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sábado, 28 de outubro de 2023

O lar brasileiro de hoje está pior do que no tempo da escravidão - Bruna Frascolla

Vozes - Gazeta do Povo

A concepção de humanidade com a qual o Brasil foi formado fez dele um lugar melhor.

A concepção de humanidade com a qual o Brasil foi formado fez dele um lugar melhor.| Foto: Victor Meirelles/Domínio público 

Em seu As sinhás pretas da Bahia: Suas escravas, suas joias (Topbooks, 2021), Risério desfaz muitos mitos das historiografias oficiais do Brasil. Um deles, ao qual se dá pouca atenção, é relativo ao casamento de escravos. Cito-o: “Até à década de 1970, à maneira de Florestan Fernandes, nossos historiadores e sociólogos consideravam impensável a ideia de que escravos tivessem formado unidades familiares estáveis e duradouras em nosso país. Hoje, reconhece-se que eles foram capazes não só de estabelecer a família nuclear como de articular a chamada 'família extensa'. Filhos e filhas de negros escravizados chegaram muitas vezes a nascer e crescer sob os olhares conjuntos do pai e da mãe. 
Para trazer à luz um só aspecto, escravos que se casavam, sob a bênção da Igreja Católica, deixavam o ambiente promíscuo da senzala e passavam a ter um canto só para eles, marido e mulher, acompanhados somente pelos filhos, no crescimento da família conjugal” (p. 93).
 
Ou seja, a narrativa segundo a qual a escravidão impedia os negros de formarem família é a enésima importação indevida da realidade norte-americana para analisar o Brasil. 
Nos EUA, sim, as famílias dos negros eram desmembradas à medida que o proprietário ia vendendo os escravos. 
Nos EUA, a alforria era fenômeno raríssimo, e um racismo de origem religiosa, profundamente arraigado, vedava aos negros quaisquer possibilidades de ascensão social por meio da integração.
 
A diferença entre nós e eles tem origem teológica. A Igreja Católica leva a sério a afirmação de que o homem, sem predicações raciais ou étnicas, é feito à imagem e semelhança de Deus.  
A diferença entre um índio canibal, um escravo africano e um português era que os dois primeiros ainda não receberam a boa nova e ainda não foram batizados. 
Uma vez batizados, todos eram igualmente filhos de Deus.
 
A racialização do cristianismo, ao menos na modernidade, começa com Lutero, que considerava os espanhóis indiscerníveis dos mouros, turcos e judeus
Lutero, como se sabe, era um tremendo antissemita no sentido literal do termo: odiava a descendência de Sem, que incluía árabes e judeus. 
A Península Ibérica, a seu turno, tinha muito sangue semita graças ao período que permaneceu sob o Califado Omíada.

    As crianças do mundo liberal vão se parecendo cada vez mais com as crianças da Romênia comunista, que foram largadas em orfanatos estatais depois de os dirigentes resolverem aumentar a natalidade a qualquer custo

Com o calvinismo, porém, inicia-se (e aprofunda-se) uma racialização em sentido oposto: com a doutrina da predestinação, Deus tem dentre os homens uns poucos eleitos. 
Reaviva-se, assim, a ideia primitiva e anti-universalista do judaísmo, segundo a qual Deus tem um único povo eleito, alguns filhos prediletos. Em Os judeus e a vida econômica, Werner Sombart considera que puritanismo é judaísmo (ao menos uma imitação), e recolhe evidências de que uma verdadeira adulação aos judeus surgiu na Inglaterra pouco após a chegada do séquito de sefarditas que acompanharam Catarina de Aragão. Menciona, por exemplo, que os levellers se referiam a si mesmos como judeus – coisa impensável tanto no mundo católico quanto no mundo luterano. 
E hoje vemos os descendentes dos puritanos na América bancando um Estado judeu como uma espécie de exclave sagrado no Oriente Médio.
 
O Destino Manifesto é outra emanação do calvinismo: Deus escolheu o povo que colonizou os EUA; e este tem direito a dominar o mundo. No mundo calvinista, o fiel pode dizer “nós, os eleitos”, e vós (resto do mundo), os rejeitados do Pai. 
É um convite à dominação do homem pelo homem e à desumanização do dominado. 
E isso se refletiu na história dos EUA, que mataram ou expulsaram do seu convívio todos os índios (que tinham, sob o México, uma boa relação), e consideraram os negros uma raça inferior, que deveria ou ser mantida escrava (segundo os sulistas escravocratas) ou deportada “de volta” para a África (segundo o Norte abolicionista).  
Com a vitória do Norte, criou-se a Libéria para deportar negros. Isso de deportar segundo a raça, como se vê, não foi invenção dos nazistas.
 
Apesar da difusão do ateísmo pelo ocidente pós-protestante, o espírito do calvinismo não morreu; em vez disso, tornou-se ainda mais materialista. Veja-se por exemplo o casal Collins, “que se identifica como calvinista secular, é particularmente atraído pelo princípio da predestinação, que sugere que certas pessoas são eleitas para serem superiores na Terra e que o livre arbítrio é uma ilusão. Acreditam que o pró-natalismo é uma consequência natural dos movimentos filosóficos que tomam o polos de tecnologia como as colinas de Silício em Austin, Texas.” Como vocês podem ler em português nesta Gazeta, o pró-natalismo do casal, e não só dele, se baseia na crença em QI.  
Desta maneira, pode-se até negar que se seja racista, já que existem negros com QI alto. 
Por outro lado, usa-se uma via secular para cultuar judeus do mesmo jeito, apontando-se o alto QI médio de judeus asquenazitas.
 
Mas o mais curioso, mesmo, é que (como apontei ano passado) essa crença na determinação do QI pela genética não se sustenta sequer cientificamente. 
Afinal, QI é uma junção de matéria (genética) e interação humana. 
Criar um ser humano não é a mesma coisa que preparar uma sopa Maggi. Os dados do QI de negros vêm dos EUA, onde tais famílias são especialmente desestruturadas. 
Por outro lado, as famílias asquenazitas são estruturadas. 
Resolver que a raça funda a diferença populacional é uma decisão arbitrária. 
Nos EUA, os negros foram submetidos a um exército de assistentes sociais voltados ao aborto e à dissolução da família; logo, era de esperar que o QI fosse mais baixo mesmo.

    Hoje, o que as Big Techs vêm consolidando é aquilo que na Idade Média se chamava de “comunismo de mulheres”: nenhum homem tem direito a uma mulher só sua, porque todas são socializadas

No século XXI, estamos, cada vez mais, virando aquilo que os negros eram nos Estados Unidos: os enjeitados de Deus, sob a opressão dos eleitos autoungidos. 
A queda de QI já é uma realidade generalizada e, até onde se saiba, inédita. 
E a explicação não é uma piora no stock racial; em vez disso, trata-se de redução das relações humanas na formação das crianças. 
As crianças do mundo liberal vão se parecendo cada vez mais com as crianças da Romênia comunista, que foram largadas em orfanatos estatais depois de os dirigentes resolverem aumentar a natalidade a qualquer custo.
 
Era mais fácil, portanto, um filho de escravos brasileiros casados esperar ter o pai em casa do que um filho das classes média e baixa de hoje
Agora deixemos as crianças e vejamos então o escravo negro adulto dos calvinistas: ele tinha direito a uma esposa? Não. 
A mulher tampouco tinha direito a um marido. 
Hoje, o que as Big Techs vêm consolidando é aquilo que na Idade Média se chamava de “comunismo de mulheres” (e que surgiu na Reforma protestante também, com João de Leyden): nenhum homem tem direito a uma mulher só sua, porque todas são socializadas. 
O resultado disso, num regime capitalista, é a prostituição universal
Para implementar isso, a propaganda progressista apelou para duas frentes: aos homens jovens, disse que seria muito bom ter uma porção de mulheres; às mulheres, disse que se não desejassem uma porção de homens, eram reprimidas e problemáticas. 
(Louise Perry abordou o assunto pouco tocado, que é a pílula ter deixado as namoradas sem um pretexto para dizer “não” sem magoar. As mulheres foram talhadas pela natureza para serem mais seletivas e, portanto, quererem menos parceiros sexuais do que os homens.)  
 
