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sábado, 10 de dezembro de 2022

TSE quer banir palavras e expressões ‘racistas’ [nem por só nas coxas, pode mais]- Revista Oeste

Corte criou 'canal de denúncias' contra uso dos termos

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lançou uma cartilha que recomenda “banir do vocabulário brasileiro” 40 palavras ou expressões “preconceituosas” e racistas. No documento, o TSE lista “esclarecer”, “escravo”, “meia-tigela” e “nega maluca”. O texto sugere ainda excluir o termo “feito nas coxas”.[o 'feito nas coxas', tem vários sentidos e em um deles - sexual, se refere a ato que não é completo, agora tem que ser completo, nada só nas coxas -  tem que ser dentro, só nas coxas não vale.]

Divulgado em 30 de outubro, durante o encontro Democracia e Consciência, o manual apresenta mais hipóteses que fatos concretos para justificar a censura aos termos escolhidos pela Corte. Produzido pela Comissão de Igualdade Racial do TSE, criada em abril deste ano, o conteúdo é dúbio e bastante impreciso.[uma curiosidade: é competência de uma repartição burocrática, responsável pelas eleições, impor censura em palavras  que nada tem a ver com eleições,  sendo que as próximas eleições estão previstas para 2024? exceto se houver imprevistos, já que como dizia o saudoso Armando Falcão, ministro da Justiça Governo Geisel'o futuro pertence a DEUS'.]

Para o TSE, a palavra “esclarecer” é racista “a partir do instante em que transmite a ideia de que a compreensão de algo só pode ocorrer sob as bênçãos da claridade, da branquitude, mantendo no campo da dúvida e do desconhecimento as coisas negras”. O significado original de esclarecer é a oposição à ausência de luz, que gera dificuldade para enxergar.[em outras palavras, se faltar energia à noite e ficar tudo escuro e uma pessoa disser que não está enxergando nada, por estar tudo escuro, estará sendo racista !!!ou entendemos errado?]

Ao defender a exclusão da palavra “mulata”, por exemplo, o TSE afirmou que, “ainda que a expressão não possua uma origem notadamente racista como defendem alguns, os usos e sentidos que lhe foram empregados acabam por impregná-la deste sentido. Desse modo, merece ser abandonada”. A definição tradicional da palavra mulata é “mulher mestiça das etnias branca e negra”.

No caso de “meia-tigela”, o TSE apresentou três possíveis explicações contraditórias para a origem da palavra: “Embora não haja consenso acerca das origens, a possibilidade de serem compreendidas como memória da escravidão é justificativa suficiente para que as expressões sejam substituídas por outras”.

Também a expressão “mercado negro” foi censurada. “O emprego do adjetivo ‘negro’ na expressão tem o objetivo de sublinhar o caráter ilícito daquela realidade”, observou o TSE. “O negro, nessa construção, é associado ao tráfico de crianças, drogas e armas, ao comércio de produtos contrabandeados.”

Professora esclarece termos
No Instagram, a professora de língua-portuguesa Cíntia Chagas criticou o caso. “Querem denegrir a língua portuguesa”, provocou. “Imbuídos de etimologias falsas, de etimologias de meia-tigela, os inquisidores da linguagem infringem, em branca nuvem, conceitos de dicionários, usos consagrados e tradições, criando um mercado negro vocabular”. Adiante, ela interpela “o que mais terá de ser feito para que esclareçamos a verdade aos incautos, aos ingênuos, aos desavisados?” “O medo de virar ovelha negra faz com que estes aceitem explicações vexaminosas, sem um pestanejo sequer”, observou Cíntia.

Em entrevista a Oeste, Cíntia criticou a “cartilha antirracista” de palavras da esquerda, ela explicou: “Entendo que essa cartilha surgiu no meio de militantes que têm anseio político. Muitas palavras ‘proibidas’ nessa espécie de ‘documento’ nem sequer deveriam estar lá, como ‘denegrir’, cuja origem é do latim ‘denegrare‘, que significa manchar. É óbvio que há expressões que são preconceituosas, como ‘eu não sou tuas negas’. Isso é uma ofensa. As pessoas não têm de falar assim. Caso ocorra, a Justiça está aí. O que me incomoda é a hipocrisia e a mentira de constarem expressões não preconceituosas.”

TSE anuncia “canal de denúncias” contra expressões racistas

Na cartilha, a Corte informou um e-mail específico para denúncias contra expressões racistas que ampliem o manual. “Se você conhece outros vocábulos ou expressões racistas e acredita que devam fazer parte desta publicação, envie a sugestão para nós”, orienta o TSE. “A comissão irá avaliar sua proposta e, em caso de deferimento, ela será incluída em nova edição da obra.”

