Lula
acaba de indicar ao TSE uma nova ministra substituta. Para felicidade
geral do governo, o notório saber e os dotes morais e intelectuais
necessários à importante missão foram encontrados praticamente dentro de
casa, na pessoa da advogada da campanha de Dilma para o Senado Federal
por Minas Gerais em 2022.
Eureka! Não é
muita sorte? Imagina se aparece alguém para divergir da confraria em
seu afã salvador da democracia, do estado de direito e da luta sem
trégua aos golpistas seresteiros, aos cantores de hinos e aos piedosos
devotos do divino réu julgado no Sinédrio de Jerusalém.
Há um
recorrente denominador comum em muitas, se não em todas, as
manifestações espontâneas, sentenças, decisões e despachos de efeito
político oriundos de nossos tribunais superiores.
Neles, é construído um
cenário psicossocial e político sinistro.
A democracia estaria a
perigo, um golpe em curso, terrorismo nas ruas, as instituições
expostas a toda sorte de conspirações, enquanto a verdade – límpida e
serena – proclamada pelo Estado, acuada e em perigo, apanha das mentiras
propagadas nas furtivas e ardilosas redes sociais.
Esse o
fictício denominador comum, encimado pelo travessão sobre o qual se
constroem decisões nas quais resulta impossível discernir o perfume do
bom Direito.
Em cotidianos tão excepcionais – que já contam cinco anos! –
é sempre mais relevante salvar a pátria, a democracia, o Estado, seus
poderes e suas sagradas proclamações...
Quem organiza
o jogo parece não ver que esse povoamento das arbitragens por atletas
ou ex-atletas do mesmo time está sendo percebido pela sociedade.
No
entanto, basta pensar um pouco para notar que se trata de outro sintoma
do mesmo problema que afeta o ambiente cultural e educacional do país.
Refiro-me à decretação da morte súbita de todo o conhecimento ou
entendimento divergente, venha ele de pessoas ou de obras.
A todos, o
silêncio eterno, a elegibilidade suspensa, o isolamento, o gulag das
restrições e o peso das multas.
Mas é tudo para nossa privilegiada
proteção, claro.
Modestamente,
penso que as próprias Cortes, cientes do desequilíbrio que caracteriza
suas composições, deveriam ter serenidade e ânimo pacificador.
Ao menos
na proporção que se empenham em impor à sociedade mediante sanções.
A
falta de qualquer divergência efetiva nos colegiados não é espelho da
sociedade onde a divergência existirá enquanto houver um fiapo de
liberdade e democracia por ser consequência da primeira e inerente à
segunda.
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores
(www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país.
Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia;
Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.