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quinta-feira, 17 de março de 2016

Câmara elege comissão especial do impeachment de Dilma



Eduardo Cunha anunciou que instalação será nesta quinta-feira às 19h
A Câmara dos Deputados elegeu, por 433 votos sim e apenas um contrário, a comissão especial do impeachment da presidente Dilma Rousseff. A comissão é composta por 65 titulares e 65 suplentes de 24 partidos da Casa. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciou nesta quinta-feira que a comissão será instalada hoje às 19h. Antes, haverá uma reunião de líderes aliados, e a intenção de Cunha é garantir, ainda hoje, a eleição do presidente e do relator da comissão especial. O voto contra foi do deputado José Airton Cirilo (PT-CE)

O primeiro secretário da Câmara, Beto Mansur (PRB-SP), irá levar pessoalmente à Presidência a notificação da eleição da comissão. Se a notificação ocorrer ainda hoje, começa a contar a partir de amanhã o prazo de dez sessões para a entrega da defesa escrita de Dilma. A Secretaria Geral da mesa está juntando os documentos, como a composição da comissão, para entregar junto com a notificação.

 A sessão foi aberta pouco depois das 13h e, no início, líderes da base aliada e da oposição pediram a palavra e pregaram serenidade nas decisões. Entretanto, a sessão começou a ficar mais tensa com discursos de lado a lado feitos na tribuna e nos microfones.

 Deputados da oposição usavam pequenas fitas verde amarelo no pescoço ou amarradas na cabeça e apresentaram cartões vermelho com a inscrição impeachment. A todo momento, levantam os cartões pedindo renúncia. Deputados do PT e do PCdoB, reagiam gritando "golpe, golpe".
 
 Houve discursos inflamados de oposicionistas, defendendo a saída de Dilma e de petistas classificando o processo como golpe, com referências ao de 1964. Logo depois do anúncio da eleição, deputados cantaram o hino nacional.

 O deputado Roberto Freire (PPS-SP) — que foi do antigo PCB — disse que os comunistas foram cassados por outros motivos, não o mesmo pelo qual a presidente Dilma é alvo hoje. Houve reação forte de deputados do PCdoB no plenário. — O senhor não é mais comunista e não tem autoridade de falar em nome dos comunistas — reagiu a deputada Alice Portugal (BA).

 A voz da deputada Moema Gramacho (PT-BA) se destacava no plenário quando havia manifestação dos deputados defensores do impeachment:
— Golpistas, golpistas. Não vai ter golpe!

 Durante a sessão, deputados de partidos alinhados ao governo cobraram, nos microfones, o desembarque da base aliada. O deputado Júlio Lopes (PP-RJ) anunciou a coleta assinaturas da bancada para o desembarque do PP. A deputada Clarissa Garotinho (PR-RJ), por sua vez, disse que já tinha passado da hora de o PR entregar os cargos que possui no governo Dilma. Em plenário, o líder do PR, Maurício Quintella Lessa (AL), afirmou que todos os deputados da sua bancada terão liberdade para tomar a decisão relativa ao processo. Segundo ele, o PR continua na base.

— Na minha base não tem ninguém com ideia fixa. Os deputados passarão a ser juízes e terão liberdade para tomar a decisão — disse Lessa, que criticou a decisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de assumir a Casa Civil.

 PMDB UNIDO
O PMDB definiu os nomes dos integrantes, abrindo espaço para três deputados declaradamente pró-impeachment entre os oito titulares. Mas, segundo o líder, não foi discutido na reunião de bancada desta manhã o posicionamento a ser adotado na votação. — O mérito em relação ao processo não foi discutido na reunião. A bancada está unida, apresentou seus nomes unidos, e o voto é o desfecho do processo. Partimos unidos na largada, no espírito de buscar serenidade para o desfecho do processo — justificou Picciani.

Os parlamentares incluíram também na chapa os nomes dos deputados do PP que não tinham sido indicados a tempo e seriam submetidos a uma eleição suplementar.

LÍDER DO PSD COTADO PARA A PRESIDÊNCIA
Os partidos de oposição e da base aliada se articulam, agora, para tentar emplacar a eleição do deputado que vai presidir e o que vai relatar o processo. Eduardo Cunha tenta garantir com a oposição a eleição de nomes. Os mais fortes, até agora, segundo deputados, são o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), para presidência, e o do líder do PTB, Jovair Arantes (GO), para a relatoria. A oposição quer emplacar Rodrigo Maia (DEM-RJ) na relatoria, mas, em número menor, teme perder a eleição no plenário da comissão. 

Uma das tentativas do grupo de Cunha e da oposição é inviabilizar a participação de deputados do PT e do PCdoB não só na presidência ou relatoria, mas também nas vice-presidências da comissão.

O deputado José Priante, que desistiu de ocupar uma vaga na comissão do impeachment, afirmou que o fez porque foi convidado para ser o presidente da comissão, mas o PMDB teria, segundo ele, aberto mão de indicar o relator ou o presidente do órgão. — Fui convidado para presidir a comissão, mas como meu partido declinou da relatoria e da presidência (da comissão), eu pedi para sair — disse o peemedebista.

A escolha dos nomes do PMDB foi dividida pelo líder, Leonardo Picciani, de forma a contemplar três deputados declaradamente favoráveis ao impeachment de Dilma. Segundo peemedebistas que integram a chapa, no entanto, a crise política que convulsiona o país fez com que mesmo entre esses cinco de perfil mais governista ainda não haja posição conjunta contra o impedimento de Dilma. — As coisas estão mudando muito rápido, não sabemos o que vai acontecer na próxima hora. A crise é tanta que tem muita gente ainda em cima do muro — disse ao GLOBO um dos deputados indicados pelo PMDB.