Acabar com a limitação do sexo ao âmbito do casamento foi relativamente fácil, com a pílula; e foi possível tocar a sociedade com famílias estruturadas assim. Primeiro os casais namoravam (com sexo), depois casavam. Mas o que estamos vendo agora é, também, o fim do namoro.  
Os rapazes são seduzidos pela ideia de que podem ver qualquer moça pelada por uma modesta quantia de dinheiro, e as moças são seduzidas pela ideia de que podem ganhar dinheiro fácil – e só uma problemática e reprimida não acharia ótima a ideia de ganhar dinheiro pelada com fotos descoladas.
 
O caso mais recente é o do viral “Beiçola do Onlyfans”: uma moça de Porto Alegre ficou famosa nas redes pelo marketing ousado, e o clube do bolinha não tardou em apelidá-la de “Beiçola do Onlyfans”, por sua pouca lisonjeira semelhança com o dono da pastelaria de A Grande Família. 
Ao cabo, a jovem Beiçola se encontrou com o ator que interpretava Beiçola e anunciou alguma doação para ele, passando assim a ser vista como boa moça e ganhando muita simpatia dos (outrora) haters. 
Em seguida, a plataforma na qual ela vende as fotos (uma tal de Privacy, não Onlyfans) anunciou que ela ganhou 500 mil reais com as fotos. 
Bom, ao menos no mundo anglófono, é sabido que o boom do Onlyfans, em 2020, se valeu muito da divulgação de valores inflados para convencer as mulheres de que se vender assim era bom negócio.
 
Pois então: uma escrava do Brasil colonial podia viver em paz sem sequer imaginar que milhares de homens deveriam vê-la pelada, ou que ela deveria querer transar com vários homens
Por outro lado, um escravo no Brasil colonial poderia ter para si, grátis, uma mulher que lhe desse atenção, e que não fosse dividida com nenhum outro homem.

Bruna Frascolla, doutora em filosofia - Gazeta do Povo - VOZES


segunda-feira, 24 de julho de 2023

Animais selvagens - Revista Oeste

Rodrigo Constantino

A esquerda radical quer desumanizar a “extrema direita” para que esteja justificado moralmente todo tipo de agressão contra os adversários do petismo


Campo de concentração nazista Auschwitz, em Oświęcim, Polônia | Foto: Shutterstock

O presidente Lula afirmou que os envolvidos na suposta agressão contra Alexandre de Moraes e o filho do ministro no Aeroporto de Roma são “animais selvagens”. Lula disse: “Nós precisamos punir severamente pessoas que ainda transmitem o ódio, como o cidadão que agrediu o ministro Alexandre de Moraes no Aeroporto de Roma. Quer dizer, um cidadão desse é um animal selvagem, não é um ser humano”
O presidente quer “civilizar” esses “selvagens”.
 
Desumanizar pessoas foi uma estratégia crucial para o nacional-socialismo de Hitler. 
Nem temos ainda as imagens do que de fato aconteceu em Roma, e as versões são conflitantes. 
Não obstante, Lula já tem o veredito e quer “extirpar” pessoas como as que tiveram o entrevero com o ministro Alexandre e seu filhoque não é um adolescente, como O Globo ilustrou, mas um homem de quase 30 anos.

A jornalista Paula Schmitt comentou: “A desumanização de um grupo homogêneo é o primeiro passo para a instalação de uma tirania. Assim foi no Nazismo. Não importa o critério: raça, nível de educação, classe social, ideologia política. O que importa é a fácil identificação do inimigo, e a divisão irreversível da nação”. Ela está certa.

David Livingstone Smith, em seu excelente Less Than Human: Why We Demean, Enslave, and Exterminate Others, procura compreender o que permitiu ao longo da história tanta escravidão, xenofobia e genocídio. Aqueles considerados sub-humanos não possuem, pela ótica de seus detratores, aquela coisa especial que não é fácil de explicar, mas que nos torna humanos. Por causa desse déficit, não desfrutam do respeito que normalmente estendemos a toda a nossa espécie.


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Fechar os olhos para a possibilidade de que tais crueldades poderiam ser praticadas por quase qualquer um, dependendo da circunstância e do processo de lavagem cerebral, pode ser uma visão confortante, mas não necessariamente será verdadeira. 
Por isso a desumanização é mais comum na história do que gostaríamos. Ela é um lubrificante psicológico que dissolve as inibições morais e inflama paixões destrutivas. Dessa forma, ela leva as pessoas a agir de uma maneira que, em situações normais, seriam impensáveis.
 
Todos sabem, no fundo, que é errado matar uma pessoa
Mas e um rato? 
E exterminar um vírus perigoso? E caçar uma presa natural? E combater uma praga ameaçadora? E se livrar de um bicho peçonhento e asqueroso? 
Para quem coloca em prática atos de extermínio, é uma dessas visões que prevalece do alvo: ele deixa de ser outro ser humano e passa a ser um animal inferior. 
O Holocausto é o caso mais absurdo de genocídio, um dos mais nefastos. Mas não é o único.
 
Várias pessoas comuns, que em outras esferas da vida levavam vidas aceitáveis ou mesmo decentes, endossaram o nazismo. 
Eram seres humanos, e isso é o mais chocante e assustador. 
Foi o fato de realmente verem suas vítimas como ratos, não mais como seres humanos, o que permitiu que tanta gente aceitasse a “solução final” de Hitler. 
Ou a “limpeza” feita pelo Khmer Vermelho no Camboja comunista, que exterminou um terço da população.
 
Militares adoram se referir a seus alvos com metáforas de animais. Muitas vezes são mais do que apenas metáforas; é como realmente enxergam os outros.  
Os soviéticos encaravam os kulaks, pequenos proprietários, como vermes. Os comunistas do Khmer Vermelho, mencionado acima, viam suas vítimas como “macacos”.  
A série Black Mirror tem um episódio sobre isso, com um programa militar chamado Mass, implantado nos soldados para que eles vejam os inimigos como animais, monstros, os tais “roaches” (diminutivo de “baratas”). 
 Cena do episódio Roaches, da série Black Mirror | Foto: Reprodução
 
Estatísticas mostram que muitos soldados nem sequer chegam a disparar suas armas em combates, e os que matam adversários costumam muitas vezes demonstrar problemas psicológicos depois. 
Para que se tornem máquinas assassinas mais eficazes, a ideologia se faz necessária, tanto o nacionalismo de um lado como a desumanização do inimigo do outro. No caso, a tecnologia veio suplantar essa “falha”.

Não resta dúvida de que, se a própria sobrevivência da civilização está em jogo, como no caso da Segunda Guerra, nós só podemos torcer para que os militares do lado certo matem sem dó nem piedade os nazistas. Somente pacifistas bobocas (e hipócritas) poderiam dizer o contrário. Mas o dilema moral persiste: são seres humanos morrendo, por mais que tentemos vê-los como bichos.

Se bem que, em certos círculos “progressistas”, os bichos já valem mais do que o ser humano. 
Há em curso um esforço crescente de humanizar bichos ao mesmo tempo que se reduz o valor do ser humano, tido como a maior “praga” do planeta. Chegará o dia em que a morte de uma galinha despertará muito mais comoção, revolta e indignação do que a morte de milhões de fetos humanos. 
O ovo da tartaruga já é mais valioso para alguns esquerdistas do que os bebês humanos em gestação no ventre materno. [imperioso que não seja olvidado que o 'aborto' - que é defendido por milhões de esquerdistas entre eles o atual presidente do Brasil -  é a tese que dá abrigo aos esquerdistas que valorizam mais um ovo de tartaruga do   que um ser humano inocente e indefeso.]Ilustração: Ekaterina Glazkova/Shutterstock

Mas como a vida humana ainda é considerada sagrada para a imensa maioria, talvez por inércia do cristianismo, quem quer exterminar adversários precisa partir para a tática da desumanização.  
A imensa maioria dos seres humanos hesitaria em matar ou torturar outro da mesma espécie. 
Mas esses escrúpulos se perdem quando estamos diante não mais de outro ser humano, e sim de uma ratazana ou de uma cobra. 
Ao retratarmos os outros como animais perigosos ou parasitas, tal retórica se mostra perigosa, pois mexe com nossos medos mais profundos. 
Tais técnicas de discurso incentivam o terror e fecham nossa mente.


