J. R.Guzzo
Nada chama mais atenção, na atual guerra movida pelo ministro Luis Roberto Barroso e pelo resto do STF contra a adoção de alternações no atual sistema de voto eletrônico para as eleições de 2022, quanto a quantidade de perguntas não respondidas sobre o que, afinal, está acontecendo nessa história. O debate foi deturpado, brutalmente, com as repetidas declarações do presidente da República de que o voto eletrônico “puro”, como ele é hoje, leva à fraude na apuração; ele disse também que sem um novo sistema, mais seguro e verificável, não haverá eleições limpas no ano vem, e se não houver eleição limpa não haverá eleição nenhuma.
A primeira pergunta sem resposta vem daí: o que o presidente faria, na prática, para suspender as eleições, caso o sistema não seja mudado? Coloca a tropa na rua, fecha o Congresso e o Supremo, baixa um Ato Institucional?
E aí: de que jeito fica no governo? Bolsonaro diz, também, que foi vítima de fraude eleitoral.
Quais as provas que tem disso? Já prometeu apresentá-las um monte de vezes, mas até agora não apresentou nada. Por quê?
Em matéria de perguntas não respondidas, essas já seriam mais do que suficientes. Mas o extraordinário nisso tudo é que o lado oposto também não consegue responder nada: defende o atual sistema como se fosse a criação mais perfeita da humanidade até hoje, mas não foi capaz até agora de trazer à discussão um único argumento sério em favor de qualquer dos pontos que declara essenciais para a sobrevivência da democracia no Brasil.
Uma dessas perguntas sem resposta, ou respondida com raciocínios de terceira categoria e com mentiras puras e simples é:
por que o STF nega ao Congresso Nacional o direito de debater qualquer alteração no atual sistema de voto e apuração?
Tudo bem que o ministro Barroso seja contra, como Bolsonaro é favor, mas por que o Congresso não pode decidir sobre o assunto?
Não adianta dizer que pode, porque não pode — tanto não pode que o ministro Barroso, e acólitos, se meteram diretamente em conversas com deputados para melar a discussão do projeto sobre o tema que tramita na comissão especial na Câmara.
O STF não quer, nem mesmo, que o assunto vá a plenário.
De novo: por que os deputados não podem decidir a questão votando livremente sobre ela?
Por que não se pode pensar em nenhum aperfeiçoamento técnico para um sistema que está aí desde 1996?
De lá para cá, a tecnologia eletrônica mundial não descobriu nada que pudesse melhorar o processo?
Por que Barroso diz que a mudança será caríssima — R$ 2 bilhões — quando só o “Fundo Eleitoral” que os políticos acabam de aprovar em seu favor é de R$ 6 bilhões — três vezes mais?
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Por que os ministros insistem em dizer que o voto auditável vai violar o sigilo eleitoral (os “coronéis” exigiriam do eleitor a apresentação do recibo impresso de como votaram), se nenhum eleitor vai levar recibo nenhum para casa?
Como advertir dos perigos de “judicialização” das eleições se a Justiça Eleitoral, já hoje, vive soterrada com processos de candidatos, uns contra os outros?
Mais que tudo: se Lula já está com mais de “50% dos votos” nas pesquisas e vai ganhar no primeiro turno, segundo o Datafolha e seus subúrbios, por que esse desespero todo em segurar o sistema como ele está? O candidato do STF — foi o STF que reinventou a vida política de Lula, e lhe deu a candidatura de presente — não vai ganhar de qualquer jeito?
Ou será que está havendo algum problema com a sua candidatura e os seus milhões de votos?
Será que Bolsonaro achou um jeito de roubar a eleição por conta do “voto impresso”?
De que jeito? Barroso realmente não pode acreditar numa coisa dessas, pode?
Uma coisa é certa: quanto há muitas perguntas sem respostas, estão tentando dar um golpe em você.
J. R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES