Vinicius Mota
No Brasil, presidente da República detém monopólio do megafone político
[caso citado monopólio ocorra é inerente ao cargo ocupado pelo detentor e conta com o respaldo de quase 60.000.000 de votos]
A política sob Jair Bolsonaro inovou em alguns aspectos. Ele é o
primeiro governante desde a redemocratização a abrir mão de costurar
maiorias estáveis no Congresso. Seu algoritmo corrosivo destruiu até
mesmo a legenda de aluguel pela qual foi eleito. Algumas coisas, entretanto, não se alteraram. Apesar de haver flancos para explorar, não se nota oposição ativa nem vocal. O cercadinho da besta autoritária que habita o Executivo está sendo
mantido por lideranças silenciosas da Câmara e do Senado, agentes de
controle dentro da máquina estatal e organizações da sociedade.
Submergiram todas as forças partidárias derrotadas na eleição passada e
também as que cogitam se alevantar na próxima. Lula na cadeia parecia
galvanizar mais o público do que solto. [o condenado petista, temporariamente em liberdade, na cadeia poderia despertar a alguns incautos (e a militontos) piedade;
já em liberdade, temporária, causa asco e expõe que nada mais lidera - ele mesmo, se tivesse oportunidade insistiria em permanecer encarcerado, mantendo o discurso infundado de que só aceitaria e liberdade se inocentado.
Falando em inocentado, a juíza Gabriela Hardt outorgou ao petista multiprocessado, e agora multicondenado, mais um diploma condenatório - devidamente referendado pelo TRF-4.] Doria descobre que a vida de
governador de São Paulo também pode ser dura.
Huck continua dissolvido
no caldeirão.
Ciro onde estará? [se preparando - a exemplo daquela candidata evangélica, sempre escalada para perder - para mais uma derrota.]
Já o destampatório diário de Bolsonaro perpassa tudo, mesmo sendo ele um
dos presidentes com menos poder, de fato e de direito, em 31 anos de
vigência desta Constituição. Menos, no entanto, não quer dizer pouco. No Brasil destas últimas três décadas, a fala, a prerrogativa de definir
a agenda política, tem sido monopólio de quem dirige o Palácio do
Planalto. Seus opositores vivem a pão e água e semimudos, à espera de
uma janela eleitoral ou de uma erupção nas ruas.
Essa é uma das razões a tornar tão custoso perder uma eleição por aqui. Algo a observar, a esse respeito, são as especulações de congressistas
para retirar o veto à reeleição dos presidentes do Senado e da Câmara.
Sem a amarra, eles poderiam comandar as suas Casas ao longo de todo o
mandato do presidente da República.
Nessa hipótese poderiam também disputar em melhores condições o megafone
da política nacional e desobstruir, ao menos em certas ocasiões, os
canais que condenam a oposição ao silêncio. [oposição aceitável é a inexistente;
se existe, tem que silenciada e cônscia que é insignificante.]
Vinicius Mota, colunista - Folha de S. Paulo