A ação dos funcionários públicos e a irresponsabilidade da classe política podem derrotar o projeto
A
mobilização de funcionários públicos contra a reforma da Previdência não é a primeira desta
poderosa corporação. Eles conseguiram inscrever vários privilégios Constituição
de 1988. Trata-se do fenômeno da ação coletiva e de grupos de interesse,
tratada na literatura por pensadores como o economista americano Mancur Olson
(1932-1988). Olson
escreveu sobre o problema da ação coletiva, que representa o movimento de pessoas
para alcançar objetivos comuns. Acontece que indivíduos podem falhar na busca
desse objetivo quando se sentem desestimulados a participar do movimento.
[o autor do artigo foi ministro no governo Sarney e autor de um daqueles planos econômicos mirabolantes, tão em moda naquela época;
foi em um dos planos fantásticos do Mailson que a inflação alcançou patamar recorde, em 1989, quando ele lançou o Plano Verão e a inflação atingiu 1.972,9%.
Tanto que leia este artigo e pense, e faça, exatamente o contrário do que ele diz e as coisas vão melhorar para o Brasil.
Saiba mais sobre Mailson, o ministro da hiperinflação.]
Tomar
parte numa ação coletiva pode ser custoso, exigindo faltar ao trabalho, gastar com
demonstrações e semelhantes. Mais, se a pessoa acredita no êxito da ação
coletiva, mesmo sem a sua contribuição, ela pode agir como carona e esperar
pelos benefícios. Isso
permite a ação dos grupos de interesse em detrimento dos ausentes. Tais grupos,
geralmente minorias, costumam ser mais organizados e assim capacitados a
influenciar políticas públicas em seu favor, prejudicando as maiorias.
Os
funcionários públicos são um dos mais fortes grupos de interesse do Brasil. Há
também as associações de empresários que lutam por políticas protecionistas,
crédito subsidiado e incentivos fiscais, mas os grupos dos servidores são mais
atuantes. Eles se ampliaram após a Constituição de 1988, a partir de quando se
organizaram em sindicados.
Seria de
esperar a ação coletiva dos membros da sociedade que perdem com os efeitos de
políticas públicas criadas em favor dos grupos de interesse. A neutralização
desses grupos resultaria em menos gastos e na abertura da economia, em ambos os
casos acarretando maior potencial de crescimento da economia, do emprego e do
bem-estar. Os pobres
poderiam lutar contra os benefícios concedidos a tais grupos, os quais podem
nos levar à insolvência fiscal e à volta da inflação sem controle. Os pobres
serão os mais prejudicados, mas não percebem isso e, portanto, não têm qualquer
incentivo em se organizar para apoiar a resistência do governo à ação desses
grupos.
O custo
de ações governamentais para eliminar privilégios se concentra nos grupos de
interesse enquanto seus benefícios são difusos na sociedade. Neste momento, o
custo será dos servidores públicos que perderão privilégios. Por isso, eles se
mobilizam. Os beneficiados serão os pobres que ganharão com a ampliação da
capacidade do governo de conduzir políticas em seu favor, em decorrência do
aumento do potencial de crescimento da economia e, assim, da arrecadação
tributária.
Mais
recentemente, o governo tem conseguido elevar a percepção da sociedade sobre a
ideia de que a reforma serve para eliminar ou reduzir privilégios.
Infelizmente, a ação dos servidores públicos e a irresponsabilidade da classe
política ainda mostram que os funcionários podem ganhar a batalha, que será
contra o país.
Mailson da Nóbrega - VEJA