Há coisas de duas horas, ainda havia mais de 500 pontos de Interdição nas estradas.
As Medidas Provisórias já estão publicadas no Diário Oficial. O governo tabelou o diesel na bomba — tão logo volte a ter diesel. Não há uma só reivindicação que não tenha sido atendida, e isso inclui aquelas que jamais seriam aceitas em tempos normais. Não obstante, as interdições continuam. As empresas que deram início ao locaute sabiam como começar a bagunça. Agora não sabem como pôr fim à confusão.
Há, sim,
como diria o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), agentes infiltrados,
mas é uma infiltração de outra natureza. Inexiste uma organização à
moda, digamos, antiga, que ainda é a petista. Os ditos “caminhoneiros”
que estão na ponta, bloqueando as estradas, não participam de núcleo
disso ou daquilo. Inexistem, para ser específico, “círculos
bolsonaristas” que marcam reuniões físicas. Mas há o espírito, não é
mesmo?
Resta
evidente, a essa altura, que há malucos que realmente acreditaram que
poderiam depor o governo Temer com uma paralisação de caminhões. Não vai
acontecer porque não haveria um “depois”. Pôr quem no lugar? Antecipar
eleição ou posse, como dizem alguns ligeiros, é inconstitucional — sim,
sei bem o que tem valido a Constituição… Bem, se o
governo não vai ser deposto por agentes exógenos, não pode, no entanto,
se autodepor, aderindo a um autogolpe de deposição. O que isso quer
dizer? Está na hora de desobstruir as estradas. Dá-se um aviso, de,
deixem-me ver, uma hora para que a desobstrução comece. Depois disso,
não restará alternativa que não seja a força. A menos que as tropas já
não obedeçam à Presidência. Nesse caso, estamos nas mãos de golpistas.
General Antonio
Mourão
O pacote é
de tal sorte generoso e oneroso que as reações não tardaram. É claro
que se andou para trás em vários aspectos, como é o caso do tabelamento
de frete ou a autorização para que a Conab contrate 30% da demanda de
frete sem licitação — ou seja, a preços mais caros. Se o
governo não agir agora, estará abrindo caminho para o “salvador da
pátria”. Estou contando as horas para Jair Bolsonaro emitir uma “palavra
de conciliação” aos irmãos caminhoneiros. O general da reserva Antonio
Mourão, aquele…, já resolveu entrar no debate.
Como não é
doido, embora aparente, repudia, claro!, a deposição do governo por um
golpe militar, como pedem alguns que interditam a estrada. Não se faz de
rogado, claro!, e trata o governo aos chutes e pontapés.
Leio na Folha a seguinte fala do general:
“Eu não
defendo que o país entre no caos. O país não pode entrar no caos. Não
podemos aceitar o caos. Vai ser prejudicial para todos. A partir do
momento em que começar o caos, aí entra a violência. E não sabemos como
vai terminar isso. Tem que garantir os serviços essenciais. Você [greve]
está tornando a população refém. Tem pessoas com filhos em colégios que
amanhã não sabem se vão para a escola. É uma situação muito ruim”.
É um
bolsonarista de primeira hora. Com o peso de quem envergou a farda, está
amaciando o terreno para a fala do suposto pacificador. O general
se manifesta, no entanto, quando a petista FUP (Federação Única dos
Petroleiros) decide anunciar uma greve. Aí, obviamente, o militar se
arrepia. Só agora ele decidiu falar, ainda que na maciota, contra a
baderna dos ditos caminhoneiros: “A FUP é ligada à CUT [Central Única dos
Trabalhadores]. Alguém viu a FUP entrar em greve quando se roubou a
Petrobras até não poder mais? Não entraram em greve por causa disso, né?
O que se vê são aproveitadores dos dois lados. Essa questão dos
petroleiros é vergonhosa. É a cabeça do sindicato que não representa a
pessoa que está suando lá diariamente. Queda do preço da gasolina? Não é
assim. Precisamos analisar as coisas”
Ainda que,
reitero, esculhambando o governo, Mourão resolveu falar como se fosse
um centrista. Quando alguém como ele decide ser a voz da moderação nos
ambientes ditos “castrenses”, pode ser um sinal de que, então, os antes
considerados moderados nas próprias Forças Armadas estão fazendo corpo
mole. E o mesmo acontece nos Estados, com os respectivos governadores e
sua Polícia Militar.
Deu nisso a destruição da política.
E pode piorar!
Blog do Reinaldo Azevedo
Nenhum comentário:
Postar um comentário