Ante à impossibilidade de parar, chefe do Departamento de Educação e Cultura relata como o Exército se preparou para formar quadros
No Exército, a preocupação e os desafios não foram diferentes: como manter uma máquina educacional funcionando e formando jovens e militares de carreira sem que a qualidade ficasse comprometida. Nesta entrevista ao Correio, o chefe do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx), general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, salienta que, em todo o tempo, a máquina se manteve funcionando para que as soluções fossem encontradas –– mesmo porque, a Arma tem um compromisso permanente com a defesa do país e, portanto, não tem como interromper as atividades. “No que consiste às orientações do comandante do Exército, posso dizer que foram simples: preservar a família militar e manter a operacionalidade”, observa o general.
Para o chefe do DECEx, entre as adaptações realizadas, uma teve especial sucesso: a conjugação entre o ensino presencial e o virtual. O general, aliás, coloca-se à disposição para debater, com educadores e as redes de ensino privada e pública, o sucesso da experiência dos colégios militares durante a pandemia.
O tema do momento é a vacinação contra a covid-19. Há alguma previsão para quando a imunização será feita com os militares?
Isso
fará parte de uma diretriz nacional, que vai ser encampada pelo
Ministério da Saúde. Seguramente, temos um centro de operação de saúde
do Exército que trabalhou o tempo todo, foi montado pelo comandante do
Exército (Edson Pujol) para atender a todas as medidas sanitárias,
orientar para dentro da Força. À semelhança do que tem acontecido com as
outras vacinas, haverá prioridade para os profissionais da área de
saúde, pessoas idosas, com comorbidades e pessoas que não podem parar.
Seguiremos o faseamento determinado pelo ministério.
Mas, essa vacina será obrigatória ou ficará a critério de cada um?
Vai
depender da interpretação da lei. Hoje, a vacina não é obrigatória, mas
temos algumas que constam como regularmente aplicadas a todos aqueles
que incorporam. Outras não –– vai depender da interpretação. Mas, aqui é
diferente, pois cumprimos ordens. Quando o camarada entra na escola
militar, e se tem um programa de vacinação, vamos vacinar todo mundo. O
cara está constantemente em risco, é diferente. Quando se entra para a
junta militar, há o cuidado e, a depender da missão, toma-se uma bateria
de vacinas. Quando fui para o Haiti, por exemplo, tomei sete vacinas no
mesmo dia.
Nada muda?
Absolutamente nada,
porque o serviço continua e é essencial. Uma coisa tenho certeza: o ano
que vem será melhor do que este ano. Porque já temos a expertise. Se
conseguimos não parar neste ano, no ano que vem é que não iremos parar
mesmo. Temos todas as condições, convicções de que o sistema tem plena
condição de funcionar em segurança. Ainda mais com as vacinas que virão.
E elas virão, é uma questão de decisão. E, nós estamos totalmente fora
de qualquer contexto de discussão política.
Quais os principais esquemas montados para garantir a continuidade das escolas de formação durante a pandemia?
O
sistema de educação e cultura do Exército é complexo. Envolve uma
educação customizada, profissional, voltada para a formação de quadros,
além de uma parte assistencial, dos colégios militares. A maior parte é
voltada para proporcionar a formação, qualificação necessária para que
os camaradas desenvolvam as habilidades e preencham os quadros, o que
está diretamente envolvido com a operacionalidade da Força. Neste ano,
temos cerca de 42 mil alunos passando pelo sistema, sendo 39 mil
presenciais. Quando a pandemia chegou, o alto comando recebeu
orientações do comandante do Exército e diretrizes também do ministro da
Defesa (Fernando Azevedo e Silva). No que consiste às orientações do
comandante do Exército, posso dizer que foram simples: preservar a
família militar e manter a operacionalidade. Dentro da operacionalidade
da Força, temos um compromisso em continuar formando, já que somos uma
atividade essencial. Esse é o caso das academias militares, escolas de
formação de sargentos, curso de formação de oficiais médicos, por
exemplo. Todo esse pessoal, já do quadro militar, estava sujeito, em
caso de necessidade, a ser utilizado. Desde o começo, a nossa intenção —
de acordo com as diretrizes do comandante do Exército e que virou uma
diretriz minha para o sistema — era a de não parar, tomar as medidas
sanitárias para que a gente pudesse permitir prosseguimento das
atividades.
Quais foram as principais preocupações?
Me
preocupava especialmente com os cerca de 4,5 mil militares que estavam
no sistema de internato. Esse pessoal não parou. Tivemos uma série de
adaptações, flexibilizações e um acompanhamento sanitário muito
acirrado. As pessoas tiveram muita responsabilidade, os alunos tiveram
muita compreensão. No momento inicial, em março, optamos por mantê-los
mais reclusos para protegê-los. Isso nos permitiu até mesmo um
adiantamento de conteúdos presenciais, em acordo com os alunos. A
residência do interno é a escola. Por esses fatores, e também porque
tínhamos problemas com transportes, ele passou praticamente dois meses
internado.
Depois disso, começamos a fazer saídas restritas para que
os internos pudessem visitar familiares, fazer compras básicas.
Permitimos saídas controladas e cuidando, monitorando muito
acirradamente. Foi preciso mudar procedimentos. No primeiro semestre,
diminuímos as atividades de campo mais intensas, conseguimos fazer tudo
com cuidado. E, à medida que a pandemia foi passando, fomos alterando
medidas e flexibilizando de local para local. Desta forma, no segundo
semestre, começamos a ver que dava para fazer as atividades mais
intensas. Essa experiência de preparo foi uma experiência exitosa e
apresentá-la à sociedade é uma forma de mostrar que é possível manter
atividade de educação presencial com cuidado.
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