Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador mecanismo mental. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador mecanismo mental. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

STF e as ‘autoridades locais’ decretaram que é proibida a não-concordância com as suas decisões... O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo

A ciência está se transformando em política

STF e as ‘autoridades locais’ decretaram que é proibida a não-concordância com as suas decisões; ou você engole o pacote como eles querem, ou estará se colocando ‘negacionista’

Tiago Queiroz/Estadão - 05/10/2021
                               Tiago Queiroz/Estadão - 05/10/2021

De todos os desastres, alguns sem mais conserto, que a covid trouxe nestes dois últimos anos ao mundo e ao Brasil, um dos mais perversos, sem dúvida, é a degeneração universal da ideia básica de ciência. É inevitável que aconteça: o debate científico aberto, condição indispensável para se avançar na busca do conhecimento, está em grande parte proibido. É uma volta mortal aos tempos da treva, quando a verdade era estabelecida em decreto pelos reis, papas e seus amigos – e não pelo estudo e pelo entendimento das leis e fenômenos naturais. Hoje a ciência, pela ação cúmplice de cientistas de ocasião, funcionários da máquina estatal e oportunistas de todos os tipos, está se transformando em política – serve a ideias, interesses e desejos, e não mais aos fatos.

Todo o mecanismo mental que comanda a ação atual da máquina pública no trato da epidemia – basicamente, um sistema de repressão à liberdade e aos direitos individuais, com o apoio apaixonado da mídia se baseia na guerra à ciência. Não é que haja dúvidas entre várias hipóteses e o Estado, através de algum processo democrático, tenha optado por uma ou por algumas. Não é isso. No Brasil, premiadas com poderes praticamente absolutos pelo Supremo Tribunal Federal, as “autoridades locais” atribuíram a si próprias o direito de definir o que é ou não é ciência.  

Ao mesmo tempo, e sem deixar espaço para nenhum questionamento, decretaram que é proibida a não-concordância com as suas decisões e “protocolos”; ou você engole o pacote como eles querem, ou estará se colocando “contra a ciência”. É um charlatão, um inimigo do interesse comum e um “negacionista” mesmo que seja um cientista com 30 anos de experiência em pesquisas e tenha dito ao fiscal da prefeitura que seria bom estudar um pouco mais isso ou aquilo. É a ciência imposta através de portarias.

Qual a condição, por mínima que seja, de um prefeito, juiz de direito ou procuradorou mesmo de um ministro Barroso, ou coisa que o valha discutirem de verdade alguma questão de ciência? Não sabem nada; o que podem dizer de útil sobre o tema? [um outro tema indiscutível e que está  sob a tutela do ministro Barroso,  é a segurança das urnas eletrônicas;
tem sido recorrente invasões de hackers a complexos sistemas informatizados -  incluindo o  'sequestro' de um oleoduto que deixou grande parte dos Estados Unidos sem petróleo. 
Mesmo assim, no Brasil, constitui atentado à democracia levantar a possibilidade que o sistema de urnas eletrônicas do TSE pode ser invadido.]
No que diz respeito à ciência, e no que se refere especificamente ao ministro Barroso, é um fato a sua devoção ao curandeiro João de Deus, hoje condenado por estupro e fraude. 
Que raio de credencial é essa, em matéria de relacionamento com a ciência? 
Alguém acha que os 6.000 prefeitos e 27 governadores que estão aí são melhores do que ele? Porque? 
 
A ciência, para ser ciência de verdade, precisa não do ministro Barroso e na manada de pequenas autoridades que manda hoje na sua vida, e sim da investigação livre dos fenômenos que podem ser observados pelo ser humano – senão, não é ciência nenhuma. A ciência precisa, o tempo todo, do debate livre, da indagação permanente, do questionamento aberto, da prova objetiva. 
 
Isso está proibido hoje no debate sobre covid – a verdade é uma só, e ela vem numa portaria assinada por um analfabeto qualquer que se encontra num cargo público. Voltamos ao tempo de Galileu, quando era a Igreja que definia quantos graus tem o ângulo reto, ou garantia que o Sol girava em volta da Terra – com a desvantagem de que a Igreja, por pior que fosse, não era tão ruim quanto o sistema judiciário brasileiro, ou essa multidão de nulidades que se promoveram, do Oiapoque ao Chuí, ao emprego de Deus na Terra. Mas qual é o problema? É assim que se combate, hoje, pelas instituições democráticas e contra a onda direitista.
 
J.R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo