Com efeito, o presidente do Conselho, João Alberto, tomou a única decisão sensata. Ainda vale no país a presunção de inocência, não a de culpa
Ah, sim, está a maior gritaria nas redes
sociais. A dos esquerdistas, como sói acontecer em casos que envolvam
adversários políticos, era, portanto esperada. Até porque o alarido é
lógico, dados os valores da turma. Afinal, para os companheiros, os seus
são sempre inocentes, mesmo quando culpados; já os outros são sempre
culpados, mesmo quando inocentes. O que não é óbvio, mas também não
surpreende, é ver correntes de direita cair na conversa de Randolfe
Rodrigues, o senador do PSOL do Amapá que se finge de verde-marinista
para poder ser ainda mais vermelhinho por dentro. É aquele tipo de
melancia sem semente…
Refiro-me, como deixa claro o título do
post, à decisão de João Alberto Souza (PSDB-MA), presidente do Conselho
de Ética, de arquivar a denúncia oferecida contra o tucano por Randolfe,
que pretende ser o maior cassador de cargos do Brasil. Ah, não custa
lembrar: ele foi o mais bravo dos senadores na luta contra o
impeachment. Ele queria o Brasil à mercê de Dilma. Esse é o sujeito que
quase virou um plantonista do “Jornal Nacional”.
Coisa mais fofa! Gleisi faz
selfie com Randolfe , Lula, Miriam Belchior, Jaques Wagner, Roberto
Requião, Chico Buarque e Lula. Era uma blitz no Senado contra o
impeachment de Dilma
Volto a Aécio. Indagado sobre por que
arquivou o pedido, João Alberto disse a coisa certa: “Por falta de
provas”. E, com efeito, prova contra ele não há. Investigações estão em
curso. O próprio procurador-geral da República, Rodrigo Janot, não as
apresentou na denúncia oferecida ao Supremo. Qual foi a contrapartida
dos R$ 2 milhões que recebeu de Joesley?
Os tais R$ 60 milhões
repassados para a campanha em 2014 foram declarados à justiça Eleitoral —
parte considerável do dinheiro deve ter irrigado campanhas estaduais do
PSDB.
Pode ser que a prova apareça? Bem, se
acontecer, que se faça uma outra denúncia. Randolfe conferiu tal
estatuto ao que é, por enquanto, simples delação. E se vai dar curso a
um pedido de cassação nessas condições?
Há coisas que não fazem o menor sentido,
e uma delas é a reação do presidente da OAB (Ordem dos Advogados do
Brasil), Claudio Lamachia. Disse ele:
“Ao arquivar sumariamente a
representação contra o senador Aécio Neves, o presidente do Conselho de
Ética do Senado consegue, ao mesmo tempo, debochar da sociedade, que
espera esclarecimento para as gravíssimas acusações, e agredir o Estado
Democrático”.
Com a devida vênia, pergunto onde o
doutor Lamachia arquivou a presunção de inocência. Levar adiante um
processo contra um senador quando a única prova é uma delação e quando
não se tem a evidência de que aqueles R$ 2 milhões eram propina
constitui a chamada presunção de culpa.
A ser assim, que se denunciem os 24
senadores que serão investigados pela Lava Jato. A propósito: Gleisi
Hoffmann (PT-PR) já é mais do que uma acusada. E olhem que ela é ré
desde setembro de 2016. O apreço do PT pela investigação é tal que fez
dela presidente do partido. E Randolfe, este soprano da pureza e da
moralidade, não a denunciou ao Conselho de Ética. Foi seu companheiro de
armas contra o impeachment. Com Gleisi, como se vê no alto, ele faz
selfie.
Este senhor está se saindo um oportunista e tanto. Como senador do
PSOL, ninguém lhe dava muita bola. Aí ele para a Rede, de Marina. Sua
agenda anda mais esquerdista do que nunca, mas ele carrega o charme de
agora ser um pensador da nova era, essa coisa do “marinismo” do filme
“Avatar”… O rigor do senador vai até a página 12. Na 13, ele muda de assunto.