Na
onda do “empoderamento”, que parece ser a verdadeira força motriz das
reivindicações identitárias destes dias tumultuados, mas pedagógicos,
ganha espaço o empoderamento do narcoestado. Um poder sem regras que o
reprimam tende a crescer como inço em jardim desmazelado. Em pouco
tempo, acaba com o jardim e vira mato.
Certa vez,
revisitando Nova Petrópolis, na Serra Gaúcha, depois de muitos anos sem
por lá andar, encontrei a cidade transformada num jardim. Uma senhora
que me reconheceu abordou-me e, após algumas palavras, perguntei a razão
daquela transformação que me dava a sensação de estar em bem cuidada
cidade alemã da Bavária. Ela me esclareceu, com forte sotaque regional: “Quando a chente passa por uma cassa mal cuidada, tiz pra tona: ‘A senhora é pem relaxada mesmo, non?’.”
Assim, na
lata. No Brasil, protetores da criminalidade zelam pelo inço social! São
os inimigos da ação policial, sempre prontos a criticar a polícia.
Quando policiais e criminosos se defrontam numa operação, parecem querer
um equilíbrio de forças que só se satisfaz se houver “equidade” no
número de óbitos.
Pedem políticas de desencarceramento.
Afirmam que
temos presos demais, como se os cidadãos, caminhando nas ruas ou
navegando na internet, não fossem peças numa vitrine de frango assado à
escolha da bandidagem.
Dizem – na caradura – que roubar é um direito.
Querem a liberação das drogas, como se o narcoestado, com livre comércio
e consumo, fosse se transformar em alguma ONG benemerente.
Odeiam as
armas dos cidadãos de bem e têm contra eles palavras de repreensão
jamais empregadas aos criminosos que veem como vítimas da sociedade e
aos quais devotam cínico senso de humanidade.
Tudo se
agrava quando: a) o STF proíbe o acesso da polícia a certos locais
dominados pelo crime;
b) quando o presidente da República entra choroso
nesse discurso e constrói a imagem falsa de um “menino” preso e
maltratado por roubar um celular;
c) quando o ministro da Justiça
ingressa no recinto privado e controlado pelo crime da favela da Maré
para se reunir com uma ONG, em evento no qual não tratou de
recadastramento de armas nem de desarmamento, mas de mortos em ações
policiais”, segundo informação de um parlamentar.
O controle de
estabelecimentos penais ou de inteiras galerias pelas facções do
sindicato do crime; centenas de violentos ataques a unidades policiais,
veículos estabelecimentos públicos e privados no Rio Grande do Norte; a
ação planejada contra autoridades da República, entre as quais o senador
Sérgio Moro e sua família, etc., são simples consequências do
empoderamento que não encontra contenção e se propõe eliminar qualquer
resíduo de resistência.
Não por
acaso, à nossa volta, o narcoestado é uma realidade ou está em acelerada
formação no Peru, na Bolívia, no Colômbia, na Venezuela e se você
prestar atenção vai reconhecer parte expressiva dos países do Foro de
São Paulo, da Pátria Grande etcétera e tal.
Tudo tem sua
compensação. Não há um minuto sequer de leniência, tolerância,
comiseração nem perdão para quem rezou e cantou na frente de um quartel.
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores
(www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país.
Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia;
Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.