O MOMENTO DE PORNOGRAFIA EXPLÍCITA DO CAPITALISMO — OU DO SOCIALISMO — À MODA PETISTA: Dilma quer que bancos públicos socorram empresa privada do setor naval com R$ 10 bilhões.
O probleminha é que há alguns réus na Lava-Jato no meio do caminho…
Está em curso um troço realmente do balacobaco, que a Folha traz
em sua manchete de hoje. Eu poderia dizer que é a cara do PT. E é. Mas
também é a cara das piores práticas da ditadura militar. E o PT, como é
sabido, mimetiza muitos procedimentos daquele período. O emblema talvez
seja Delfim Netto, guru econômico da linha dura fardada e de Lula. Mas
vamos ao ponto, que sintetizo em tópicos.
1: O
governo petista decidiu estimular a indústria naval brasileira. Que bom!
A companheirada é assim mesmo: executa uma política econômica que
liquida os setores competitivos para estimular aqueles em que o país não
conseguirá ser eficiente.
2: Sob os
auspícios de Lula e Dilma, criou-se a Sete, empresa para construir e
alugar 28 sondas de perfuração, um projeto orçado em US$ 25 bilhões. São
sócios do empreendimento a Petrobras, o Bradesco, o BTG Pactual, o
Santander e os fundos de pensão das estatais.
3: Se a
Petrobras recorresse a empresas estrangeiras para esse serviço,
corrupção à parte, o país sairia ganhando porque gastaria menos. Mas
sabem como é: é preciso lustrar o nacionalismo brucutu.
4: A Sete
está em apuros, informa a Folha. A dívida, em setembro, era de R$ 800
milhões, e a empresa parou de pagar os estaleiros.
5: Aí
Dilma teve uma ideia. É, isso é sempre um perigo. Não é fácil, leitores,
sustentar esse nacionalismo chulé. Custa caro. A presidente chamou os
presidentes do BNDES e do Banco do Brasil — Luciano Coutinho e Aldemir
Bendine, respectivamente — para viabilizar um empréstimo de, atenção, R$
10 bilhões à Sete.
6: Informa
a Folha: “A reunião de Dilma com Coutinho e Bendine ocorreu no fim da
tarde de quarta (14), no Planalto, para analisar principalmente como
‘resolver pendências’ referentes a empréstimo de US$ 3,5 bilhões (cerca
de R$ 9,2 bilhões) para contratação de oito sondas.” Vale dizer: sem uma
solução, não há sonda.
7: Mas não
só: a presidente quer que o BB lidere um consórcio de bancos para
emprestar outros R$ 800 milhões à empresa para resolver seus problemas
imediatos de caixa.
8: Viram
como essa política de desenvolvimento da indústria naval é boa para os
brasileiros que são escolhidos para… desenvolver a indústria naval? Esse
é o capitalismo à moda da casa: socialização do prejuízo.
9: Ocorre que há algumas dificuldades:
a: o primeiro diretor de operações da
Sete foi Pedro Barusco, aquele ex-gerente de serviços da Petrobras, que
fez acordo de delação premiada e aceitou devolver a fantástica soma de
US$ 97 milhões;
b: a maioria dos estaleiros contratados pela Sete pertence a empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato;
c: tanto o BNDES como o Banco do Brasil
querem que a Petrobras e os estaleiros enviem uma carta afirmando que
não houve atos ilícitos nos processos de licitação. Considerando as
personagens envolvidas…
10: Vejam,
então, que coisa fabulosa: o governo decide incentivar a indústria
naval, e a empresa criada, tendo a Petrobras como sócia, vai quebrar se
não receber a injeção de alguns bilhões de bancos públicos, a juros
módicos.
11: A
operação de socorro tem esbarrado em algumas dificuldades porque parte
das personagens envolvidas na história está sendo investigada pela
Polícia Federal.
Assim se
fazem as coisas na República petista: incentiva-se a indústria naval
nativa batendo a carteira dos brasileiros, e os escolhidos para a
empreitada têm a garantia, claro!, de que não vão quebrar. A única
atrapalhação é haver nesse meio alguns réus do maior escândalo de que se
teve notícia no país até agora.
Não
obstante, Joaquim Levy está de olho naqueles que, tudo indica, são os
verdadeiros inimigos do Brasil: os trabalhadores que hoje são pessoas
jurídicas. O ministro quer a carteira deles.
É o capitalismo à moda petista — ou socialismo, tanto faz — na sua fase de pornografia explícita.