A desumanização é extremamente perigosa justamente porque oferece ao cérebro os meios pelos quais podemos superar as restrições morais contra os atos de violência.

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Leia também “As cartas de um aprendiz do Diabo”

ÍNTEGRA DA MATÉRIA, CLIQUE AQUI

Coluna Rodrigo Constantino, Revista Oeste

 

 

 

quarta-feira, 12 de julho de 2023

Deputados usam PEC para blindar trecho considerado racista no hino do RS

 Partes do hino do Rio Grande do Sul incomodam a população negra. A principal queixa é com o trecho que diz que "povo que não tem virtude, acaba por ser escravo"

A Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aprovou, na terça-feira (11/7), por 38 votos a 13, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que blinda os símbolos estaduais de eventuais mudanças, como o hino, o brasão e a bandeira. 
Com a legislação, que ainda precisa ser aprovada em segundo turno para entrar em vigor, partes do hino do estado considerados racistas e que incomodam a população negra permanecerão como estão. Um dos trechos diz que "povo que não tem virtude, acaba por ser escravo". Segundo os críticos, a aprovação da PEC preserva uma tradição do "período do colonialismo e da escravidão". [símbolos nacionais ou estaduais buscam cultuar e reservar tradições e não podem estar sujeitos a interpretações feitas por leigos. A escravidão foi um FATO - que, graças a DEUS,  foi EXTINTA no Brasil há 135 anos, pertence ao PASSADO e lá deve ficar.
Se formos retirar fatos históricos dos símbolos, logo surgirão propostas para retirar até da biografia de personalidades ou de atos o fato que a tornou uma personalidade ou colocou aquele ato em destaque.
Não será surpresa se logo pretenderem retirar da definição do que foi a LEI ÁUREA, a menção que foi através dela que foi extinta a escravidão no Brasil e da biografia da Princesa Isabel,  menção ao fato de ser ela a autora da referida lei.]

Proposta pelo deputado Rodrigo Lorenzoni (PL) e outros 19 parlamentares, a PEC visa impedir que se coloque em discussão as alterações dos trechos do hino"A nossa tradição e a nossa história mostram que somos um só povo", defendeu Rodrigo, filho do ex-ministro Onix Lorenzoni. Enquanto discursava na tribuna, manifestantes se viraram de costas para ele, em protesto.

Em oposição, a deputada Luciana Genro (PSOL) argumentou que há um "racismo intrínseco" na estrofe do hino do estado. "Nós ocupamos um lugar de privilégio em uma sociedade onde as pessoas negras são as que detêm os menores salários, detêm as menores oportunidades, trabalham nos serviços mais duros e vivenciaram, ao longo da história desse país, a crueldade e o crime da escravidão", pontuou.

Desde 1838, o hino do Rio Grande do Sul já foi alterado três vezes para retirar trechos considerados polêmicos. "O Hino Rio-Grandense que hoje é cantado possui uma história bastante peculiar. A partir de sua criação, muitas controvérsias se apresentaram no caminho até o formato atual. Existe o registro de três letras para a composição, desde os tempos do Decênio Heróico (como também se conhece a Revolução Farroupilha) até agora. Num espaço de tempo de quase um século, as três letras diferentes foram utilizadas até que uma comissão abalizada definisse o formato final", informa o governo.

A letra do hino é de Francisco Pinto da Fontoura, a música é de Comendador Maestro Joaquim José Mendanha e a harmonização de Antônio Corte Real. Parlamentares da oposição defenderam que o povo negro seja mais ouvido pela Assembleia Legislativa. "Esse debate só acontece porque pela primeira vez na história chegou uma bancada negra nesta Casa", disse a deputada Bruna Rodrigues (PCdoB).

Política - Correio Braziliense


sexta-feira, 7 de julho de 2023

Vendilhões eleitos - Sílvio Lopes

        Há os chamados direitos inalienáveis do homem, ditados pelo próprio Criador. São eles: direito à vida, à liberdade e o de cada um buscar a sua própria felicidade. Quanto aos dois primeiros, prova-nos o exemplo de nações que alcançaram graus elevados de desenvolvimento econômico e padrões de vida superiores, cabe ao Estado sustentar e dar garantias.

Isso posto, ao ambiente social e cultural é concebido forjar e desenvolver as condições indispensáveis para levar a nação ao nível geral de prosperidade e bonança. A busca da felicidade, no entanto, não é tarefa do Estado nem sua função garantidora, mas objetivo de cada um de nós, no exercício do chamado "livre arbítrio".  
Já os pré-requisitos para o desenvolvimento integral da nação poderiam ser condensados em: 
1) Amor ao trabalho; 
2) Hábito da poupança e 
3) Virtude da honestidade. 
Combinados, esses são os fatores, por exemplo, que tornaram os Estados Unidos na grande potência econômica que todos conhecemos um dia (sua decadência hoje, palpável, é reflexo da relativização desses valores, que não é propósito aqui destacar).
 
No Brasil de hoje, o que nos contempla? Dos valores inalienáveis da Criação( vida, liberdade e busca da felicidade), as duas primeiras o Estado sequer nos garante -  mesmo sendo sua obrigação. 
E como buscar a felicidade, se realizar na vida mesmo tendo amor ao trabalho, o hábito (embora ainda insuficiente) da poupança num país onde a virtude da honestidade passa longe do caráter de nossas lideranças?  
Onde o curriculum vitae recheado de titulação é preterido à extensa folha corrida policial na escolha de nossos líderes?  
Do líder maior da nação, inclusive? 
Um país em que, a exemplo de Judas Iscariotes, que entregou Jesus por 30 moedas de prata, seus representantes no parlamento "entregam" de bandeja os destinos da nação a uma quadrilha disposta a desgraçar seu povo e condená-lo à miséria, desonra, escravidão e desesperança?

Ter paciência é ser sábio, se por isso entendemos "o saber a hora de agir, jamais esperar acontecer"; se, no entanto, continuarmos "acomodados", ou seja, " deixando a vida nos levar" (como reza a velha canção), aí sim iremos de fato mergulhar direto e sem rodeios no calabouço da destruição ética e moral da sociedade, e onde (aí sim), haverá sangue, choro e ranger de dentes. A hora é agora. Antes que seja tarde. Acordemos.

*       O autor, Sílvio Lopes, é jornalista, economista e palestrante.


sexta-feira, 5 de maio de 2023

A escravidão volta a vigorar no Brasil - Revista Oeste

Edilson Salgueiro

Com o objetivo de apagar o legado de Jair Bolsonaro, Lula sepulta o Médicos pelo Brasil e desenterra o Mais Médicos de Dilma Rousseff, que se transformou num instrumento político da ditadura cubana

 

 Governo Lula volta com o programa Mais Médicos | Fotos: Walterson Rosa/MS

Aplausos efusivos de um punhado de engravatados conduziram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao púlpito instalado no Palácio do Planalto. Naquele 3 de março de 2023, o petista anunciaria a retomada de um programa que submeteu milhares de profissionais de saúde cubanos à escravidão: o Mais Médicos, lançado há dez anos pela ex-presidente Dilma Rousseff.

Entusiasmado com a recepção da plateia, formada por ministros e jornalistas ideologicamente alinhados, Lula defendeu a volta do programa, que fora suplantado por um projeto mais eficiente — o Médicos pelo Brasil, sancionado em 2019 pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. "O importante não é saber a nacionalidade do médico, mas a nacionalidade do paciente, que é um brasileiro que precisa de saúde”, disse o petista.

A declaração de Lula é uma tentativa de diminuir a desconfiança da população e das instituições especializadas sobre o Mais Médicos. Mas esse discurso sucumbe à realidade dos fatos. De 2013 a 2018, por exemplo, mais de 11 mil cubanos estiveram em 3 mil cidades brasileiras — ocupando 60% do total das vagas disponíveis. Brasileiros com formação no exterior (5 mil) e intercambistas (3,5 mil) preencheram as vagas restantes.

O Mais Médicos beneficiou 63 milhões de brasileiros espalhados por 4 mil municípios. Mas ninguém foi tão favorecido quanto a casta política cubana. Segundo o acordo intermediado pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), a ditadura instalada em Cuba tinha o direito de embolsar 70% do salário dos médicos, estimado em R$ 12 mil. Outros 25% ficavam com quem trabalhava de fato, enquanto 5% pertenciam à Opas.

Enviar médicos para o exterior não era apenas uma maneira de o governo cubano ganhar dinheiro, mas também uma estratégia de propaganda. Havana pretendia vender para o mundo a imagem de potência médica.Jalecos extraditados
Assim que Bolsonaro venceu as eleições presidenciais de 2018, a ditadura cubana determinou que seus médicos deixassem o Brasil e voltassem para a terra natal. De acordo com o advogado André de Santana Corrêa, representante dos cubanos no país, a decisão de Havana atenta contra a Constituição Federal. “Essa medida fere quatro princípios fundamentais: o direito adquirido, a dignidade humana, a isonomia e o valor social do trabalho”, afirmou.

Corrêa argumenta também que o rompimento do acordo não é justificável, porque ambos os governos chamaram os médicos para trabalharem no Brasil por seis anos — e acabaram excluídos ao fim dos três primeiros. “Isso nos traz a ideia de escravidão moderna, como se os médicos cubanos fossem commodities”, ressaltou. “Eles tinham a perspectiva de melhorar suas condições de vida. Infelizmente, esse sonho não se tornou realidade.”André de Santana Corrêa é advogado dos médicos cubanos no Brasil | Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

Quase 200 médicos entraram na Justiça e pediram que seus contratos fossem negociados individualmente com o governo brasileiro. Em resposta, Havana passou a se movimentar para descobrir quem eram os cidadãos que estavam se rebelando. Havia um motivo especial: Cuba deixaria de abocanhar cifras milionárias à custa do trabalho alheio.

Uma decisão da9ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal deu parecer favorável aos médicos cubanos. Segundo o órgão, a questão não diz respeito ao cumprimento de um acordo bilateral, mas à necessidade de garantir aos profissionais de saúde a possibilidade de exercerem sua liberdade.

Nos Estados Unidos, a Justiça deu esperança aos profissionais que se sentiram ludibriados pelo governo de Cuba e pela organização que intermediou a negociação. Em abril de 2022, o Tribunal de Apelações do Distrito de Columbia concedeu a quatro cubanos que trabalharam no Mais Médicos o direito de processarem a Opas. Na denúncia, os profissionais alegam ter exercido trabalhos análogos à escravidão entre 2013 e 2018. Intermediária financeira de Brasília e de Havana, a Opas usou sua própria conta bancária nos EUA para converter reais brasileiros em dólares e transferir uma quantia significativa de dinheiro para a ditadura cubana,como mostrou reportagem do Wall Street Journal.Raio X
É na esteira desses problemas que a equipe de Lula formulou aMedida Provisória n° 1165/2023. A matéria visa a restabelecer o Mais Médicos como o principal programa de direcionamento de profissionais para a rede de atenção primária à saúde (APS), que envolve prevenção, diagnóstico, tratamentos de baixa complexidade, reabilitação e cuidados paliativos. Há a previsão de contratar 15 mil pessoas em 2023, ampliando o total de participantes para 28 mil. Nesse cenário, o Médicos pelo Brasil perde o protagonismo.

O programa lançado durante o governo Bolsonaro recebeu a aprovação depois de extenso debate entre o Ministério da Saúde, o Congresso Nacional e as instituições especializadas que representam 560 mil profissionais habilitados nos Conselhos Regionais de Medicina (CRM). Já o Mais Médicos de Lula propõe ideias desfavoráveis para a classe médica, como o vínculo profissional exclusivamente por bolsa e a contratação de profissionais formados no exterior — sem a necessidade de revalidação do diploma.


O programa ressuscitado por Lula não prevê a fixação dos médicos nas comunidades — uma das questões mais importantes da atenção primária à saúde

“Participei desse debate no Parlamento”, disse o deputado federal Marcel van Hattem (Novo-RS). “Em que pese programas sempre terem espaço para aprimoramento, felizmente o Médicos pelo Brasil teve a discussão com a sociedade que faltou — propositalmente, em larga medida — na época do lançamento do Mais Médicos por Dilma. A Medida Provisória n° 1165/2023 havia sido assinada no mesmo dia em que médicos cubanos eram colocados em aviões e enviados como commodities ao Brasil, sem a menor discussão.”Há diferenças fundamentais entre os programas

Algumas diferenças entre os programas chamam a atenção. No Médicos pelo Brasil, por exemplo, é possível estabelecer vínculos empregatícios com os profissionais depois do período de atuação por bolsa (dois anos). Há também a possibilidade de progressão salarial até R$ 36 mil para os médicos que atuarem em regiões de maior vulnerabilidade social. No Mais Médicos, por sua vez, o modelo de remuneração é exclusivamente por bolsa. Os profissionais recebem cerca de R$ 13 mil, mais gratificação equivalente a R$ 2,5 mil por mês, caso trabalhem durante quatro anos em regiões vulneráveis.

As distinções não param aí. O Mais Médicos retoma a possibilidade de contratação de profissionais formados no exterior — sem diploma revalidado — para preencherem os possíveis vazios assistenciais. No Médicos pelo Brasil, os profissionais com formação em outros países precisam comprovar sua competência através do Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituição de Educação Superior Estrangeira (Revalida). Na prática, o governo Lula castiga as regiões vulneráveis com médicos desqualificados, aumentando ainda mais a desigualdade entre o atendimento dado à população mais carente e aquele concedido às pessoas mais ricas.Bolsonaro e Queiroga, durante cerimônia de contratação dos primeiros profissionais do Médicos pelo Brasil | Foto: Alan Santos/Presidência da República

Outra diferença: no Mais Médicos 2023, a seleção dos profissionais segue critérios subjetivos. As convocações ocorrem por meio de chamamentos públicos — sem processos seletivos estruturados. Já o Médicos pelo Brasil estabelece regras objetivas, e os profissionais devem fazer uma prova eliminatória.

Por último, mas não menos importante, o Mais Médicos restringe o tempo máximo de atuação dos profissionais a oito anos (ciclo de quatro anos, prorrogáveis pelo mesmo período). No Médicos pelo Brasil, por sua vez, esse tempo é indeterminado para aqueles que possuírem o título de medicina de família e comunidade. O programa ressuscitado por Lula não prevê a fixação dos médicos nas comunidades — uma das questões mais importantes da atenção primária à saúde, segundo especialistas consultados por Oeste.“O PT não é o Partido dos Trabalhadores?”
Agora, Lula tem um nó a desatar: o governo pretende restabelecer o programa de importação de profissionais estrangeiros via Opas? Para o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga, a oposição deveria propor uma emenda à MP 1165/2023 que impedisse a evasão dos recursos dos médicos para ditaduras. “O dinheiro deve ficar com os profissionais”, ressaltou Queiroga. “Sou contra a atual medida provisória. O PT não é o Partido dos Trabalhadores? Por qual motivo não assina a carteira dos médicos? Por que querem que os profissionais trabalhem de maneira clandestina, sem vínculo empregatício?”

Quem participa ativamente do processo de reconstrução da MP 1165/2023 é a deputada federal Adriana Ventura (Novo-SP), que apresentou uma emenda proibindo a transferência de recursos para a ditadura cubana. “Não podemos ser coniventes com a apropriação indevida de pagamentos”, afirmou a deputada, ao argumentar que as bolsas deveriam ser pagas diretamente para os médicos — sem desvio de recursos para intermediários nem organismos internacionais.Adriana Ventura quer barrar o envio de verbas para Cuba | Foto: Reprodução/Wikipedia

O presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Hiran Gallo, também alerta para a seleção de profissionais sem diploma revalidado. “Esse cuidado se ampara em dados estatísticos”, disse. “Desde que foi criado, em 2011, o Revalida já aprovou quase 12 mil médicos — dos quais pouco mais de 7 mil brasileiros (63%) formados no exterior e cerca de 4,5 mil estrangeiros (37%). O número de aprovados equivale a 18% do total de 62 mil candidatos que se inscreveram no exame.”

Apesar de serem maioria entre os aprovados, ressalva Gallo, os brasileiros formados no exterior têm um desempenho levemente pior que o registrado pelos estrangeiros. A média dos primeiros é de 17,8%, com cerca de 38 mil inscritos e pouco mais de 7 mil aprovados. Os estrangeiros chegam a 18,85% de aprovação, com 24 mil inscritos e quase 4,5 mil aprovados.

“A explicação para esse fenômeno está na baixa qualidade das faculdades de medicina, principalmente nas fronteiras do Brasil com o Paraguai e com a Bolívia, que formam a maioria dos estudantes brasileiros que fazem o Revalida”, observou o presidente do CFM. “Apesar da barreira da língua, estudantes de outras nacionalidades têm desempenho melhor que os brasileiros. É um sintoma preocupante.” Para Gallo, admitir a participação de portadores de diplomas estrangeiros sem aprovação no Revalida — de qualquer nacionalidade — configura uma situação de risco para os pacientes. “Especialmente para aqueles que dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde, ou seja, a parcela mais vulnerável da população”, salientou.

O CFM acredita que não há necessidade de celebração de acordos com instituições de ensino superior estrangeiras. Atualmente com 389 cursos, o Brasil é o segundo país em número de escolas médicas no mundo — atrás apenas da Índia, com 392.Hiran Gallo é presidente do CFM | Foto: Divulgação/CFM

Raphael Câmara, ex-secretário nacional de Atenção Primária do Ministério da Saúde, diz que Lula pretende emplacar o Mais Médicos por motivos financeiros. “O valor usado para contratar os profissionais no Médicos pelo Brasil é o dobro do verificado no Mais Médicos”, observou. “O salário é maior, e os custos trabalhistas são altos. O governo prefere contratar mais pessoas, mesmo que sejam menos qualificadas. A ideia é apostar no volume e dizer para os brasileiros que estão fazendo mais contratações.”

No Médicos pelo Brasil, lembra Câmara, os profissionais tinham carteira de trabalho assinada. “Esse vínculo é semelhante ao estabelecido com funcionários da Petrobras”, explicou. “Os médicos não podem ser demitidos sem um motivo concreto. Para demitir, é necessário um processo administrativo complexo. Aqueles que trabalham corretamente permanecem em seus cargos. Há um plano de carreira, o que é absolutamente fundamental.”

Patrícia Izetti, ex-coordenadora-geral de Doenças Crônicas do Ministério da Saúde, acredita que os programas lançados por Lula, Dilma e Bolsonaro têm objetivos distintos. “O Médicos pelo Brasil foi construído para ser uma política de Estado, e não de governo”, argumentou. “O PT quer acabar com esse projeto, pois entende que é uma propaganda do governo Bolsonaro.”Em compasso de espera
A oposição ainda trabalha para reparar os equívocos do Mais Médicos, considerado um dos principais projetos do governo Lula-3. O retorno desse programa, idealizado por Dilma em 2013, simboliza a ressurreição das piores práticas políticas da América Latina — paternalismo, violência e opressão.

É com esse cenário em vista que os parlamentares têm de agir no Congresso Nacional. Quando a discussão sobre o Mais Médicos chegar à Câmara dos Deputados e ao Senado, os representantes do Legislativo terão de definir quais princípios nortearão o debate: o respeito aos direitos humanos, valor indispensável às democracias liberais, ou a veneração às ditaduras, comportamento habitual em países subdesenvolvidos.

O Médicos pelo Brasil é um arquétipo das melhores políticas governamentais, porque tem regras claras, recursos finitos, fiscalização independente e objetivos definidos: atender às necessidades dos mais pobres, que não têm acesso à saúde, e premiar os profissionais competentes. O Mais Médicos, ao contrário, é um modelo perfeito da ineficiência dos programas estatais: regras obscuras, recursos infindáveis, fiscalização atrelada ao governo e objetivos reais indecifráveis.

Leia também “Mais Médicos: jalecos escravizados”

Lula quer levar o país de volta para a UTI.


Edilson Salgueiro,
colunista - Revista Oeste
 
 
 

quinta-feira, 16 de março de 2023

Para Lula, o Brasil não deveria existir - Gazeta do Povo

Vozes - Bruna Frascolla

 

Tupinambás prestes a degustar um inimigo, em xilogravura da obra de Hans Staden. - Foto: Domínio público

Só nesta segunda-feira, apareceram dois pronunciamentos de Lula referentes ao povo brasileiro. Num tuíte, escreveu (ou escreveram para ele): “A sociedade brasileira está tomando consciência de que os indígenas não estão ocupando nenhuma terra sem dono. Na verdade, os indígenas estão ocupando 14% de um território nacional que já tiveram 100%. São os outros 86% que estão ocupando uma terra que era deles”. 
A parte que grifei deveria fazer soar o alarme de qualquer cidadão preocupado com o julgamento do marco temporal, porque o que uma das faces do establishment (o tuiteiro de Lula) está dizendo é que o território nacional pertence aos índios.  
Os índios não podem invadir porque os invasores são, grosso modo, os próprios brasileiros. 
O último censo do IBGE, de 2010, registrou quase 900 mil índios. A população brasileira está estimada em 215 milhões agora.  
Se houver 1 milhão de índios entre os brasileiros, não chegam nem a 0,5% da população brasileira. 
Ou seja, segundo o tuíte oficialmente de Lula, algo muito próximo de 100% da população brasileira é invasora de terras indígenas
Se o MST usar índios para invadir fazendas (coisa que, aliás, já faz), suas reivindicações serão legítimas, porque o brasileiro comum é que é o invasor.
 
O brasileiro nasceu aqui, seus antepassados normalmente nasceram aqui, mas ele não passa de um invasor segundo o seu presidente. Um brasileiro como eu, que, dentre outros, descende de índios e de italianos, poderia reivindicar a cidadania italiana com base no jus sanguinis, mas não passaria de um invasor de terras na sua própria terra natal. 
Nem mesmo a ancestralidade indígena ajudaria, porque ser ou não ser índio é algo étnico e burocrático determinado pelos antropólogos da Funai. Quase todos os 9 milhões de habitantes do Pará são descendentes de índios. Ainda assim são “invasores”, segundo esse fantoche do establishment chamado Lula.
 
É possível especularmos como estariam os índios caso o atual território do Brasil (que aliás foi em grande medida determinado pelos “invasores” brasileiros como o santista Alexandre de Gusmão) fosse deixado intocado pelos europeus e africanos desde o século 16 até os dias de hoje.  
Existia aqui uma montanha de tribos, essas tribos viviam guerreando entre si, se escravizando e se canibalizando (literalmente)
Se houvesse uma Mata Atlântica tão densa quanto a de 1500, isso se deveria à alta mortalidade dos índios e à sua baixa expectativa de vida (que manteriam a população humana muito diminuta), e não a uma consciência ecológica bem desenvolvida entre os índios. 
O homem viveria tentando, com pouco sucesso, não ser tragado pela floresta. 
Em meio a essa luta, usaria a coivara, isto é, o desmatamento por meio de incêndio cuja finalidade é a abertura de um pequeno roçado provisório de mandioca. Apenas a pequenez demográfica, mantida por uma alta mortalidade, manteria as florestas preservadas. Não creio que esse seja um jeito humano de lidar com o problema ambiental.[talvez seja, visto que há uma corrente de ambientalistas que tem como lema: 'salvem o planeta, acabe com a humanidade.']

    O brasileiro nasceu aqui, seus antepassados normalmente nasceram aqui, mas ele não passa de um invasor segundo o seu presidente

Sem dúvida, esse território seria algo muito distante da imagem edênica de bons selvagens felizes e em harmonia com a natureza. Mas o mais relevante nessa idealização é uma ausência: a do Brasil.  
A inexistência do Brasil é precondição para essa idealização. 
Quem sonha com essa fantasia edênica sonha com a inexistência do Brasil. Ela começa com o vilipêndio à nossa história, e só pode ser levada a cabo com a nossa aniquilação.
 
A outra manifestação pública de Lula sobre o povo brasileiro também foi num contexto relativo à questão indígena. Ele deitou falatório num evento com índios em Roraima. [quando o apedeuta presidente abre a boca, só expele MENTIRAS, BAZÓFIAS e BOBAGENS.] O jornal Metrópoles, de Brasília, divulgou em vídeo um excerto do discurso e destacou, em texto, uma frase que deveria causar indignação: “‘Toda desgraça que isso causou ao país, causou uma coisa boa, que foi a mistura, a miscigenação’, diz Lula sobre vinda de negros escravizados para o Brasil”. O politicamente correto baniu o uso da palavra “escravo” e substituiu por “escravizados”. Uma porção de perfis de direita compartilhou a suposta frase infeliz. Se fosse só para apontar que a heresia contra um dogma da esquerda progressista passou impune, muito bem. Afinal, Lula está certo nesta: a escravidão negra foi uma coisa ruim da qual vieram coisas boas.

Desde a Independência, por meio do trabalho de Bonifácio, a África é reconhecida como um dos pilares da formação nacional brasileira. Se eu disser que da escravidão africana não veio nada de bom, vou dizer não só que Machado de Assis e Pixinguinha não eram coisas boas, como que eu mesma e quase todo brasileiro que conheço não somos coisas boas. O povo brasileiro e sua cultura resultaram, em parte, da escravidão africana. Se não houvesse escravidão africana, o Brasil seria um outro país.

    Quem sonha com essa fantasia edênica de um território todo para os índios sonha com a inexistência do Brasil. Ela começa com o vilipêndio à nossa história, e só pode ser levada a cabo com a nossa aniquilação

(Um tempo atrás, antes do reinado de Elon Musk, fiz um comentário despretensioso no Twitter sobre como falar mal da escravidão negra era o único jeito socialmente aceito de reclamar que no Brasil tem preto. Uma horda de perfis com selo azul apareceu indignada e nunca devo ter visto tanto cabelo colorido quanto nessa ocasião. O cientista político Felipe Quintas me chamou para conversar sobre isso no canal dele
Na fala de Lula, porém, obviamente não houve cancelamento. 
Afinal, sabe-se que Lula é uma mulher negra, lésbica, transexual, cadeirante e obesa.)

O jornal escolheu destacar apenas essa fala “polêmica”. Vou reproduzir a fala toda que está no excerto em vídeo: “Depois de exterminar com [sic] milhões de índios, resolveram vender a ideia de que era preciso fazer a escravidão vir pro Brasil porque os indígenas eram preguiçosos, não gostavam de trabalhar. E se eles não gostavam de trabalhar, e se não tinha brancos para trabalhar, porque os que vinham da Europa não queriam trabalhar, então resolveram contar a história de que os índios eram preguiçosos e portanto era preciso trazer o povo negro da África para produzir nesse [sic] país. Ora, toda a desgraça que isso causou ao país, causou uma coisa boa, que foi a mistura, a miscigenação. Da mistura entre indígenas, negros e europeus que permitiu que nascesse essa gente bonita aqui que gosta de música, que gosta de dança, que gosta de festa, que gosta de respeito, mas que gosta de trabalhar para sustentar a sua família, e não viver de favor de quem quer que seja.”

A única coisa positiva que Lula falou do Brasil foi justamente a considerada polêmica. Só não digo que foi a única coisa verdadeira, porque de fato existiu essa ideia de que os índios não serviam para trabalhar e era melhor importar africanos. Se era por serem considerados preguiçosos, eu não sei. Sei é que é muito plausível que o filho da terra não se deixasse dominar com tanta facilidade quanto um africano recém-chegado. Sei também que o escravo negro era muito mais caro que escravo índio, portanto não é verossímil que os senhores de engenho fossem jogar dinheiro fora por puro preconceito quando tinham o chicote na mão.

    Ao importar escravos da África, os senhores de engenho portugueses não “trouxeram a escravidão” porque a escravidão já estava neste território muito antes de Cabral aparecer.  
Os índios a praticavam entre si e os portugueses tinham escravos índios

Mas se Lula enfrentasse só um pouco do escrutínio que Bolsonaro enfrentava, as famigeradas (e extintas?) agências de checagem checariam essa fala e poriam uma porção de carimbos de “falso” ou “duvidoso” nessa má aula de história. Em primeiro lugar, é complicado dizer que os europeus exterminaram milhões de índios. Extermínio sugere ato voluntário. Talvez, somando os três séculos de período colonial, levando em conta todo o atual território nacional e todos os agentes europeus (incluindo o Brasil Holandês, as investidas francesas no Maranhão e no Rio de Janeiro, as incursões espanholas no Rio Amazonas), talvez aí dê para dizer que milhões de índios morreram graças a guerras e doenças. Talvez. Essa é uma questão interessante para demógrafos e historiadores. 
 
E, ainda assim, o que aconteceu no Brasil não merece ser chamado de extermínio indígena, já que a transmissão de doenças não foi voluntária e as próprias guerras eram amiúde movidas em associações de europeus de uma dada coroa e índios de uma dada tribo contra outras associações de outros europeus contra outros índios (vide o caso de Hans Staden em São Paulo, que se viu entre uma guerra de portugueses e tupiniquins contra franceses e tupinambás. Sendo alemão e não tendo cara de português, seus captores tupinambás se dispuseram a adiar a sua morte com receio de matar um francês). A expressão “extermínio” é boa para designar o que os Estados Unidos fizeram com os índios à medida que conquistavam o território mexicano e acabavam com os índios já contactados por missões jesuíticas da Coroa Espanhola.

Caberia ainda dizer que o Brasil não trouxe “a escravidão” da África. No ciclo da cana de açúcar, os senhores de engenho portugueses, na Mata Atlântica nordestina e no Velho Oeste paulista, começaram a importar escravos caros da África. Eles não “trouxeram a escravidão” porque a escravidão já estava neste território muito antes de Cabral aparecer. Os índios a praticavam entre si e os portugueses tinham escravos índios. Se Antonio Vieira é conhecido por lutar contra a escravidão indígena, é porque a escravidão indígena existiu. A novidade da cana foi a vinda de negros, não a presença de escravos.

No mais, Lula repete o vício comum na esquerda de falar da história do Brasil como se nossos 522 anos fossem um compacto de Casa Grande & Senzala (não lido) mais ditadura militar. Primeiro os negros eram escravos em engenhos açucareiros, e depois os militares deram um golpe. Pronto.

Num engenho de Casa Grande & Senzala, de fato os brancos (portugueses e pernambucanos) eram os donos do capital e da terra, compravam servos e não pegavam no batente. Se a esquerda lesse a obra de Freyre, porém, veria que o Brasil era a terra de uma porção de portugueses pobres: desde o aventureiro até os degredados da Inquisição, que eram enviados para cá pelos motivos mais variados. Os portugueses eram merceeiros, caixeiros viajantes, vaqueiros: uma porção de profissões modestas. Com a imigração europeia dos séculos 19 e 20, fica ainda mais difícil dizer que os europeus não trabalhavam. 
A imigração italiana para São Paulo pode ser lida como uma substituição da mão de obra escrava pela mão de obra “em condições análogas à escravidão”, na qual o trabalhador chega amarrado a dívidas. ]
Saiu do cafezal paulista o escravo negro tradicional, entrou o escravo italiano moderno. 
E não faltaria, como no caso da substituição de índios por negros, quem dissesse que precisou trazer o italiano porque o negro é preguiçoso.

   Lula repete o vício comum na esquerda de falar da história do Brasil como se nossos 522 anos fossem um compacto de Casa Grande & Senzala (não lido) mais ditadura militar

Se Lula afirmar inverdades históricas para falar mal do Brasil, ninguém reclama. Mas se Lula fizer uma ponderação positiva sobre o Brasil, aí é oportunidade para algum jornalista desmascarar a hipocrisia dos militantes progressistas, que deixaram passar essa blasfêmia contra os “escravizados”.

Na manhã desta segunda-feira, Lula discursou para “lideranças indígenas” em Roraima, falou barbaridades contra o Brasil (ok), mencionou uma coisinha boa (que horror!), e a pessoa que toma conta do seu Twitter escreveu a barbaridade com a qual comecei este texto, a saber: que nós, uns 99,5% dos brasileiros, não passamos de invasores de terras.

