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sexta-feira, 21 de julho de 2023

MP faz acordo com homem que filmou partes íntimas de jovem em shopping; 'Minha dignidade vale R$5 mil', diz vítima - O Globo

Jovem teve suas partes íntimas filmadas enquanto caminhava pelos corredores de um shopping center na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio Reprodução
 
Rian Gomes Dantas, que foi preso em flagrante por filmar partes íntimas de uma mulher em um shopping na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, no início do mês passado, fez um acordo de não persecução penal com o Ministério Público do Rio de Janeiro nesta quarta-feira.  
Com a decisão, Rian não é processado e fica com a ficha limpa. 
A vítima de 24 anos que flagrou Rian fazendo a gravação enquanto caminhava pelos corredores do estabelecimento diz que está frustrada com a conclusão do caso e diz que os traumas daquele dia continuam em sua vida. — Estou me sentindo muito frustrada, parece que minha dignidade vale R$ 5 mil. Fico com aquele medo de que "eles podem fazer o que quiser com a gente, e não vai dar em nada". Porque o que ele fez foi apagado da ficha de antecedentes, mas da minha vida não, o trauma continua — desabafa ela.

Nas cláusulas do acordo, foi definido que Rian deve pagar R$ 5.280 para a vítima como reparação pelos danos morais. Ele também perdeu a câmera que usou na filmagem e foi apreendida no flagrante.

Além disso, ele ficou proibido de se aproximar da vítima ou fazer qualquer tipo de comunicação com ela durante dois anos, sob pena de responder por crime de desobediência e responsabilidade civil. A decisão ainda será homologada pelo juízo da 17ª Vara Criminal da Capital.

Relembre o caso
A jovem, que prefere não ser identificada, estava a caminho da bilheteria do cinema no dia 3 de junho, quando o namorado, que a acompanhava, percebeu que eles estavam sendo seguidos
O jovem notou que o homem, em atitude suspeita, mantinha uma das mãos no bolso de um casaco e decidiu abordá-lo. 
Nesse momento, a câmera que o suspeito carregava caiu no chão. Imediatamente o casal pediu ajuda aos seguranças do shopping, que aconselharam chamar a Polícia Militar. 
Toda a ação foi filmada pela câmera do próprio suspeito.

Segundo ela, Rian filmou mais de dez mulheres na mesma situação. Ela teve acesso à câmera utilizada pelo homem no momento do flagrante.— Só o meu vídeo tinha oito minutos. Ele me perseguiu durante todo esse tempo me filmando de forma humilhante. E conforme passei para o lado, eu vi os outros vídeos. Havia várias outras mulheres na mesma situação — contou a jovem na época.

Rian Gomes Dantas, dono de uma empresa de produção de vídeos, foi preso em flagrante por crime de importunação sexual. Ele foi liberado em audiência de custódia dois dias depois por ser réu primário e exercer trabalho lícito. [um comentário: REPROVAMOS o comportamento do Rian - apesar do que se depreende da matéria não resultar em dano direto a vítima, já que não possibilita sua identificação, não oferecendo, ao nosso ver, nenhum risco de violação da sua intimidade, que estava exposta a quem olhasse, sem necessidade de nenhum ato do eventual  'observador' - e entendemos que ele deveria ser punido com pensa privativa de liberdade e dentro do rigor das leis.
Só que o MP, detentor do direito da ação penal, fez um acordo, que sendo aprovado pela Justiça encerra o assunto no âmbito penal.
O que nos motiva a comentar, até com indignação, é que considerando o narrado na matéria transcrita, a jovem não está preocupada, insatisfeita com o fato do criminoso ser liberado na audiência de custódia, na prática foi absolvido. 
O que nos parece claro é que a vítima apenas achou pouco o valor da reparação por danos morais = em suma, sua dignidade está a venda, ela apenas achou pouco o valor. 
A vítima deveria estar protestando era contra a não punição do réu com pena privativa de liberdade, entendemos que dignidade não tem preço e só cadeia pune atos da natureza do sob comento.]

 Rio - Jornal O Globo

 

domingo, 24 de maio de 2020

O FRUSTRADO VOYEURISMO MIDIÁTICO - Percival Puggina

Se você levar em conta os galões de tinta de jornal, as toneladas de papel e as horas em rádio e TV gastas para gerar expectativa e excitar a clientela, a sessão de pornô político levada a cabo na noite de 22 de maio foi uma frustração. Entre a reunião filmada (22 de abril) e a exibição do filme rolaram inteiros trinta dias ao longo dos quais a publicidade do vídeo foi feita como num buraco de fechadura, divulgando silhuetas, fragmentos e flashes de partes íntimas.

Convenhamos, o fornecedor, depois de tanta propaganda, tinha obrigação de disponibilizar algo melhor. Filme pornô com tarjas pretas? Façam-me o favor!
Para quem aprecia palavrões, houve uma boa oferta de conteúdo, e comentá-lo foi o que, da fracassada sessão, restou à mídia. A droga do filme só conseguiu segurar a audiência de quem ainda acreditava que a parte boa haveria de chegar às últimas cenas, com o presidente saindo algemado do Palácio. Que fiasco! Registre-se, a propósito dessa frustração, o fato de o vídeo exibir uma reunião a portas fechadas, em relação à qual a obrigação de divulgar só ocorreu por determinação judicial. Quem reclama do vocabulário usado terá conhecido Bolsonaro como um gentleman que, subitamente, aprendeu a dizer nome feio aos imaculados ouvidos da nação brasileira? Não. Foi para a poltrona comendo pipoca e esperando a sessão começar.

Entende-se, hoje, o motivo pelo qual Sérgio Moro afirmou não haver acusado o presidente de crime algum. Em tese, a partir daquele momento, passado um mês inteiro, tudo mais foi política, ideologia e frustração do consumidor de más notícias. Apaga a luz do cinema e manda a moçada pra casa. O que temos de mais empolgante é um exercício retórico sobre as intenções do presidente. Trata-se, aqui, de espiar a fechadura mental do suspeito, sendo que este simplesmente quis exercer uma de suas prerrogativas constitucionais.

No sentido prático, há duas (surpresa!) perspectivas em relação à reunião, como ato de governo. Na minha avaliação, podendo a fala de Bolsonaro ser reduzida à metade, assisti a uma boa reunião, pela afirmação dos valores que movendo o presidente e seus eleitores, deveriam orientar, homogeneamente, toda a equipe de governo. Os alinhados com a banda oposta, desgostaram de tudo: do presidente, das pautas, dos ministros, e da falta de um crime.
A frustração da moçada da poltrona, que esperava um pornô político, busca consolar-se pegando o pé de Abraham Weintraub por uma frase proferida em desfavor dos ministros do STF. É o voyeurismo político com necessidade de consolo!

Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.