, nem uma entidade qualquer,
seja qual for, que está nos instruindo ou autorizando a dizer isso ou
aquilo; somos nós mesmos.”
Um órgão de imprensa de verdade não
precisa de agência de fake news – faz o seu trabalho de verificação por
conta própria, e o selo de qualidade de suas informações não tem de ser
dado por ninguém, a não ser por ele mesmo. Também não faz o papel de
polícia do conteúdo alheio, e nem terceiriza a própria credibilidade. Se
essa ou aquela notícia não sai, é porque os jornalistas deste ou
daquele veículo constataram que ela não é verdadeira; não é porque a
“agência de verificação” não deixou. Não dá para entregar a outros, para
quem está interessado em fazer jornalismo a sério, a tarefa de apurar
nada do que é publicado. Ou você é responsável por tudo o que publica,
ou não é. Não há meio termo.
J. R. Guzzo, jornalista - coluna na Jovem Pan
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.