 Quando da formação da primeira comissão do impeachment, Picciani, Priante e Reis já faziam parte da lista, e se declaravam contrários à possibilidade de afastar Dilma. O líder do PMDB, da ala governista da legenda, teve ajuda do Palácio do Planalto para ser reconduzido ao posto de líder, no mês passado.

DIVISÃO NO PP
Com dificuldades de fechar os nomes, o PP atrasou a indicação. Pelo acordo fechado na bancada para que os deputados que se posicionam claramente a favor do impeachment tenham duas vagas de titular e três de suplentes. Os deputados Júlio Lopes (RJ) e Gerônimo Goergen (RS) serão os dois titulares da ala oposicionista do governo. Lopes colhe assinaturas, entre os deputados da bancada, para que o PP saia da base aliada.

Irritado com as indicações feitas pelo PSD, o deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), anunciou sua desfiliação da legenda nesta quinta-feira, aproveitando a janela do troca-troca partidário que termina nesta sexta-feira. 

 Segundo Sóstenes, o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), garantiu apenas uma vaga para deputado pró-impeachment, como suplente, nas indicações da comissão especial do impeachment da presidente Dilma Rousseff. O deputado estava negociando a saída do partido para se filiar ao PSDB, mas sua saída estava sendo contida pela legenda. — Me desfiliei do PSD. O Rogerio Rosso e Gilberto Kassab estão de cócoras para esses desgoverno do PT. A composição dos membros do PSD no impeachment só indicou da chapa avulsa o Evandro Roman como suplente, não respeitou a chapa avulsa como fez por exemplo o PMDB, PP e outros partidos da base — disse Sóstenes.

Confira os nomes dos titulares e suplentes da comissão do impeachment:


domingo, 20 de setembro de 2015

O último e o penúltimo parágrafo, demonstram de forma incontestável, que para o BEM do BRASIL é necessário que junto com o impeachment da Dilma ocorra a neutralização do Lula

A metamorfose de Lula em oposicionista

O lulopetismo, se liderar a esquerda contra uma Dilma subjugada por ‘neoliberais’, tentará se proteger do fracasso do governo e se credenciar para voltar ao Planalto

Luiz Inácio Lula da Silva costuma dar demonstrações irretocáveis de ser uma metamorfose ambulante”, como ele próprio se autointitula, usando o termo do roqueiro Raul Seixas. E como acontece na política, as mudanças são sempre em nome de um projeto de poder. Às favas com o resto.

Na quarta tentativa de chegar ao Planalto, nas eleições de 2002, Lula aposentou a persona do líder metalúrgico radical, diante da constatação de que ele e seu partido, o PT, com aquela postura, não conquistariam mais que um terço do eleitorado nacional. Seriam relegados a um eterno papel secundário na cena político-partidária. Com a ajuda da marquetagem eleitoral, transmutou-se no “Lulinha Paz e Amor”, enfatiotou-se com ternos bem cortados e elegantes gravatas, mudou o discurso, inclusive fazendo formalmente, na Carta ao Povo Brasileiro, a promessa de não investir contra mercados e a segurança jurídica. Ajudado, ainda, pelo desgaste dos tucanos, depois de dois mandatos consecutivos de FH, quando foram executadas reformas que contrariaram interesses, Lula ganhou a primeira eleição presidencial.

Cumpriu o prometido, estabilizou a economiaabalada pelo próprio temor dos mercados com o crescimento de Lula nas pesquisas —, porém, mais à frente, no segundo mandato, com Dilma na Casa Civil, passou a aplicar o programa econômico do velho PT, mantido por Dilma no seu primeiro governo. O resultado catastrófico e previsível aí está.
Os tempos são difíceis para o país. Já para Lula e o lulopetismo, há, ainda, o enorme ônus do petrolão e mensalão, escândalos que envolvem “capas-pretas” do grupo e ameaçam o ex-presidente. Existe, também, o risco real da cor-responsabilização por um fracasso retumbante do segundo governo Dilma, sua criatura. É hora, então, de mais uma metamorfose, agora para liderar a oposição a Dilma, a partir da esquerda. A não ser que a presidente se curve ao criador e dê ela mesma a guinada à esquerda, num indiscutível suicídio.

Num cálculo frio, é lógico imaginar que, diante de enormes obstáculos à frente do governo, Lula, de sócio da derrocada, possa se sentir tentado a saltar à frente dos grupos de esquerda, de dentro e de fora do PT, para liderá-los no enfrentamento de um governo cooptado pelos “neoliberais”. De quebra, ainda criaria um fato para tentar contrabalançar os efeitos de uma possível investigação séria de seu relacionamento não republicano com empreiteiras apanhadas na Lava-Jato. Como sempre, tudo será denunciado como um “golpe” contra líderes do povo.


É consensual que o Lula esquivo de hoje poderá ganhar outra vida amanhã, se estiver na oposição a um governo que faz um ajuste “contra os pobres”, como ele próprio disse em passagens por Assunção e Buenos Aires. Pareceu um ensaio do novo discurso.

O ajuste de Lula é oposto à austeridade: crescer para gerar receita tributária e assim equilibrar as contas públicas. Um salto no precipício da recessão e superinflação, mas música para os ouvidos dos “movimentos sociais”, recolocando Lula nos palanques, território em que transita com desenvoltura enquanto se coloca contra “tudo que está aí”.  Feito isto, o Lula oposicionista terá ressuscitado para denunciar o “golpe” do impeachment ou da renúncia, enquanto se prepara para tentar subir mais uma vez a rampa do Planalto, com a velha plataforma populista, prometendo a volta aos bons tempos de seus governos. Quando começou a ser construída a atual crise.

Fonte: Editorial - O Globo