Mesmo diante das dificuldades do Brasil em obter vacinas contra a
covid-19 — o país, até o momento, aplica efetivamente apenas a CoronaVac
e o imunizante da Universidade de Oxford/AstraZeneca —, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) negou, de forma unânime, o pedido de autorização emergencial para a importação da vacina russa Sputnik V (clique aqui para
acessar os votos dos diretores da agência). A solicitação havia sido
apresentada por dez governos estaduais: Bahia, Acre, Rio Grande do
Norte, Maranhão, Mato Grosso, Piauí, Ceará, Sergipe, Pernambuco e
Rondônia.
[nossa opinião: não há o que se discutir - pela legislação brasileira, em plena vigência, a Anvisa tem a responsabilidade, a competência legal e técnica de liberar medicamentos, o que inclui TODAS as vacinas contra a covid-19.
Um produto rejeitado pela Anvisa pode, se autorizado por agências de renome como FDA, NHS, EMA, a do Canadá, ser utilizado no Brasil.
Se rejeitado não pode ser usado e persistindo o interesse recomeça todo o processo.
A Sputinik V desde sua primeira apresentação tem apresentado lacunas na documentação e nas explicações fornecidas. FIM DE PAPO: É DEVER da Anvisa NEGAR e assunto encerrado, constituindo grave crime contra a Saúde Pública que o produto seja utilizado, sem autorização, em qualquer ponto do território nacional.
Com o respeito devido e no interesse de que fique tudo claro é até conveniente que o STF - que ultimamente tem interferido com frequência inadequada em assuntos de Saúde Pública - seja notificado de que qualquer decisão monocrática ou coletiva da Suprema Corte do Brasil, com repercussões sobre Saúde Pública, notadamente imunizantes, autorizando o uso de produtos reprovados pela Anvisa, constitui GRAVE CRIME contra a Saúde Pública, implicando na responsabilização civil e criminal do STF e de qualquer outra autoridade.
Apenas um mero lembrete que a LEI VALE PARA TODOS.]
A equipe técnica da Anvisa entendeu que a Sputnik V não demonstrou
segurança e eficácia contra a doença causada pelo novo coronavírus. Como
registramos, nos lotes analisados, os pesquisadores identificaram a
presença de adenovírus replicante (com capacidade de reprodução no corpo
humano), que traz riscos à saúde. Segundo a Anvisa, o patógeno pode
levar desde infecções variadas até a exacerbação da resposta
imunológica.
Leia mais: confira o resultado da deliberação e os votos dos diretores da Anvisa
Havia uma enorme expectativa em torno da possível liberação do imunizante. Em Brasília, o lobby
pró-Sputnik V envolvia parlamentares de diversas correntes políticas,
além dos próprios governadores dos Estados que apresentaram o pedido de
liberação da importação das doses da vacina. De acordo com o Instituto
Gamaleya, da Rússia, a Sputnik V já obteve aprovação para uso
emergencial em 61 países até o momento. A Anvisa, por sua vez, pondera
que, entre 51 países consultados, apenas 14 confirmaram o uso efetivo do
imunizante.
Leia também: “Governador do Ceará critica decisão da Anvisa e afirma que continuará ‘lutando’ por vacina russa”
A agência também terá de analisar um segundo pedido de uso
emergencial da Sputnik V, feito pela farmacêutica União Química, que
fechou um acordo com o Gamaleya para a fabricação da vacina russa no
Brasil. A Anvisa cobra da empresa informações que, segundo o órgão, não
foram fornecidas quando o primeiro pedido foi apresentado.
