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terça-feira, 7 de julho de 2015

Programa de proteção ao emprego tem custo pouco crível


O esforço do governo para conter o desemprego é importante. Mas isso não pode acontecer a qualquer preço. No caso do Programa de Proteção ao Emprego (PPE), apresentado na segunda-feira, o custo estimado pelo governo é de R$ 112,5 mi ao ano. Na apresentação, os detalhes técnicos ficaram de lado, o que torna esse valor pouco crível.

A avaliação sobre a qualidade de uma política depende do custo dela. É essa parte do PPE que precisa ser mais bem explicada.  Quando o desemprego é grande, a economia entra em um ciclo vicioso e a recessão se aprofunda. Sem emprego, a pessoa não tem renda e deixa de consumir. A atividade, dessa forma, não se recupera e os postos de trabalho continuam fechados. É importante interromper esse processo.  Pelo PPE, as empresas podem cortar até 30% do salário de um empregado que o governo reduz a perda pela metade. Os cofres públicos pagarão até 15% do salário. A regra vale para todos os trabalhadores formalizados que recebem até R$ 6.000. Pela estimativa do governo, um programa dessa magnitude custará R$ 112,5 mi em um ano. É pouco crível, mesmo que o cálculo leve em conta a economia que o governo terá com o seguro-desemprego e o FGTS porque menos trabalhadores serão demitidos.

O programa levanta uma série de contradições do governo. Em meio a um ajuste fiscal, é criado um gasto não previsto no Orçamento.  É preciso definir a prioridade. O PPE atenderá aos empregados formais que ganham até R$ 6.000. Mas os trabalhadores mais pobres estão enfrentando restrições. Pela dificuldade em equilibrar as despesas, os pagamentos de abonos salariais têm sido adiados para 2016; esses benefícios são pagos para quem recebe até dois salários mínimos. Os trabalhadores informais, quase 30% do mercado de trabalho e que também precisam de proteção, não são atendidos pelo PPE.

Falta um rumo. O governo que agora sugere diminuir o custo das empresas com empregados é o mesmo que tenta, no Congresso, aumentar os impostos da folha salarial.  De fato, é preciso pensar em uma medida para frear esse ciclo de demissões. O aumento do desemprego assusta. No início de 2015, a projeção era de corte de 200 mil vagas no ano; agora, as previsões já se aproximam de 1 milhão. Mas os efeitos colaterais do PPE têm que ficar mais claros.

Durante a apresentação do programa, as questões técnicas não foram aprofundadas. O governo preferiu o discurso. Há uma briga política neste momento. Mas uma medida econômica deveria ser apresentada junto com os cálculos que a embasaram. O PPE foi lançado como uma arma política.  A tentativa de melhorar a foto pode acabar piorando as contas públicas. É o contrário do que o país precisa nesse momento. 



Fonte: Coluna da Miriam Leitão – O Globo