Há
quatro anos, o consórcio de mídia, como um coro afinado e provavelmente
com regência competente, fez sua opinião valer como se fato fosse. Ou
seja, fez-se obrigatório tomar como verdade o que ele em coro dissesse e
quem o refutasse era tratado como falsário de um fato que não podia ser
contestado.
Tudo muito
definitivo e estável porque a mão pesada do Poder Judiciário dava
suporte a essa prática que custou caríssima, em direitos e em liberdade
de expressão, para muita gente boa.
A situação se agravava contra quem
expressasse irritação, sarcasmo, ironia ou aspereza, ao ver
comunicadores deixar o país, o futuro de tantos estacionar nas sacolas
dos inquéritos finis mundi e essa perturbação toda virar “novo normal”.
Um século e meio atrás a ironia, a sátira, a exposição das figuras
públicas ensejavam a existência de jornais de humor! Era tempo do
Império! Este país tinha imperador! E D. Pedro II era o alvo principal,
sereno e bem humorado, dos chargistas de então.
Com o
século XXI já rodando, graças aos acontecimentos que o leitor bem
conhece, o humor político joga na terceira divisão da comunicação
social. Os Hipócritas estão no desterro e até a Bárbara Destefani, do Te
atualizei, é censurada. Santo Deus! O humor circula naquele espaço
antiquado e restrito que o Judiciário chama “serviço de mensageria
privada”. Coisa privada, mas apesar de privada não escapa ao interesse
dos censores, curiosos em saber quem curtiu o quê.
O humor chega
individual, por e-mail, dá causa a gargalhadas, desopila, mas provoca
ressaca.
Sobrevém uma profunda tristeza por perceber que o jornalismo
brasileiro, de tão infiltrado, se tornou braço edemaciado do petismo.
O ministro
Flávio Dino deu azar. Logo após proclamar, alteando a voz. que “esse
tempo da liberdade de expressão como um valor absoluto acabou no
Brasil”, a Suprema Corte dos Estados Unidos, por 9 a 0, decidiu sobre
duas pretensões que buscavam indenização por conteúdos publicados em
plataformas.
A decisão da Corte, manteve unanimemente o entendimento
sobre a Seção 230: nos EUA as plataformas são isentas de
responsabilidade sobre o que é postado pelos usuários. Lá, a liberdade
de expressão persiste. Aqui, nos afirmam que ela é tolhida para a nossa
proteção e nos livrar de todo mal, amém.
Quem
respeita a si mesmo e se vê como titular de direitos inalienáveis, sabe o
quanto é importante à democracia a crítica política. Quando repercutem
sobre a sociedade, os atos dos poderes de Estado podem e devem estar
sujeitos à crítica.
A diversidade de opiniões é saudável e os donos da
verdade que excluem a divergência cometem a primeira impostura.
Para
coibir excessos nada melhor do que uma justiça imparcial.
Ao não ser
assim, ela comete excessos.
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores
(www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país.
Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia;
Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.