O desastre
ambiental em Brumadinho, três anos depois da tragédia ainda impune de Mariana,
coloca em xeque-mate a Vale S/A. Nos bastidores do Governo Bolsonaro, em que
Paulo Guedes vende mundialmente a grife de um Brasil mais liberal e menos
estatal, já se cogita uma reestatização da Vale. O mercado não deve descartar
tal hipótese – que ainda não foi pronunciada, publicamente, por nenhuma
autoridade.
No entanto,
vale destacar que o caso Vale é uma das aberrações do que chamamos de modelo
Capimunista tupiniquim. Na privataria tucanalha da Era FHC, a Vale foi tirada
do controle da União Federal, passando para a iniciativa privada. Certo? Mais
ou menos... No começo, ali reinou o Bradesco (braço visível de outros tentáculos
ocultos). Depois do estranho “acidente fatal” do executivo Roger Agnelli, na
Era Lula, a Vale teve seu controle acionário “subjugado” por uma aliança de
fundos de pensão dos empregados “estatais de economia mista” – manipulados pela
petralhada.
Na prática,
desde 2009, a Vale é controlada pela Litel – uma holding criada para reunir os
fundos Previ (Banco do Brasil), Petros (Petróleo) e Funcef (Caixa) para assumir
o controle da Valepar. O BNDESpar teria mais 11,% da holding da Vale.
Atualmente, a Litel, sozinha, teria 52,5% das ações da vela com direito a voto
(ordinárias). Juntando com a participação do BNDES, a esfera “paraestatal”
(chamemos assim) é quem dita as regras na empresa.
O assunto
merece uma análise cuidadosa dos analistas de mercado e dos militares que
recentemente conquistaram o poder em uma “intervenção pelo voto direto” (e,
supostamente, democrático, apesar da desconfiança da maioria da população no
processo eletrônico de totalização no Brasil). Na prática, a Vale segue
dominada, indiretamente, pela União Federal, acionista majoritárias das
“estatais” que patrocinam os fundos de pensão que “investem” na Vale. Isto é
Capimunismo – um Capitalismo de Estado carnavalesco ditado pela tecnocracia que
detém a hegemonia sobre os “tesouros” das estatais: seus fundos de pensão.
Piada
econômica mais sem graça que essa? Claro que temos... No dia 13 de novembro de
2015, a genial Presidanta Dilma Rousseff baixou o Decreto 8.572, alterando
o Decreto 5.113, de 22 de junho de 2014. Com a mudança o parágrafo único do
artigo 1º ganhou a criativa redação: “Para fins do disposto no inciso XVI do
caput do artigo 20 da Lei 8.036, de 11 de maio de 1990, considera-se também
como natural o desastre decorrente do rompimento ou colapso de barragens que
ocasione movimento de massa, com danos a unidades residenciais”.
Tal texto
só confirma que foi a Dilma, na Presidência, um verdadeiro desastre político e
ambiental para o Brasil e os brasileiros... Aliás, talvez não devamos ser tão
severos com a incompetenta que teve seus direitos políticos preservados
por manobra do supremo magistrado Ricardo Lewandowski, na sessão em que
presidiu o julgamento do impeachment. O “trabalho” de Dilma teve continuidade
na breve Era Michel Temer, e já se reza forte para que Bolsonaro interrompa o
cliclo de incompetência combinado com roubalheira.
“Acidentes
naturais (?)” como os de Mariana e Brumadinho (ambos em Minas Gerais) podem
ocorrer a qualquer momento. Um relatório de 2018 da Agência Nacional de Águas
(ANA) indica que existem 723 estruturas classificadas como de risco e dano
potencial altos. A ANA adverte que apenas 3% das barragens do País foram
vistoriadas pelos órgãos de fiscalização e segurança. Temos 24.092 barragens no
Brasil... Já passou da hora de os órgãos de fiscalização pararem de
brincadeiras e sacanagens, cuidando seriamente dos problemas reais.
A ANA
admite que o Brasil tem 45 barragens (de diferentes tipos) com risco de
rompimento. Pelo menos nove barragens de rejeitos de mineração oferecem alto
potencial para tragédias anunciadas, gerando perdas humanas e ambientais. Cinco
delas ficam em Minas Gerais: 4 em Rio Acima e uma em Ouro Preto. Um dique de
contenção em Itabirito também apresenta alto risco. As outras são Poconé (Mato
Grosso), Pedra Branca do Amapari (Amapá) e Lauro Muller (Santa Catarina).
Na
Vale, o
passivo moral e ambiental ficou altíssimo. Ações judiciais bloquearam R$
11 bilhões da Vale. A empresa levou uma multa de R$ 250 milhões do
Ibama. Tudo
deve ser pago à prestação, em 52 vezes... Ou nem vai ser pago...
Fatalmente, a
partir de segunda-feira, haverá grandes quedas na cotação das ações da
mineradora. Os prejuízos de acionistas nem podem ser comparados ao custo
humano
impagável de centenas de mortos. Tirar pessoas debaixo de rejeito de
minério é
complicadíssimo. Dificilmente, alguém sobrevive...
Alguém será
efetivamente punido pela “tragédia”, além dos familiares das vítimas?
Alguém vai
preso? Em Mariana, tudo está impune até agora. Brumadinho será um replay?
A Vale está de luto e desmoralizada. O
que acontecerá com a empresa que tem função estratégica para a economia do
Brasil? Reestatizar (de verdade) resolve?
E a pergunta que nunca quer calar:
Quando teremos mais um desastre (nada natural) no Brasil da incompetência e da
roubalheira?
Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net
Membro do Comitê Executivo do
Movimento Avança Brasil