''O Supremo é o único dos três poderes que não tem voto; é legitimado indiretamente pelos que têm voto: o presidente que indica, e o Senado que aprova''
Ministro do Supremo, Marco Aurélio está propondo que decisões atingindo
outro poder têm que ser do plenário dos 11 juízes, não em liminar
monocrática, como foi a de Alexandre de Moraes, sobre o diretor da
Polícia Federal, ou a do ministro Luís Roberto Barroso, impedindo a
expulsão dos diplomatas venezuelanos. Em 5 de dezembro de 2016, o mesmo
Marco Aurélio, por liminar, decidira tirar Renan Calheiros da
presidência do Senado, e o Senado não cumpriu, argumentando ser
interferência indevida, que feria a independência de poderes. [E o Supremo se curvou à recusa, acertada, do Senado Federal.
Mesmo assim, continua testando sua supremacia, notadamente contra o Poder Executivo, e se o presidente Bolsonaro decidisse nomear o Ramagem diretor-geral da PF - após a primeira nomeação ter sido suspensa por decisão monocrática do ministro Moraes e revogada pelo presidente - possivelmente, o ministro Alexandre de Moraes mandaria prender Bolsonaro.
Caso análogo ocorreu com a suspensão de mandato e prisão do ex-deputado Eduardo Cunha - tudo feito de forma monocrática = monoautocrática cabe melhor.]
A Suprema Corte passou a tratar de tudo, muito além da interpretação da Constituição. Até os aditivos aromáticos de cigarro ocuparam os ministros. [até banheiro público unissex mereceu a suprema atenção dos ministros do Supremo.] Às vezes, casos que deveriam ter ficado em juizados de pequenas causas, como de ladrão de galinha, por exemplo. Virou a corte das cortes, de todas as instâncias, cíveis e criminais. Ao mesmo tempo, passou a legislar, a pretexto de vácuos legais. Espraiou-se para um dos lados da Praça dos Três Poderes, e assumiu papéis legislativos, mesmo sem ter a procuração que o voto confere a deputados e senadores. Semana passada, entrou também no lado oposto da Praça, virou poder de veto em atos do chefe do Executivo. Um único ministro barrando poderes conferidos por quase 58 milhões de eleitores.
[sendo recorrente:
A Suprema Corte passou a tratar de tudo, muito além da interpretação da Constituição. Até os aditivos aromáticos de cigarro ocuparam os ministros. [até banheiro público unissex mereceu a suprema atenção dos ministros do Supremo.] Às vezes, casos que deveriam ter ficado em juizados de pequenas causas, como de ladrão de galinha, por exemplo. Virou a corte das cortes, de todas as instâncias, cíveis e criminais. Ao mesmo tempo, passou a legislar, a pretexto de vácuos legais. Espraiou-se para um dos lados da Praça dos Três Poderes, e assumiu papéis legislativos, mesmo sem ter a procuração que o voto confere a deputados e senadores. Semana passada, entrou também no lado oposto da Praça, virou poder de veto em atos do chefe do Executivo. Um único ministro barrando poderes conferidos por quase 58 milhões de eleitores.
Plenário do Supremo se preparando para mais uma das três sessões semanais que realiza - (foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF)
[sendo recorrente:
um ministro do Supremo pode, monocraticamente, barrar uma lei aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo Presidente da República.
Motivação é o que menos importa, acolhe a alegada inconstitucionalidade, suspende por tempo indeterminado a lei contestada, o assunto irá a plenário quando o ministro entender conveniente e se a decisão do colegiado for pela constitucionalidade, passa a valer a nova decisão, sem que o ministro responsável pela decisão revogada seja questionado.
E a validade da liminar revogando a lei tem, na prática, validade até o dia que o ministro quiser.]
O jurista Ives Gandra, do alto de seus 85 anos, afirmou não ter encontrado na Constituição nada que justificasse impedir a posse do nomeado diretor da Polícia Federal. A liminar pressupunha que o presidente e o delegado nomeado estariam em associação criminosa para cometer algum delito futuro. A decisão do ministro Moraes atendeu a pedido do PDT. O jurista Ives Gandra afirma que o Supremo não pode compensar partido que perdeu a eleição, dando-lhe poder que as urnas não deram.
O jurista Ives Gandra, do alto de seus 85 anos, afirmou não ter encontrado na Constituição nada que justificasse impedir a posse do nomeado diretor da Polícia Federal. A liminar pressupunha que o presidente e o delegado nomeado estariam em associação criminosa para cometer algum delito futuro. A decisão do ministro Moraes atendeu a pedido do PDT. O jurista Ives Gandra afirma que o Supremo não pode compensar partido que perdeu a eleição, dando-lhe poder que as urnas não deram.
O desembargador Ivan Sartori, que presidiu o Tribunal de Justiça de São Paulo, afirma que o Supremo tem extrapolado em seus poderes, inclusive,
promovendo censura em benefício próprio. E critica a interferência da
Corte em manifestações populares que são garantidas pelo direito de
opinião. Para ele, isso nem é mais ativismo judicial; é atividade
política.
O Supremo é o único dos três poderes que não tem voto;
O Supremo é o único dos três poderes que não tem voto;
é
legitimado indiretamente pelos que têm voto:
o presidente que indica, e
o Senado que aprova.
O ministro Marco Aurélio deve ter ouvido a voz da
Praça no domingo, com a crítica de que o Supremo não respeita a
“independência e harmonia” entre poderes, como estabelece segundo artigo
da Constituição. Voz que ecoou nas Forças Armadas, pois nota do
Ministério da Defesa diz que o Exército, Marinha e Aeronáutica
consideram a independência e harmonia entre poderes imprescindíveis para
a governabilidade do país. A voz da simbólica praça, planejada para
receber a origem do poder – o povo – pode estar resgatando o equilíbrio
democrático, para que a Praça continue sendo dos Três Poderes.
Alexandre Garcia, jornalista - Coluna no Correio Braziliense