Confira cinco pontos principais que levaram a Anvisa e não liberar a importação da vacina russa:
1 — Adenovírus se replica A tecnologia utilizada na Sputnik V é conhecida como
vetor viral não replicante. A técnica,
pesquisada há décadas pela indústria
farmacêutica, é semelhante à da vacina da Oxford. Esse tipo de
imunizante usa outros vírus inofensivos para “enganar” o organismo,
simulando uma ameaça mais perigosa e provocando uma resposta imune. No
caso da vacina russa, isso é feito por meio do adenovírus (o mesmo que
causa resfriados comuns em humanos). Eles foram modificados para que não
sejam capazes de se replicar depois de entrar nas células. Este é um
dos problemas apontados pela Anvisa: os adenovírus usados na Sputnik V
conseguem se replicar, o que oferece um risco real ao organismo.
“Verificamos a presença de adenovírus replicante em todos os lotes. Isso
é uma não-conformidade grave e está em desacordo com o desenvolvimento
de qualquer vacina de vetor viral. A presença de um adenovírus pode ter
impacto na nossa segurança quando utilizamos a vacina”, explicou o
gerente-geral de medicamentos e produtos biológicos da agência, Gustavo
Mendes. De acordo com a Anvisa, o Gamaleya deveria ter feito estudos
para avaliar o potencial impacto disso no corpo humano, mas nenhuma
informação nesse sentido foi apresentada.
“O adenovírus tem que ser só um transportador daquele material
genético que eu preciso apresentar ao corpo, para eu criar anticorpos
contra a sequência viral do coronavírus”, diz a Oeste a
médica infectologista e mestre em Ciências pela Universidade Federal de
São Paulo (Unifesp) Patrícia Rady Muller. “Ele não pode estar
replicando muito. A gente pode criar anticorpos contra o próprio
adenovírus, e ele nem conseguir apresentar esse material genético para o
nosso corpo formar anticorpos. Ou ele pode também causar doença no ser
humano”, alerta. “O vírus tem que ser neutro. Se ele começar a se
multiplicar, pode ficar alojado em alguns órgãos, como os rins, por
exemplo. Pelo controle de qualidade, temos que deixar esse adenovírus
menos replicável.”
2 — Dados não confiáveis Segundo as pesquisas desenvolvidas na
Rússia, a Sputnik V gera uma resposta do sistem
a imunológico — mas ela não foi mapeada adequadamente
pelos cientistas. A Anvisa aponta “sérias limitações” na análise feita
pelos russos. “A forma como os anticorpos são quantificados tem que
seguir uma metodologia científica. Se o método usado pelo equipamento
estiver errado, pode-se chegar a uma conclusão equivocada”, afirma
Mendes. A Anvisa não conseguiu validar a metodologia utilizada pelo
Gamaleya. Rússia reage Após a decisão da Anvisa,
o Fundo Soberano da Rússia, responsável
pela coordenação do desenvolvimento da Sputnik V, classificou como
“política e tendenciosa” a manifestação da agência sanitária brasileira.
“Quando falo de política, não é nossa opinião, é fato. Os Estados
Unidos disseram que queriam convencer o Brasil a não usar a vacina
russa”, afirmou o CEO do fundo, Kirill Dmitriev, em entrevista ao Valor Econômico.
“Poderíamos fornecer ao Brasil doses para 80 milhões de pessoas neste
ano. Mas a posição da Anvisa não pode ser explicada pela ciência”,
prosseguiu Dmitriev. “A Anvisa tem sido tendenciosa, e não profissional.
Para nós, usam exigência dupla ou tripla, mais sujeita a escrutínio e
ataque. É muito estranho. Ao mesmo tempo, autorizam vacina no Brasil que
tem casos de trombose severa, enquanto no caso da Sputnik o risco é
zero.”
Dmitriev afirmou ainda: “Fizemos nossa tarefa no Brasil. Mas não
vamos mais insistir por nossa vacina. Temos produção de 700 milhões de
doses para este ano e as encomendas chegam a 1,3 bilhão de doses. Não
somos brasileiros, não entendemos política do Brasil. Vamos deixar para
os governadores e instituições brasileiras tomarem providências.”
Revista Oeste
Com informações da BBC Brasil e agências internacionais