Entenda a importância da cidade sagrada para
israelenses e palestinos
Embaixada polêmica
Soldados israelenses passam por lojas na Cidade
Velha de Jerusalém diante de inscrições em árabes e imagem de Trump como judeu
ortodoxo - AHMAD GHARABLI / AFP
Em seu
próprio nome, Jerusalém carrega a ideia de "terra de paz", mas
historicamente a realidade é bem menos pacífica. Uma das cidades mais antigas
do mundo carrega ainda a importância de ser local sagrado para as três grandes
religiões monoteístas: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Se a milenar
Jerusalém foi colonizada em diferentes momentos por diferentes povos, ela é
hoje a principal frente de atrito entre israelenses e palestinos — com ambos
reivindicando o status de capital definitiva de suas populações. A religião, o
orgulho étnico e os nacionalismos, ao longo do tempo, geraram conflitos violentos
que até hoje não foram resolvidos. No primeiro ano do governo do presidente dos
Estados Unidos, Donald Trump, ressurge o debate sobre a transferência da
embaixada americana de Tel Aviv, sede de órgaos diplomáticos no país, para a
Jerusalém — um tema delicado em meio às questões territoriais que envolvem as
diferentes religiões que compartilham a região. Entenda neste especial por que
esta cidade é tão importante para os povos que a dividem.
- Embaixada polêmica
- Milênios de História
- Religião no centro da questão
- Nacionalismos nos locais sagrados
Sendo
Jerusalém Oriental considerada território ocupado pela ONU e a comunidade
internacional, esforços israelenses de legalizar toda a cidade, indivisível,
enquanto capital do país não tiveram sucesso mundo afora. Hoje, todas as
embaixadas estrangeiras em Israel ficam na costeira Tel Aviv. Nas negociações
de paz em Camp David (mediadas pelos EUA), em 2000, sugeriram-se critérios
complexos de soberania e autoridade para alocar as autoridades religiosas e
políticas em Jerusalém e permitir que ela fosse capital conjunta de israelenses
e palestinos. Hoje, no entanto, o governo israelense rejeita partilhar a cidade
com um Estado palestino, preferindo agregar a população árabe a seu território.
Ao longo
das últimas décadas, os EUA se posicionam como a primeira força a querer romper
com a política internacional de veto ao status de Jerusalém como capital
"eterna e indivisível" de Israel. Em 1995, o Congresso americano
adotou uma lei que insta o governo a levar a embaixada de Tel Aviv para lá —
mas, por razões declaradas de segurança nacional, os governos de Bill Clinton,
George W. Bush e Barack Obama aplicaram uma cláusula que permite o veto à
aplicação da lei.
Com a
ameaça do presidente Donald Trump de romper com seus antecessores e decidir
trasladar sua representação diplomática, Israel (maior aliado político dos EUA
no Oriente Médio) pode ganhar seu maior respaldo para garantir reconhecimento
internacional a Jerusalém como capital única de seu Estado, ignorando as
demandas dos palestinos e dos países vizinhos.
A
Autoridade Nacional Palestina (ANP), que representa o Executivo do que os
palestinos ainda esperam construir um Estado, adverte que a decisão de levar a
embaixada acabaria de vez com as conversas de paz israelo-palestinas,
congeladas há tempos. A Organização para a Libertação da Palestina (OLP,
entidade que originou a ANP) afirma que tal decisão desqualificaria o papel dos
EUA na mediação do antigo conflito. E a Liga Árabe afirma que o gesto
"alimentaria o fanatismo e a violência".
O gesto,
segundo especialistas, isolaria Israel ainda mais da comunidade internacional,
após ter se retirado da Unesco e acusar a ONU de ser enviesada contra o país.
O atual primeiro-ministro de Israel chefia o
país desde 2009, sempre amparado em coalizões de centro-direita. Sob seu
governo, o país endureceu em seus conflitos militares com os vizinhos, como a
guerra de 2014 em Gaza, na qual morreram 2.200 palestinos e 71 israelenses. A
ONU pede que ele negocie apaz.MATÉRIA COMPLETA em O Globo