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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Biden finge ser Churchill - Rodrigo Constantino

Gazeta do Povo

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

Não sou daqueles que consideram a ajuda ocidental a Zelensky na guerra contra a Ucrânia um equívoco. Sim, o teatro liderado pelo ator que virou presidente me incomoda pelo excesso de holofotes. Sim, consigo enxergar o jogo globalista nisso tudo.  Mas não, Putin não é a melhor alternativa, tampouco uma espécie de salvador dos valores cristãos. É um tirano psicopata que invadiu uma nação que, ainda com defeitos, pretende ser livre. Ficar indiferente nesse conflito conflagrado pelo regime russo é um erro, portanto.

Joe Biden é um presidente muito ruim, não resta dúvidas. Mas, gostemos ou não, ele é o líder do mundo livre, do Ocidente. Durante a Guerra Fria, Jimmy Carter já foi esse líder, e era péssimo também. Mas nem por isso ficaríamos indiferentes em relação aos soviéticos.

Logo, acho que cabe ao Ocidente contribuir na defesa ucraniana. A direita americana, em parte, condena a ajuda financeira do governo Biden e, acima de tudo, a questão das prioridades. 
O presidente ignorou o descarrilhamento do trem em Ohio e a consequente explosão tóxica, como tem ignorado a crise sem precedentes na fronteira do sul do país. 
São críticas legítimas, mas não anulam a importância de ajudar a Ucrânia.
 
Tal ajuda atende a três objetivos: 
1. deixar claro que invasão a países aliados terá graves consequências, para dissuadir pretensões imperialistas chinesas em Taiwan; 
2. desmantelar a força bélica russa, ainda um inimigo relevante na Guerra Fria 2.0 em curso; 
3. preservar o livre fluxo de comércio no mundo, já que a OTAN, sob a liderança americana, representa o xerife global.

Toda essa longa introdução é só para atestar que vejo vantagem na ajuda americana ao presidente Zelensky. Daí a aplaudir a visita de Biden ao país como algo histórico e corajoso vai uma longa distância, que separa os analistas dos militantes democratas. A mídia mainstream, um braço do Partido Democrata, vem tratando a ida de Biden como um ato histórico digno de JFK em Berlim ou Churchill na Segunda Guerra. Menos...

Biden demorou um ano para agendar essa ida, quando vários líderes ocidentais já pisaram em Kiev. O teatro foi forçado demais, com direito a um presidente de óculos escuros no estilo Maverick circulando pelas ruas quando, pasmem!, as sirenes de alerta de ataque dispararam. 
Até um repórter da CNN confessou que estava no país há cinco dias e foi a primeira vez que escutou a sirene. 
 Uma baita "coincidência" ser justo no momento em que Biden caminhava com Zelenesky!

O governo americano, ainda por cima, chegou a comunicar os russos da ida de Biden, para não produzir qualquer incidente entre os dois países. Imagine um ataque russo alvejar o presidente dos Estados Unidos! Seria a Terceira Guerra Mundial para valer, e ninguém quer isso.

 Logo, Biden fez de tudo para realizar uma viagem tranquila e segura, além de tardia. Ver heroísmo e excesso de coragem nisso é simplesmente absurdo.

No fundo, o presidente amarga taxas baixas de aprovação, ainda perto de 40%. A inflação segue elevada, a economia patina, a gestão é medíocre. A ida de Biden a Kiev neste momento mira basicamente o mercado político interno. Até porque aos olhos de Putin vai soar como provocação, e em algum momento o Ocidente terá de oferecer algo ao ditador russo para encerrar o conflito.

Biden não é o novo Winston Churchill, e a narrativa midiática que tenta produzir tal efeito é patética. Não obstante, a Ucrânia merece o apoio americano, mesmo com seus vários defeitos. E claro: todo escrutínio sobre o destino dos bilhões emprestados é necessário, pois sabemos se tratar de um país com muita corrupção e com elos suspeitos com a própria família Biden.

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES