A
majestática frieza que caracteriza a Esplanada dos Ministérios e os
prédios da Praça dos Três Poderes nunca me empolgou, seja como
arquiteto, seja como cidadão.
Os ministérios me sugerem peças de dominó
alinhadas para caírem em cascata, embora, na vida real, sejam moeda
política preciosa na tesouraria do governante.
Os três poderes, na minha
concepção, são um erro porque deveriam ser quatro. Como consequência
nunca nos faltaram na história da República usurpadores para esse quarto
poder – o indispensável Poder Moderador – cuja carência é causa de
muitas das nossas crises. Mas isso é assunto para outro artigo. [será que esse parágrafo sobreviverá, se o 'ministério da verdade' for aprovado?]
Vamos ao mais
recente mistério brasiliense, que está a cobrar vaga para um Sherlock
Holmes na CPMI da Censura.
O que me inquieta não é o fato que vi causar
grande contrariedade entre alguns protagonistas deste momento político.
Não me interessa saber quem vazou os vídeos tomados no interior do
Palácio do Planalto.
O importante é terem chegado ao conhecimento
público.
O que me suscita enorme curiosidade é o motivo para tantas
horas de gravação terem sido postas sob sigilo por quem diz que nunca os
assistiu antes de aparecerem na tela da tevê. [outro parágrafo que talvez leve até a ser 'interpretado' como motivo para acelerar a criança do 'ministério da verdade' - dispensando perder tempo com a tramitação legislativa.]
Chama o Sherlock, pessoal!
Também me
intriga que os processos referentes aos envolvidos naqueles atos tenham
seguido curso antes de serem tais imagens devidamente estudadas e se
incorporarem ao conjunto probatório encaminhado à PGR e ao STF.
Quando
isso acontece, por falta de tempo, conforme tem sido dito, a autoridade
encarregada pede a prorrogação do prazo.
Vídeos tomados por dezenas de
câmeras de vigilância instalados em cena de crime não se empacotam para
serem assistidos quando der tempo. Mesmo assim, as peças acusatórias
foram dadas por prontas e encaminhadas pela PGR ao STF.
Chama o Sherlock, pessoal!
Perante o
mistério e na falta do Sherlock, minha intuição me leva a crer que tenha
sido a pressa, também neste caso, a grande inimiga da perfeição (ou
amiga da imperfeição).
Isso combina bem com algo que tem sido para lá de
frequente em nosso ambiente político e judiciário.
O exemplo mais
recente foi a votação do pedido de urgência para votar a projeto da Lei
Brasileira da Censura pelo plenário da Câmara.
A urgência foi aprovada
na correria, atropelando a sensatez, e com menos de uma dúzia de
parlamentares conhecendo o conteúdo daquilo a que concediam tanta
urgência. Era para engolir tudo enrolado, mesmo! De afogadilho, sem
tempo para serem advertidos sobre o que estavam aprovando.
No caso dos
eventos do dia 8 de janeiro, minha intuição me diz que o urgente era
tornar réus os recolhidos no magote de prisões feitas na frente do QG do
Exército.
E aí me socorro do ministro Gilmar Mendes quando verberava
sua indignação, em reuniões do pleno do STF, contra o que chamava
“condenações em cambulhada” que ocorriam em Curitiba como consequência
das investigações, confissões e delações da Lava Jato.
Agora, quem
se desagradou com o juízo de Curitiba declara réus cidadãos indiciados
em pacotes de cem e de duzentos! Bota cambulhada nisso! A pressa é amiga
da imperfeição. Na dúvida, chama o Sherlock, pessoal. [CONCLUSÃO: CERTA? ERRADA? (Só o tempo, pós 'ministério da verdade', dirá.) Nos parece que ver uma matéria maravilhosa como a presente, publicada na sua inteireza, torna urgente um 'ministério da verdade'.]
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores
(www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país.
Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia;
Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.