Certamente uma das maiores deficiências e fraquezas do ser humano está em não conseguir ter a percepção necessária de que está sendo usado e enganado por alguém. Esse “crença” enganosa pode ter um alto custo. O Presidente Jair Bolsonaro festejou muito na época a saída do seu inimigo político “feroz”, Eduardo Cunha, do MDB, da Presidência da Câmara dos Deputados, por intermédio da cassação do seu mandato, em 7 de julho de 2016, quando ainda era um dos candidatos à presidência da República e oposição mais representativa à esquerda, ao PT, e a “lula & Companhia”.
E todos devem estar lembrados que Bolsonaro também festejou a eleição do deputado federal Rodrigo Maia, em 14 de julho de 2016, para suceder Eduardo Cunha, passando a ser o novo presidente da Câmara,o qual, tendo sido reeleito, esteve à frente da presidência da Câmara até 1 de fevereiro de 2021, invariavelmente “sacaneando” o Governo do Presidente Bolsonaro para ninguém botar defeito.
Mas como esse antigo “festejado” passou também a integrar o rol de adversários políticos de Bolsonaro, como antes também fora Eduardo Cunha, a eleição do novo Presidente da Câmara, em 1 de fevereiro de 2021, Arthur Lira, do PP, sucedendo Maia, mais uma vez foi comemorada por Bolsonaro, igual às duas vezes anteriores, com Eduardo Cunha e Rodrigo Maia. Ao que consta, inclusive o “capitão” teria sido o fiel da balança para a eleição de Lira. E desde a eleição de Lira para a presidência da Câmara, a “lua-de-mel” entre Sua Excelência e o Presidente tem sido capaz de causar inveja a qualquer casal apaixonado.
Mas será que Arthur Lira não teria cruzado os dedos de uma das mãos quando prometeu a Bolsonaro “vitória” na votação da PEC 135/19,do votos impresso, a partir das urnas eletrônicas, e auditáveis a qualquer momento? De cruzar esses dois dedos da mão,fazendo uma interseção dos dedos “indicador” e “médio”?
Talvez a história dos “dedos cruzados” possa nos dar algumas pistas. Alguns garantem que essa história dos “dedos cruzados” teria começado pelos antigos pagãos do oeste europeu, bem antes do surgimento do cristianismo. A interseção dos dedos tinha um forte simbolismo para marcar a presença de bons espíritos e para “guardar” um desejo até que se tornasse real. Mais tarde começaram a colocar o próprio dedo indicador “cruzando” com o também dedo indicador de outra pessoa. Depois aboliram esse “empréstimo” de dedo de terceiro,colocando o próprio dedo indicador de uma mão sobre o dedo indicador da outra mão.
“Evoluindo” nos dedos cruzados,alguém teve a iniciativa de cruzar os dedos indicador e médio de uma só das mãos, costume que teria sido praticado durante a Guerra do Cem Anos, quando os soldados faziam esse sinal para caírem nas graças de Deus e terem sorte nas batalhas de que participavam. Mas algumas culturas optaram por usar a interseção dos dedos indicador e médio para mentir e amenizar a ira divina por esse “pecado”.
E se é verdade que ninguém poderá lançar a culpa sobre o fracasso da votação da PEC 135/19 no Presidente da Câmara, porque teria sido um simples resultado da “democracia” interna da Câmara,menos verdade não é que não se pode descartar a hipótese de que o esforço de Lira para aprovar a dita PEC não tenha passado de um “faz-de-conta”,que tenha prometido a Bolsonaro uma vitória que sabia muito difícil, por “culpa” da Câmara,não conseguindo,desse modo, retribuir ao Presidente o apoio recebido quando da sua campanha para a Presidência da Câmara.
Ou será que Lira prometeu a Bolsonaro apoio ao voto impresso com os “dedos cruzados”?
Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo