A dimensão da crise ambiental brasileira não pode ser subestimada. É uma
fragilidade antiga, realçada agora no governo Jair Bolsonaro com a
multiplicação de incêndios na Floresta Amazônica.
Novidade é o uso
desses problemas ambientais em disputas político-comerciais com o
Brasil, como fez o presidente Emmanuel Macron no fim de semana.
Macron levou o desmatamento crescente na Amazônia para debate na reunião
de cúpula do G-7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália,
Japão e Reino Unido). Em público,
citou a possibilidade de uma recusa da
França a ratificar o recém-assinado acordo da União Europeia com o
Mercosul. Macron, dessa forma, situou o livre comércio com o Mercosul como um
problema real de competição no agronegócio para a França
. Foi ironizado
pelo líder britânico Boris Johnson. E contraditado pela chanceler alemã
Angela Merkel. Ela viu no acordo UE-Mercosul uma chance política: usá-lo, sim, mas para
delimitar a liberalidade da política ambiental do governo Bolsonaro,
sobretudo na Amazônia.
Com maestria diplomática, Merkel completou sua proposta com o anúncio de
que procuraria o presidente brasileiro para uma conversa sobre possível
colaboração europeia na política para a Amazônia. O problema é que se em Brasília existe um plano para a Amazônia, nem o
Congresso conhece.
[será que até para apagar incêndios, vão querer que Bolsonaro seja autorizado pelo Congresso?] O governo apenas reage. No sábado, enquanto o G-7
debatia, anunciaram-se as primeiras medidas contra os múltiplos
incêndios que devastam a floresta e a imagem do Brasil. Entre as
iniciativas,
o emprego das Forças Armadas, o uso de aeronaves da FAB
para combate ao fogo e a
promessa de desbloqueio de R$ 28 milhões
previstos no Orçamento para suporte à operação militar.
Medidas necessárias, e tardias, para debelar o fogo gerado pelo próprio
governo na sua errática política ambiental, comandada pelo ministro
Ricardo Salles. Desde a campanha eleitoral, Bolsonaro anunciava uma liberalização
extremada, por isso mesmo perigosa, na área de meio ambiente, com
redução do ritmo de fiscalização do Ibama e do Instituto Chico Mendes
(ICMBio)
. “Essa festa vai acabar”, disse, ao prometer
oxigenar um setor
onde há tempos estão alinhados ONGs, burocratas e organizações de
esquerda. Assumiu e deu curso a um desmonte dos órgãos de controle
ambiental.
Em sua cruzada, Bolsonaro já propôs transformar a Estação Ecológica de
Tamoios, um santuário em Angra dos Reis, na Costa Verde fluminense, numa
Cancún brasileira.
E demitiu o diretor do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão,
[demissão por insubordinação.] depois de discordar de dados
divulgados pelo órgão sobre aumento do desmatamento na Amazônia. Acabou
cercado pelos incêndios na floresta.