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segunda-feira, 28 de maio de 2018

Mais um dia de inação, e governo abre caminho para “Bolsonaro, o Pacificador”; general Mourão já se mexe.

Há coisas de duas horas, ainda havia mais de 500 pontos de Interdição nas estradas. 

As Medidas Provisórias já estão publicadas no Diário Oficial. O governo tabelou o diesel na bomba — tão logo volte a ter diesel. Não há uma só reivindicação que não tenha sido atendida, e isso inclui aquelas que jamais seriam aceitas em tempos normais. Não obstante, as interdições continuam. As empresas que deram início ao locaute sabiam como começar a bagunça. Agora não sabem como pôr fim à confusão.

Há, sim, como diria o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), agentes infiltrados, mas é uma infiltração de outra natureza. Inexiste uma organização à moda, digamos, antiga, que ainda é a petista.  Os ditos “caminhoneiros” que estão na ponta, bloqueando as estradas, não participam de núcleo disso ou daquilo. Inexistem, para ser específico, “círculos bolsonaristas” que marcam reuniões físicas. Mas há o espírito, não é mesmo?

Resta evidente, a essa altura, que há malucos que realmente acreditaram que poderiam depor o governo Temer com uma paralisação de caminhões. Não vai acontecer porque não haveria um “depois”. Pôr quem no lugar? Antecipar eleição ou posse, como dizem alguns ligeiros, é inconstitucionalsim, sei bem o que tem valido a Constituição…  Bem, se o governo não vai ser deposto por agentes exógenos, não pode, no entanto, se autodepor, aderindo a um autogolpe de deposição. O que isso quer dizer? Está na hora de desobstruir as estradas. Dá-se um aviso, de, deixem-me ver, uma hora para que a desobstrução comece. Depois disso, não restará alternativa que não seja a força. A menos que as tropas já não obedeçam à Presidência. Nesse caso, estamos nas mãos de golpistas.

General Antonio Mourão

O pacote é de tal sorte generoso e oneroso que as reações não tardaram. É claro que se andou para trás em vários aspectos, como é o caso do tabelamento de frete ou a autorização para que a Conab contrate 30% da demanda de frete sem licitação — ou seja, a preços mais caros.  Se o governo não agir agora, estará abrindo caminho para o “salvador da pátria”. Estou contando as horas para Jair Bolsonaro emitir uma “palavra de conciliação” aos irmãos caminhoneiros. O general da reserva  Antonio Mourão, aquele…, já resolveu entrar  no debate.

Como não é doido, embora aparente, repudia, claro!, a deposição do governo por um golpe militar, como pedem alguns que interditam a estrada. Não se faz de rogado, claro!, e trata o governo aos chutes e pontapés.

Leio na Folha a seguinte fala do general:
“Eu não defendo que o país entre no caos. O país não pode entrar no caos. Não podemos aceitar o caos. Vai ser prejudicial para todos. A partir do momento em que começar o caos, aí entra a violência. E não sabemos como vai terminar isso. Tem que garantir os serviços essenciais. Você [greve] está tornando a população refém. Tem pessoas com filhos em colégios que amanhã não sabem se vão para a escola. É uma situação muito ruim”.

É um bolsonarista de primeira hora. Com o peso de quem envergou a farda, está amaciando o terreno para a fala do suposto pacificador.  O general se manifesta, no entanto, quando a petista FUP (Federação Única dos Petroleiros) decide anunciar uma greve. Aí, obviamente, o militar se arrepia. Só agora ele decidiu falar, ainda que na maciota, contra a baderna dos ditos caminhoneiros:  “A FUP é ligada à CUT [Central Única dos Trabalhadores]. Alguém viu a FUP entrar em greve quando se roubou a Petrobras até não poder mais? Não entraram em greve por causa disso, né? O que se vê são aproveitadores dos dois lados. Essa questão dos petroleiros é vergonhosa. É a cabeça do sindicato que não representa a pessoa que está suando lá diariamente. Queda do preço da gasolina? Não é assim. Precisamos analisar as coisas”

Ainda que, reitero, esculhambando o governo, Mourão resolveu falar como se fosse um centrista. Quando alguém como ele decide ser a voz da moderação nos ambientes ditos “castrenses”, pode ser um sinal de que, então, os antes considerados moderados nas próprias Forças Armadas estão fazendo corpo mole. E o mesmo acontece nos Estados, com os respectivos governadores e sua Polícia Militar.
Deu nisso a destruição da política.
E pode piorar!

Blog do Reinaldo Azevedo