Convém prestar atenção no quadro de filiações dos partidos políticos
daqui até abril, quando termina o prazo para um cidadão estar filiado e
apto a concorrer a cargo eletivo no ano que vem. Sobretudo nas listas do
PSL e de outros partidos de direita e de centro-direita que apoiam o
presidente. Jair Bolsonaro já mandou avisar a líderes partidários do Rio
que vai lançar militares, principalmente oficiais, como candidatos a
prefeito em algumas cidades do interior do estado.
Além do quadro de filiações dos partidos, outra pista é o Almanaque do
Exército. Por este documento sabe-se quem foi promovido, levou carona ou
se recolheu para a reserva. Todas as movimentações da Força são
anotadas ali. Marinha e Aeronáutica têm almanaques semelhantes. Deles
pode-se depreender nomes de prováveis candidatos. O TSE já definiu, em
sessão plenária de fevereiro do ano passado, respondendo a consulta do
então deputado Bolsonaro, que militar deve estar desincompatibilizado no
momento em que sua candidatura for requerida. O presidente quer mudar o perfil da administração pública, a partir das
eleições municipais, pela via do voto. Diversos municípios do estado já
estão sendo mapeados para se saber onde cabem candidaturas militares.
Por ora, apenas um deles é questão de honra. Trata-se de Duque de
Caxias, cidade que leva o nome do patrono do Exército. Virou uma
obsessão de Bolsonaro eleger um general para comandar a cidade.
Além de oficiais e praças das três Forças Armadas, o presidente quer
aproveitar também PMs que tenham destacada liderança para disputar as
eleições municipais. O Estado do Rio serviria como um laboratório para
medir chances e possibilidades de candidaturas fardadas. A capital por
ora não entrou no cálculo político de Bolsonaro. Mas nada impede que ela
também vire um objetivo. Isso vai depender dos índices de aprovação do
presidente no início do ano que vem. As chances de Bolsonaro ter êxito neste momento não são lá essas coisas.
Ele está desgastado pelas inúmeras bobagens que produziu ou que foram
produzidas por seus filhos e alguns dos seus ministros. Mas a hipótese
do quadro mudar tampouco é pequena. Se o governo conseguir aprovar o
pacote anticrime e a reforma da Previdência, o presidente se cacifa até
para extrapolar sua ideia das fronteiras do estado e mesmo migrar para o
Rio e outras capitais. [sugerimos que este parágrafo seja lido em conjunto com oportuno comentário da jornalista Dora Kramer, Revista VEJA, que segue:
“Com o tempo, haverá a recuperação
da saúde física, a contenção do temperamento explosivo e a transposição de
uma vida de parlamentar, cuja ferramenta é a fala para uma função regida
pelos ditames da boa administração e da sobriedade.”]
A aprovação do pacote desenhado pelo ministro Sergio Moro terá enorme
efeito na segurança pública. Mesmo que seus resultados não sejam
evidenciados imediatamente, a sensação de segurança do brasileiro vai
crescer exponencialmente. Da mesma forma, a reforma previdenciária só
aliviará os cofres públicos efetivamente daqui a alguns anos, mas o
impacto da sua aprovação sobre o mercado vai mexer na economia e fazer a
roda girar. Se Bolsonaro começar o ano eleitoral com estas duas
vitórias na conta, sua estratégia pode dar certo.
O problema vem em seguida. Não importa se o gestor é civil ou militar,
administrar uma cidade sem uma prévia reforma fiscal e tributária
significa entregar sempre menos do que os cidadãos exigem e têm de fato
direito. Um general prefeito de Duque de Caxias, por exemplo, não
conseguirá gerir o município e seus servidores como se fosse um quartel e
seus soldados. Será nesse momento que se conseguirá medir a eficiência e
a capacidade do bom administrador. [o desempenho dos generais no Governo Bolsonaro, começando pelo vice-presidente mostra que os militares sabem administrar.] Use ele farda ou não.