O Globo
Fidelidade a posteriori não é garantida. Nem aqui, nem em democracia alguma
A dúvida básica quanto à escolha de um novo ministro do Supremo é sobre sua fidelidade.
Ele ou ela será fiel ao partido, à ideologia, à própria pessoa do presidente da República que lhe indicou?
E aos senadores que aprovaram?
Ou lhes será independente?
[o ideal é a imparcialidade, a independência, julgar conforme as leis e a sua consciência, cuidando de que em nome da independência e imparcialidade porém não se deixe levar pelos 'auditores' - mídia, opositores, invejosos, etc - e esteja sempre contra o presidente. A vitaliciedade precisa acabar - os que tem votos não são vitalícios, - não podem nem devem ser, é sem sentido que os indicados - muitas vezes por uma função que exerceram de forma conveniente ao presidente indicador - testados em uma sabatina formal, apenas para cumprir tabela sejam vitalícios.
Com um detalhe: mandato de dez anos, sem direito a recondução, ou até completar 70 anos.
Os 75 anos como teto tem complicado bastante.]
Hoje a Presidência e alguns senadores precisam, por exemplo, de um ministro da Justiça litigante a seu favor, inclusive nos autos. O Supremo será decisivo. O que é pouco usual. Precisam que a Procuradoria-Geral da República acate suas teses. Precisam parar forças-tarefas contra a corrupção. Precisam parar ou adiar processos onde são investigados os denunciados. Precisam libertar testemunhas incômodas e atualmente na cadeia. Precisam de órgãos de controle que controlem sem lhes causar danos. Ou que controlem apenas seletiva e vagarosamente. Precisam dificultar e submeter a Polícia Federal. Precisam lhe trocar a pauta. Que investiguem e prendam outros. Mas não os seus.
Precisam de congressistas para reforçar sua base evangélica, por exemplo. Precisam mais da fidelidade agora, ex-ante. Do que depois, ex-post. Mesmo porque a fidelidade a posteriori não é garantida. Nem aqui, nem em democracia alguma. A independência do cargo pode ter mais peso do que a fidelidade pessoal. Às vezes demora. Mas presidentes passam, e ministros permanecem. PT que o diga, diante da independência de Joaquim Barbosa, Ayres Britto, Cezar Peluso e outros durante o mensalão. O regime militar que o diga, diante do desassombro de Adaucto Lúcio Cardoso, conforme narra Felipe Recondo em seu livro “Tanques e togas: O STF e a ditadura militar”. Dilma Rousseff que o diga, diante do atuante Luís Roberto Barroso.
Possivelmente, o presidente da República controlará a ambição dos candidatos até o dia que forem aceitos. São muitas as ambições.
O sucesso desta estratégia de indicação será fazê-los competir agora. Por palavras, atos ou omissões.
Joaquim Falcão, professor titular da FGV/RJ - O Globo