Ninguém aí me surpreende. Cumprem uma vocação. Nunca temam, a ambição talentosa. Mas todo cuidado é pouco com a mediocridade ambiciosa. “Isso vale para quem, Reinaldo?” Para todos eles!
Impressionante! Três dos personagens do
quiproquó envolvendo a divulgação dos vídeos com depoimentos do escroque
Lúcio Funaro são rigorosamente os mesmos que estrelaram, de forma
consciente e por espontânea vontade, o primeiro ato da tentativa de
golpe contra o presidente Michel Temer. Naquela jornada, um quarto
entrou na história mais tarde, na periferia, e depois se percebeu que
ambicionava o papel principal.
Vamos dar os respectivos nomes destes
ilustres. A nenhum deles se pode pespegar a pecha de inocente, de
ingênuo, aquilo que os franceses tratam por “naïve”. Estamos falando de
quatro cobras criadas: o trio inicial, como se sabe, era composto de
Rodrigo Janot, Edson Fachin e Cármen Lúcia. E Rodrigo Maia é o que pega
carona — antes, de forma dissimulada; agora, de modo escrachado.
A primeira coisa a destacar no imbróglio
é que o barulho gerado pelos vídeos de Funaro chega a ser estúpido.
Atenção! Tudo o que lá vai serviu para a embasar a segunda denúncia de
Janot, que acusa o presidente Michel Temer de obstrução da investigação e
de integrar organização criminosa, imputação esta que atinge também os
ministros Moreira Franco (Secretaria de Governo) e Eliseu Padilha (Casa
Civil). Logo, tudo o que há no vídeo e não integra a denúncia foi
considerado inútil até por Janot — ao menos no que diz respeito a Temer,
Franco e Padilha. Divulgar os depoimentos antes da votação da CCJ, na
quarta, serve a qual propósito? É evidente que se busca, com o mero
alarido, interferir no resultado da votação.
A Folha foi quem primeiro divulgou os
vídeos. A verdade é que ninguém sabia que eles estavam disponíveis no
site da Câmara. Na sexta, o jornal informou o seguinte, conteúdo
repetido na edição impressa de sábado: “O depoimento à PGR
(Procuradoria-Geral da República), de 23 de agosto deste ano, foi
registrado em vídeo, ao qual a Folha teve acesso.” Notem: a expressão
“ter acesso”, como sabem os jornalistas, costuma indicar uma
exclusividade que, não raro, deriva de vazamento. A reportagem não
informava que o material estava à disposição no site da Câmara. Aliás,
não admitiu ter sido essa a fonte nem na edição de domingo. Lá se lê:
“A Folha obteve os vídeos por meio de fontes oficiais e não por
vazamentos.” O site na Câmara é uma página pública, não uma fonte
oficial. E que se note: não tem obrigação nenhuma de revelar suas
fontes.
Nem Eduardo Carnelós, advogado de Temer,
nem a imprensa (e, insisto, a Folha não disse ter sido o site da Câmara
a sua fonte) sabiam que os vídeos estavam disponíveis. Até porque a
todos era evidente que Fachin, relator do caso JBS no STF, havia
determinado sigilo. E foi isso que levou Carnelós, um experiente
criminalista e, à diferença do que diz Maia, um advogado competente, a
classificar, em nota, de “criminoso” o vazamento. Logo, é claro que não
tentou ofender nem o presidente da Casa nem seus funcionários. Escreveu
ele em nota, a meu ver com correção, entre outras coisas:
“É evidente que o criminoso vazamento foi produzido por quem
pretende insistir na criação de grave crise política no País (…).
Autoridades que têm o dever de respeitar o ordenamento jurídico não
deveriam permitir ou promover o vazamento de material protegido por
sigilo.” Ora, ora, ora… Maia resolveu se abespinhar.
Chamou Carnelós de “incompetente”. E, mais uma vez, fez questão de
lembrar que, se quisesse, teria derrubado Temer por ocasião da primeira
denúncia. E emendou: “Esperava do presidente uma atitude contundente com
o advogado. Infelizmente isso não aconteceu. Ser tratado como criminoso
é muito difícil”.
É mentira! Maia não foi tratado “como criminoso” por ninguém. Não ainda. Em nova nota, o advogado explicou, e é fato:
“Quando divulguei nota ontem [sábado], referindo-me a vazamento que qualifiquei como criminoso, eu desconhecia que os vídeos com os depoimentos de Funaro estavam disponíveis na página da Câmara dos Deputados. Aliás, considerando os termos da decisão do ministro Fachin, eu não poderia supor que os vídeos tivessem sido tornados públicos. Somente fiquei sabendo disso por meio de matéria televisiva levada ao ar ontem”.
“Quando divulguei nota ontem [sábado], referindo-me a vazamento que qualifiquei como criminoso, eu desconhecia que os vídeos com os depoimentos de Funaro estavam disponíveis na página da Câmara dos Deputados. Aliás, considerando os termos da decisão do ministro Fachin, eu não poderia supor que os vídeos tivessem sido tornados públicos. Somente fiquei sabendo disso por meio de matéria televisiva levada ao ar ontem”.
Maia, claro, como agitprop da tentativa
de golpe, disse não aceitar a explicação. O presidente da Câmara afirma
ter recebido o material do gabinete de Cármen Lúcia, com a ressalva de
que somente seria sigiloso o conteúdo da Petição 7099. O gabinete de
Fachin informa que os vídeos, que integram a Petição 7210, também
estavam sob proteção porque esta é parte da 7099. Fato é que Maia se
encontrou com Cármen para definir o que poderia ser tornado público. A
presidente do Supremo, então, chamou Fachin para tirar as dúvidas. E a
dupla entendeu que os vídeos poderiam ser postos no ventilador, se é que
me entendem…
Aqui se diz tudo, não? Fachin, como
sabem, foi feito relator do caso JBS por decisão de Rodrigo Janot, que
rasgou a Constituição e fraudou o princípio do juiz natural. Cármen,
primeiro nome pensado para substituir Temer — já que a aposta era a de
que ele seria deposto —, concordou com a patuscada, referendada depois
por todos os ministros do STF nas asas do chamado “espírito de corpo”. E
Maia é aquele que aproveitou a ausência de Temer, na primeira denúncia,
para se apresentar como seu sucessor, embora dissesse que não. A
imprensa divulgava até seu futuro ministério. E ele lá, tomando sopinha
com deputados, com ares de estadista.
Estão todos de volta. Fachin, para não
variar, está fazendo lambança com sigilo. Quando menos, é ambíguo.
Cármen conhece todos os absurdos derivados da divulgação desses
depoimentos, que só servem para inflamar a opinião pública, mas deixou
que a coisa fluísse. E Maia, ora vejam!, resolveu abrir uma crise
artificial com a defesa de Temer e com o próprio presidente. Querem saber? Fachin, Cármen e Maia…
Ninguém aí me surpreende. Os três cumprem uma vocação. Nunca temam a
ambição talentosa. Mas todo cuidado é pouco com a mediocridade
ambiciosa. “Isso vale para quem, Reinaldo?” Para todos eles: Fachin,
Maia, Cármen e, por óbvio, Janot.