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domingo, 28 de agosto de 2022

Horário eleitoral é palco para comédia?

A criatividade, que chega a pregar peças inovadoras em termos de comunicação nas redes e canais virtuais, não me seduz tanto quanto a verdade dos fatos

(crédito: Reprodução/Agência Senado) 

 (crédito: Reprodução/Agência Senado)

 
Conheço poucas pessoas que se enlevam tanto com o humor quanto eu. A capacidade de rir em tempos estranhos como o que vivemos é uma forma de resistência. Adoro os memes, não tanto quanto os filmes antigos e as boas entrevistas, mas me divirto
Apesar disso, a comicidade no horário eleitoral e outras apelações, a meu ver, já deveriam ser coisa do passado. Pode até fazer rir, mas o ridículo perdeu a força. Espero graça maior.

 E, com tanto dinheiro em jogo e tantas necessidades reais, o uso do horário eleitoral para o besteirol é desserviço. Hoje, o bem mais precioso é a informação de qualidade.

Precisamos conhecer candidatos pelas suas propostas e, se eles têm pouco tempo no horário eleitoral, usem a criatividade para fazer chegar ao eleitor suas ideias. Risada não enche barriga, apesar de fazer bem. Pandemia, fome, destruição do meio ambiente, saúde em frangalhos, inflação em alta, escalada da violência. É muito problema para passarmos pano para políticos de aluguel, humoristas puxadores de voto para legendas corruptas.

(...)

Correio Braziliense - MATÉRIA COMPLETA 


quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

O desserviço que o candidato Meirelles presta



Não é concebível ministro da Fazenda misturar política partidária e candidatura própria com a missão de viabilizar reformas essenciais

São parte do perfil clássico de ministro da Fazenda e similar, em qualquer país do mundo, a discrição, o cultivo profissional do otimismo e uma distância profilática da política. Mesmo que seja deste ramo, precisará pautar a atuação de guardião do bom funcionamento da economia dentro do espaço do conhecimento técnico, o que não quer dizer que deva desprezar a sensibilidade para detectar a direção dos ventos no jogo do poder.

No caso de Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, professor universitário, ex-senador, o aspecto técnico foi atendido pela escalação de uma equipe de especialistas muito competentes, alguns já calejados com o fracasso do Cruzado, e que terminaram responsáveis pelo que parecia impossível: debelar, enfim, a inflação, com o Plano Real.
Um caso extremo de mau exercício do cargo, devido à contaminação pela política, foi o do lulopetista Guido Mantega. Economista, não conseguiu se distanciar da militância partidária, e se vê envolvido em inquéritos e processos em que é acusado de corrupção.

Já o ministro Henrique Meirelles vive outro tipo de experiência, mas também repleta de perigos — não só para seus próprios planos, mas principalmente para o país, porque, ao aspirar a ser candidato a presidente da República, Meirelles sabota, na prática, a sua missão principal, a de ajudar a viabilizar a aprovação da reforma da Previdência, além de outros projetos do ajuste. Cabe o registro, porém, do seu bom trabalho no posto e do alto nível da equipe que formou.

Um gesto de Meirelles em que ficou escancarada a intenção de se lançar ao Planalto foi o programa do PSD, no dia 21 de dezembro, em que apareceu com discurso de candidato em pré-campanha. Falou da sua vida de garoto humilde, de estudante de escola pública que chegou a ser presidente de um banco global. Meirelles, demonstrou o programa, deseja disputar o espaço do candidato de centro, entre os extremos populistas, de direita e esquerda, Bolsonaro e Lula. Especula-se que quem preencher este vazio terá grandes chances de vitória. Logo, o ministro tem vários concorrentes.

É legítima a intenção de Meirelles, que já havia sido eleito deputado federal em 2002, pelo PSDB de Goiás, mas aceitou o convite de Lula para presidir o Banco Central. A questão é a incompatibilidade indiscutível do trabalho de Meirelles na Fazenda e qualquer lançamento de candidatura, ainda mais para o Planalto. O ministro passa a ser visto como alvo por quem acalenta o mesmo projeto. Haverá quem pense que votar pela reforma da Previdência e por outras medidas do ajuste fiscal significará fortalecer o candidato. Será fatal para esses projetos.

Meirelles deveria primeiro cumprir a missão, que não é só dele, de aprovar as propostas, para só depois pensar na carreira política. Sem se esquecer da impossibilidade de repetir o feito de Fernando Henrique no governo Itamar. Ao contrário do Real, as mudanças causadas pela reforma da Previdência e outras propostas de ajuste só produzirão efeito no bolso do eleitor a médio ou longo prazos, não será de forma instantânea. Mesmo que tenha sucesso, o ministro continuará tão impopular quanto antes.

Editorial - O Globo