O deputado federal Daniel Silveira ao lado do presidente Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução Facebook
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A liminar de Moraes deve ser referendada pelo plenário do Supremo na sessão desta quarta-feira.[Caso o plenário do STF referende a prisão e a Câmara decida pela soltura do deputado - se cumpre a Constituição: o deputado é libertado? ou vale a decisão do Supremo? não prevista na CF.]
Conforme
previsto na Constituição, em caso de prisão em flagrante por crime
inafiançável, o processo deverá ser enviado dentro de 24 horas para a
Câmara, a quem caberá resolver sobre a detenção do deputado. Logo depois
de assinar a decisão, Moraes entrou em contato com o presidente da
Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), por telefone.
Segundo o Estadão
apurou, Lira tentou demover o ministro de determinar a prisão, mas
ouviu de Moraes o recado de que a decisão já estava tomada. Ainda que a
decisão tenha sido individual, o ministro conversou com os colegas de
STF ao longo do dia para definir a reação da Corte aos ataques do
parlamentar. A prisão de Silveira marca o primeiro desgaste entre
STF e Câmara desde que Lira assumiu o comando da Casa, há duas semanas.
Aliados do presidente da Câmara temem que a decisão leve a uma nova
crise entre o Judiciário e o Legislativo. Procurado pela reportagem,
Lira não respondeu.“Como sempre disse e acredito, a Câmara não
deve refletir a vontade ou a posição de um indivíduo, mas do coletivo de
seus colegiados, de suas instâncias e de sua vontade soberana, o
Plenário”, escreveu o presidente da Câmara em seu perfil no Twitter.
“Nesta
hora de grande apreensão, quero tranquilizar a todos e reiterar que
irei conduzir o atual episódio com serenidade e consciência de minhas
responsabilidades para com a Instituição e a Democracia. Para isso, irei
me guiar pela única bússola legítima no regime democrático, a
Constituição. E pelo único meio civilizado de exercício da democracia, o
diálogo e o respeito à opinião majoritária da Instituição que
represento”, acrescentou o presidente da Câmara.
A prisão do
deputado foi determinada no âmbito do inquérito sigiloso que apura
ameaças, ofensas e fake news disparadas contra ministros do Supremo e
seus familiares. O caso pode ser analisado pelo plenário do Supremo
nesta quarta-feira. Nas redes sociais, Silveira afirmou que a
Polícia Federal foi em sua residência para cumprir o mandado de prisão.
“Polícia federal na minha casa neste exato momento com ordem de prisão
expedida pelo ministro Alexandre de Moraes”, escreveu. Ele está sendo
conduzido para a Superintendência da Polícia Federal no Rio.
Silveira
também é investigado no inquérito que mira o financiamento e
organização de atos democráticos em Brasília. Em junho do ano passado,
ele foi alvo de buscas e apreensões pela Polícia Federal e teve o sigilo fiscal quebrado por decisão de Moraes. Em depoimento, o
parlamentar negou produzir ou repassar mensagens que incitassem
animosidade das Forças Armadas contra o Supremo ou seus ministros.
O
deputado está em seu primeiro mandato na Câmara. Ele que ficou
conhecido por destruir, durante a campanha, uma placa de rua que
homenageava a vereadora Marielle Franco, assassinada a tiros em março de
2018.
“A Constituição Federal não permite a propagação de ideias
contrárias a ordem constitucional e ao Estado Democrático (CF, artigos
5º, XLIV; 34, III e IV), nem tampouco a realização de manifestações nas
redes sociais visando o rompimento do Estado de Direito, com a extinção
das cláusulas pétreas constitucionais – Separação de Poderes (CF, artigo
60, §4º), com a consequente, instalação do arbítrio”, escreveu Moraes
ao mandar prender Silveira. “Imprescindível, portanto, medidas
enérgicas para impedir a perpetuação da atuação criminosa de parlamentar
visando lesar ou expor a perigo de lesão a independência dos Poderes
instituídos e ao Estado Democrático de Direito”, observou o ministro.