Leia a entrevista completa com Cíntia Chagas na Edição 87 da Revista Oeste

 

 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Réquiem para Maria Sapatão

Abriram fogo contra Zezé, o da cabeleira. Abatido à queima-roupa, ele não é mais nada – nem transviado 

Tragédia no Carnaval: Maria Sapatão foi fuzilada a sangue-frio, ante os olhares atônitos dos foliões. Numa sequência brutal, os serial killers da bondade progressista abriram fogo contra Zezé, o da cabeleira. Ninguém mais poderá perguntar “será que ele é?”. Abatido à queima-roupa, Zezé não é mais nada – nem transviado. A faxina cultural deixaria Mao Tsé-tung boquiaberto ao avançar sobre a mulata um dos mais famosos símbolos carnavalescos e acabar com sua raça. Quem mandou ficar rebolando?

A decisão tomada por alguns blocos de rua do Rio de Janeiro, de banir as marchinhas com referências às tradicionais figuras supracitadas, é mais um passo épico da revolução moderna. O processo é comovente: você reúne toda a sua bravura para sair em defesa da mulata contra um preconceito que ela não sabia que sofria. Mas você, humanista de plantão, sabe. E vai ensiná-la a se sentir violentada pelo racismo sempre que ouvir a palavra “mulata” que é evidentemente uma expressão cruel, hedionda e cunhada como instrumento de dominação da elite branca.

Antes de tomar essa atitude corajosa, você era um alienado, um espírito de porco, enfim, um idiota. Mas, depois de conseguir transformar a mulata em credora da opressão racial e fazê-la odiar quem a chama de mulata, você é um revolucionário.  O Brasil e o mundo estão avançando rumo às cotas mentais. Essa gente descolada e consciente está aí para não deixar ninguém se esquecer de que a escravidão foi ontem – como diria Barack Obama – e que esse flagelo da humanidade só será superado se um dia as pessoas pularem Carnaval pensando nisso. Chegaremos à perfeição quando uma negra ganhar um beijo de um branco atrás do trio elétrico e devolver-lhe uma chibatada – acerto de contas.

O fenômeno politicamente correto é uma bênção. Quanta gente medíocre estava aí pelos cantos sem saber o que fazer com sua mania de grandeza? Era um cenário desolador, de dar pena mesmo, que felizmente está superado. Hoje você joga uma frase qualquer contra a homofobia nas redes sociais e pode correr para o abraço. “Aí eu vou pra galera!”, exclamaria o Seu Boneco, personagem do tempo em que o exibicionismo canastrão era piada. O que os gays que fizeram história há 50 anos em San Francisco devem estar achando desses nerds brincando de vanguarda sexual?

Não interessa. A vida real e as transformações verdadeiras dão muito trabalho – e não permitem ir “pra galera” na velocidade de um clique. Legal mesmo é a narrativa. Essa é molezinha – e faz milagres na vida dos inúteis. Para vocês terem uma ideia, o Brasil teve recentemente uma presidente da República afastada por delinquência – e essa pobre coitada não só continua a salvo da polícia, como a narrativa da “presidenta” ainda lhe vale uma bela trincheira mercadológica. Entenderam? A credencial de mulher progressista vale para todos os Carnavais – inclusive esses em que Maria Sapatão foi barrada. Fantasia é tudo.

O bom dessa revolução é que ela é prática – você declama seus conceitos de R$ 1,99 e triunfa. Sendo progressista, portanto uma pessoa boa, portanto a favor dos fracos, portanto guardião do que é nosso, portanto defensor da Petrobras, você pode roubar a Petrobras sem deixar de ser do bem. Sendo contra o Cunha (lembram-se dele?), você pode virar herói da resistência democrática contra o golpe – e, se sua posição favorecer a narrativa da quadrilha, ninguém vai nem notar.

Um marciano que pousasse agora na Terra perguntaria a você, à luz de seus conceitos de 1,99, qual a diferença entre uma revolução progressista e uma recaída moralista. A criatura esverdeada quereria saber se essa onda de botar a cor da pele, a opção sexual e o atestado ideológico à frente de tudo é combate ao preconceito ou exploração dele. Se você não o chamasse de fascista e o mandasse voltar para Marte, o alienígena ainda lhe perguntaria, inocentemente, se bordoada de policial malvado é mais dolorosa do que rojão de militante bonzinho.

Esses marcianos são insuportáveis e não entendem nada de humanismo. Você é capaz de entrar numa conversa dessas se achando moderno e sair com a certeza de que é reacionário. Se surgir um desses na sua frente, não hesite: tranque-o no armário, junto com Maria Sapatão e a cabeleira do Zezé.

Fonte: Guilherme Fiuza - Época