Por Giovanna Romanno
Mirela Erbisti, do Rio de Janeiro, ostenta desenhos no ombro e no braço, é ativa nas redes sociais e youtuber nas horas vagas
A senhora já foi discriminada por ter tatuagens?
Elas não me restringem no meu ambiente de trabalho. Não poderia ser diferente. A Casa da Justiça não é lugar para preconceitos e discriminações. Em 2016, o STF firmou a tese de que os editais de concursos públicos não podem estabelecer restrição a pessoas tatuadas, salvo se a imagem tiver conteúdo que viole valores constitucionais. [a famosa, sempre citada e cada vez mais adequada frase de Rui Barbosa para explicar o supremo entendimento do STF:
"a Suprema Corte é a corte que tem o direito de errar por último". A mais alta Corte do país reconheceu que a tatuagem é uma autêntica forma de liberdade de manifestação pessoal.
A senhora posta fotos na praia, no Rock in Rio, em festas, praticando esportes. Considera-se fora do estereótipo de um magistrado?
Estereótipo é outro nome para preconceito. Talvez o estereótipo da figura do juiz ainda seja o daquele senhor sisudo e sedentário sentado atrás de uma pilha de processos. No entanto, temos muitos juízes com atividades e interesses externos que se contrapõem a essa imagem: ciclistas, bateristas, corredores, skatistas, surfistas, ironmen, lutadores de jiu-jítsu. Os tempos são outros.
Por que criou um canal no YouTube?
A sociedade se renova, o direito se renova, e o juiz não pode ficar vendo pela janela o mundo se transformar. O Justo Eu é um projeto meu e da juíza Tula Mello que visa a assegurar direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a Justiça. Há direitos que não são exercidos pelo simples fato de que não são conhecidos. Abordamos em mais de quarenta aulas temas relevantes como feminicídio, racismo, violência moral, adoção e impunidade.
Qual tem sido a repercussão?
A iniciativa recebeu em 2018 o Prêmio Patrícia Acioli de Direitos Humanos, um dos mais importantes da área do direito, na categoria Trabalhos dos Magistrados, e teve enorme receptividade tanto por parte do público (tem quase 22 000 inscritos) quanto da comunidade jurídica.
Por Giovanna Romanno - VEJA
Publicado edição nº 2657, de VEJA, de 23 de outubro de 2019