Lula é um septuagenário não muito intelectualizado. Está acostumado a repetir o que a audiência quer ouvir: aos alemães e aos intelectuais, diz que os brasileiros têm luxo demais; ao eleitorado, promete picanha Lula na certa só elogiou a miscigenação porque, após décadas elogiando o povo brasileiro e prometendo-lhe churrasco, de repente tem de aprender que mulheres têm pênis, entre outras coisas mais.

No entanto, podemos divisar com clareza o discurso autorizado pelo establishment por detrás de Lula e da mídia comum que ajudou a elegê-lo: O Brasil e os brasileiros não deveriam existir.  

Se existem, sua história deve ser vilipendiada e seus habitantes devem ser expulsos de suas terras. Este país está marcado para ser terra de ONGs estrangeiras com meia dúzia de índios de estimação e um monte de pobre
E não nos enganemos quanto às suas intenções com os índios: enquanto meia dúzia viaja de avião para abraçar John Kerry e Di Caprio, a maioria dos índios – que pesca, que garimpa, que cria gado e que planta é tratada como criminosa ambiental por essa gente que quer destruir o Brasil.

Bruna Frascolla, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Tudo dominado - Sílvio Lopes

 

                            Vamos despertar?

            Não há como deixar de conectar o que hoje presenciamos com as profecias de Eric Arthur Blair,   o George Orwell, em seu consagrado " 1984", cuja leitura volto a recomendar. Termos como o Grande Irmão( o Estado, teu pai e protetor), o duplopensar, o novidioma, o buraco da memória e 2 + 2= 5... nos impactam poderosamente quando, de repente, a trama ali relatada - idos de 1949 - pode ser facilmente constatada nos fatos que acontecem  nos dias de hoje
Indisfarçáveis e, ao mesmo tempo, nos oferecendo uma visão do chamado- com razão- pesadelo satírico político de Orwell ao se referir a um mundo totalitário e burocrático( para onde avançamos, e a passos largos), que se justifica estar em busca da " libertação" do homem...
 
O que vemos, no entanto, são personagens que lutam, ao invés disso, para nos jogar no buraco da escravidão e da submissão aos seus projetos de uma sociedade totalitária e tirânica jamais vista na história da civilização ocidental
Quando vemos esses tipinhos de gente encher a boca e dela vociferar com ódio e irreverência em defesa da " democracia", podem crer: essa não é a democracia consagrada desde a Grécia antiga, senão que uma cortina que esconde o mais sórdido e miserável desejo de nos tirar o livre pensar, o livre viver, já em curso. Justo para dinamitar a verdadeira democracia.

Atente a isso. Saiba discernir o bem do mal, o engodo da intenção real. Triste é a sociedade que escolhe como líder quem é indigno de sequer conviver com ela, exceto se encarcerado, e muito menos ocupar o pódio de uma nação que um dia almeja alcançar níveis elevados de altivez e decência. Pobre nação essa. Vamos despertar?

O autor, Sílvio Lopes, é  jornalista e economista.

 

sábado, 10 de dezembro de 2022

TSE quer banir palavras e expressões ‘racistas’ [nem por só nas coxas, pode mais]- Revista Oeste

Corte criou 'canal de denúncias' contra uso dos termos

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lançou uma cartilha que recomenda “banir do vocabulário brasileiro” 40 palavras ou expressões “preconceituosas” e racistas. No documento, o TSE lista “esclarecer”, “escravo”, “meia-tigela” e “nega maluca”. O texto sugere ainda excluir o termo “feito nas coxas”.[o 'feito nas coxas', tem vários sentidos e em um deles - sexual, se refere a ato que não é completo, agora tem que ser completo, nada só nas coxas -  tem que ser dentro, só nas coxas não vale.]

Divulgado em 30 de outubro, durante o encontro Democracia e Consciência, o manual apresenta mais hipóteses que fatos concretos para justificar a censura aos termos escolhidos pela Corte. Produzido pela Comissão de Igualdade Racial do TSE, criada em abril deste ano, o conteúdo é dúbio e bastante impreciso.[uma curiosidade: é competência de uma repartição burocrática, responsável pelas eleições, impor censura em palavras  que nada tem a ver com eleições,  sendo que as próximas eleições estão previstas para 2024? exceto se houver imprevistos, já que como dizia o saudoso Armando Falcão, ministro da Justiça Governo Geisel'o futuro pertence a DEUS'.]

Para o TSE, a palavra “esclarecer” é racista “a partir do instante em que transmite a ideia de que a compreensão de algo só pode ocorrer sob as bênçãos da claridade, da branquitude, mantendo no campo da dúvida e do desconhecimento as coisas negras”. O significado original de esclarecer é a oposição à ausência de luz, que gera dificuldade para enxergar.[em outras palavras, se faltar energia à noite e ficar tudo escuro e uma pessoa disser que não está enxergando nada, por estar tudo escuro, estará sendo racista !!!ou entendemos errado?]

Ao defender a exclusão da palavra “mulata”, por exemplo, o TSE afirmou que, “ainda que a expressão não possua uma origem notadamente racista como defendem alguns, os usos e sentidos que lhe foram empregados acabam por impregná-la deste sentido. Desse modo, merece ser abandonada”. A definição tradicional da palavra mulata é “mulher mestiça das etnias branca e negra”.

No caso de “meia-tigela”, o TSE apresentou três possíveis explicações contraditórias para a origem da palavra: “Embora não haja consenso acerca das origens, a possibilidade de serem compreendidas como memória da escravidão é justificativa suficiente para que as expressões sejam substituídas por outras”.

Também a expressão “mercado negro” foi censurada. “O emprego do adjetivo ‘negro’ na expressão tem o objetivo de sublinhar o caráter ilícito daquela realidade”, observou o TSE. “O negro, nessa construção, é associado ao tráfico de crianças, drogas e armas, ao comércio de produtos contrabandeados.”

Professora esclarece termos
No Instagram, a professora de língua-portuguesa Cíntia Chagas criticou o caso. “Querem denegrir a língua portuguesa”, provocou. “Imbuídos de etimologias falsas, de etimologias de meia-tigela, os inquisidores da linguagem infringem, em branca nuvem, conceitos de dicionários, usos consagrados e tradições, criando um mercado negro vocabular”. Adiante, ela interpela “o que mais terá de ser feito para que esclareçamos a verdade aos incautos, aos ingênuos, aos desavisados?” “O medo de virar ovelha negra faz com que estes aceitem explicações vexaminosas, sem um pestanejo sequer”, observou Cíntia.

Em entrevista a Oeste, Cíntia criticou a “cartilha antirracista” de palavras da esquerda, ela explicou: “Entendo que essa cartilha surgiu no meio de militantes que têm anseio político. Muitas palavras ‘proibidas’ nessa espécie de ‘documento’ nem sequer deveriam estar lá, como ‘denegrir’, cuja origem é do latim ‘denegrare‘, que significa manchar. É óbvio que há expressões que são preconceituosas, como ‘eu não sou tuas negas’. Isso é uma ofensa. As pessoas não têm de falar assim. Caso ocorra, a Justiça está aí. O que me incomoda é a hipocrisia e a mentira de constarem expressões não preconceituosas.”

TSE anuncia “canal de denúncias” contra expressões racistas

Na cartilha, a Corte informou um e-mail específico para denúncias contra expressões racistas que ampliem o manual. “Se você conhece outros vocábulos ou expressões racistas e acredita que devam fazer parte desta publicação, envie a sugestão para nós”, orienta o TSE. “A comissão irá avaliar sua proposta e, em caso de deferimento, ela será incluída em nova edição da obra.”

Leia a entrevista completa com Cíntia Chagas na Edição 87 da Revista Oeste

 

 

domingo, 13 de novembro de 2022

A imprensa faz o papel de Ministério da Verdade - Revista Oeste

Cristyan Costa

Depois da vitória de Lula, a velha mídia começou a reescrever os fatos e distorcer a realidade

A epígrafe é uma das mais angustiantes passagens do livro 1984, de George Orwell. Nesta distopia, é o lema do Partido do Grande Irmão e seguida à risca pelo Ministério da Verdade. 
Nesse órgão do governo imaginário, os funcionários trabalham diariamente para reescrever fatos e distorcer a realidade.