Em
uma decisão de oito páginas, Moraes destacou que a conduta do
parlamentar revela-se ‘gravíssima’, pois atenta contra o Estado
democrático de direito e suas instituições republicanas. “Relembre-se
que, considera-se em flagrante delito aquele que está cometendo a ação
penal, ou ainda acabou de cometê-la. Na presente hipótese, verifica-se
que o parlamentar Daniel Silveira, ao postar e permitir a divulgação do
referido vídeo, que repiso, permanece disponível nas redes sociais,
encontra-se em infração permanente e consequentemente em flagrante
delito, o que permite a consumação de sua prisão em flagrante”.
Discurso de ódio.Mais cedo,
Silveira publicou um vídeo nas redes atacando os ministros do Supremo. A
gravação foi divulgada após o ministro Edson Fachin classificar como
‘intolerável e inaceitável’ qualquer forma de pressão sobre o Poder
Judiciário. A manifestação do ministro foi dada após a revelação que um tuíte do ex-comandante do Exército, o general
Eduardo Villas Bôas,
feito em 2018 e interpretado como pressão para que o Supremo não
favorecesse o ex-presidente Lula, teria sido planejado com o Alto
Comando das Forças Armadas.
No vídeo, Silveira afirma que os onze
ministros do Supremo ‘não servem pra porra nenhuma pra esse país’, ‘não
têm caráter, nem escrúpulo nem moral’ e deveriam ser destituídos para a
nomeação de ‘onze novos ministros’. A única exceção que é elogiada é o
ministro Luiz Fux, a quem o deputado diz respeitar o conhecimento
jurídico, mas mesmo o presidente da Corte é incluído nas críticas
generalizadas aos integrantes do tribunal, chamados de ‘ignóbeis’.
“Fachin,
um conselho pra você. Vai lá e prende o Villas Bôas, rapidão, só pra
gente ver um negocinho, se tu não tem coragem. Porque tu não tem culhão
pra isso, principalmente o Barroso, que não tem mesmo. Na verdade ele
gosta do culhão roxo”, continuou o deputado. “Gilmar Mendes… Barroso, o
que é que ele gosta. Culhão roxo. Mas não tem culhão roxo. Fachin,
covarde. Gilmar Mendes… (o deputado faz gesto simulando dinheiro) é isso
que tu gosta né, Gilmarzão? A gente sabe”.
Silveira também afirma
na gravação que já imaginou o ministro Fachin ‘levando uma surra’,
assim como ‘todos os integrantes dessa Corte aí’.
“O que você vai
falar? Que eu tô fomentando a violência? Não, só imaginei. Ainda que eu
premeditasse, ainda assim não seria crime, você sabe que não seria
crime. Qualquer cidadão que conjecturar uma surra bem dada nessa sua
cara com um gato morto até ele miar, de preferência após a refeição, não
é crime”, afirmou. “Na minha opinião, vocês já deveriam ter sido
destituídos do posto de vocês e uma nova nomeação convocada e feita de
onze novos ministros. Vocês nunca mereceram estar aí. E vários que já
passaram também não mereceram. Vocês são intragáveis”.
AI-5.O deputado bolso
narista também mencionou o AI-5, o Ato Institucional mais
duro instituído pela repressão militar nos anos de chumbo, em 13 de
dezembro de 1968, ao revogar direitos fundamentais e delegar ao
presidente da República o direito de cassar mandatos de parlamentares,
intervir nos municípios e Estados. Também suspendeu quaisquer garantias
constitucionais, como o direito a habeas corpus, e instalou a censura
nos meios de comunicação. A partir da medida, a repressão do regime
militar recrudesceu.
“O AI-5, que é o mais duro de todos como
vocês insistem em dizer, aquele que cassou três ministros da Suprema
Corte, você lembra? Cassou senadores, deputados federais, estaduais… foi
uma depuração. com um recadinho muito claro: se fizer besteirinha, a
gente volta”, afirmou Silveira.