 Foto: Shutterstock

Foto: Shutterstock  

“Guerra é paz; liberdade é escravidão; ignorância é força.”
George Orwell (1949)

Para ajudar a “pasta”, a Polícia do Pensamento faz a patrulha da sociedade, prendendo dissidentes e promovendo uma série de lavagem cerebral naqueles que divergem do establishment totalitário. Essa ficção saiu das páginas do livro e tornou-se o modus operandi da “grande mídia brasileira”, reunida no consórcio de imprensa.

Ministérios narrados no livro 1984, de George Orwell
- Foto: Reprodução
Orçamento secreto é emenda de relator
Desde a vitória de Lula, jornalistas têm se empenhado na missão de mudar o sentido das palavras e até de apagar o passado. A mais recente tentativa de concretizar isso ocorreu com o chamado Orçamento secreto, revelado há pouco mais de um ano pelo consórcio de imprensa como um “escândalo maior que o Mensalão e o Petrolão da era PT”. Segundo o consórcio de imprensa, o governo federal usou uma parte dos recursos do Orçamento destinado às emendas parlamentares para obter apoio de deputados do centrão.

“Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que a peça orçamentária é manejada e aprovada pelo Congresso Nacional”, observou o jornalista Silvio Navarro, numa reportagem publicada na Revista Oeste. “Cabe ao Executivo enviar o planejamento de despesas e arrecadação, mas o ajuste é feito pelo Legislativo. Outro detalhe importante é que esses recursos são legais. O resto é o jogo político de Brasília.” 

 Outro dado importante é que o Orçamento não tem nada de secreto, visto que é publicado no Diário Oficial da União.Mesmo com essas informações, o consórcio dedicou várias primeiras páginas para macular a imagem do presidente Jair Bolsonaro, associando-o ao que seria uma prática de corrupção, ignorado inclusive o fato de o chefe do Executivo ter vetado esse mecanismo.

Ao adotar o vale-tudo na cruzada contra Bolsonaro e a “direita” a pretexto de salvar a democracia, essa imprensa ajudou a ressuscitar um cadáver político, a ponto de negar os crimes que ele cometeu

No dia seguinte à vitória de Lula no segundo turno das eleições, o Orçamento secreto virou “emendas de relator” nas capas dos jornais e sites. A Folha de S.Paulo é o caso mais bizarro. 
A publicação alterou o título da reportagem “Saiba o que é e como funciona o Orçamento secreto”, publicada em 8 de setembro de 2022, para “Saiba o que é e como funcionam as emendas de relator”, depois de alegar no Twitter nunca ter usado o termo “Orçamento secreto”.  A mudança na reportagem consta como feita às 14h53 de 17 de outubro, antes do segundo turno das eleições. No texto original, o termo Orçamento secreto aparecia 25 vezes. Com a revisão, passou para sete. Já emenda de relator foi de três para 15 citações. O informe “atualizado em”, comum em textos editados após a publicação, só apareceu no texto em 4 de novembro. O jornal não explicou por que a mudança repentina.

Outra demonstração de que o jornal se referia às emendas de relator como Orçamento secreto é a notícia publicada em 8 de setembro deste ano, sob o título “Afinal, quem criou o Orçamento secreto?”. Em uma imagem satírica com algumas frases, não há menções ao termo emendas de relator. Mas, três dias depois de Lula ser eleito, o jornal publicava a seguinte manchete:Centrão e aliados de Lula aceitam negociar mudanças em emendas de relator”.

 

 Foto: Reprodução/Folha de S.Paulo

O portal UOL, do grupo Folha, seguiu a cartilha e, em 3 de novembro, informou que “centrão e aliados de Lula aceitam negociar mudanças em emendas de relator”. Também o jornal O Globo decidiu copiar a concorrência. No mesmo dia da notícia do UOL, disse: “Emenda de relator não é impositiva, dá para negociar, diz Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara dos Deputados”. Sabe-se que Maia (PSDB-RJ) foi um dos articuladores das emendas de relator. O congressista tornou-se rival do presidente Jair Bolsonaro. Em 16 de outubro, porém, O Globo publicou uma reportagem explicativa usando a expressão agora anulada do consórcio: “Bolsonaro criou ou vetou o Orçamento secreto?”.

Foto: Reprodução/ O Globo

Até os 33 milhões de brasileiros que passavam fome no Brasil desapareceram instantaneamente com a vitória de Lula. Em 8 de junho, a Folha repercutiu um levantamento de uma ONG de esquerda que afirmava haver este número de famintos no país. A culpa foi atribuída a Bolsonaro, claro. Nesta quinta-feira, entretanto, três dias depois do anúncio oficial, a edição impressa do jornal trouxe a manchete: “Pobreza foi a menor da história em 2020 em 20 anos, diz Banco Mundial”

A manchete e o subtítulo da reportagem não mencionam que os dados se referem ao Brasil, tampouco que o cenário positivo se deu durante o governo Bolsonaro.

Foto: Reprodução/Folha de S.Paulo

Lula é inocente
Em 28 de outubro, a Folha inspirou-se no Supremo Tribunal Federal (STF) e publicou o texto “Entenda por que Lula é inocente sem ter sido inocentado”. Depois de uma série de explicações tão contraditórias quanto o título, o jornal justifica a inocência do petista: “Ele chegou a ser condenado pelo então juiz Sergio Moro e por Tribunais Superiores na Lava Jato, mas as ações foram anuladas pelo STF por duas razões técnicas: Moro agiu com parcialidade para punir o líder petista, e as causas deveriam ter tramitado no Distrito Federal.”

Dois dias antes, fora a vez de o jornalista William Bonner, da TV Globo, absolver Lula durante a sabatina no Jornal Nacional (JN). Antes de começar as perguntas, o âncora disse: “O senhor não deve mais nada à Justiça”.

Lockdown é mentira
Com o mesmo cinismo que reescreveu o passado de Lula, a velha imprensa decidiu apagar a forma como lidou com o lockdown. Ainda no JN, a jornalista Renata Vasconcellos tentou “dar uma invertida” em Bolsonaro.  
O presidente dissera que fora contra o lockdown na pandemia de covid-19, enquanto a imprensa tradicional e a classe artística manifestaram-se a favor do isolamento social. 
Renata afirmou que a mídia defendeu o fique em casa, “se puder”, acrescentou no final da frase. Um vídeo de 2020 mostra o contrário. A jornalista pede às pessoas para ficarem em casa “até que venha a orientação para sair”.

A apresentadora do programa Roda Viva, Vera Magalhães, foi um pouco mais longe e negou a existência de um lockdown no Brasil, fingindo não ter visto os vários Estados fechando comércios e prendendo quem desobedecesse às “medidas sanitárias”. Em um tuíte, ela escreveu que o país “nunca teve um lockdown em momento algum”. Posts de redes sociais resgatados na internet mostram a jornalista em momentos do lazer e recomendando que todos “quarentenem-se”. 

Ao adotar o vale-tudo na cruzada contra Bolsonaro e a “direita” a pretexto de salvar a democracia, essa imprensa ajudou a ressuscitar um cadáver político, a ponto de negar os crimes que ele cometeu. Enquanto isso, nada fez para impedir a perseguição promovida pela “Polícia do Pensamento” do Tribunal Superior Eleitoral a veículos de comunicação independentes, a exemplo do jornal Gazeta do Povo, a emissora Jovem Pan e a própria Revista Oeste.

“Durante o governo Bolsonaro, a imprensa conseguiu ultrapassar o simples status de partido de oposição”, constatou o sociólogo Eduardo Matos. “Particularmente, chamou atenção um consenso estabelecido em muitas redações de que seriam permitidos ‘atos de exceção’ contra o governo e seus apoiadores, em nome de uma suposta defesa da democracia.”

Ao distorcer a realidade e calar-se diante da tirania, esses veículos de comunicação viraram verdadeiros Ministérios da Verdade. E transformaram em realidade o que até Orwell duvidou que um dia se tornaria real.

Leia também “Começou a vingança”


Cristyan Costa, colunista - Revista Oeste