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quinta-feira, 9 de novembro de 2023

ENEM, esse Cavalo de Troia, e sua montaria.- Percival Puggina

        Desde que caiu em mãos petistas em 2003, o ENEM virou um Cavalo de Troia do tipo que chega relinchando, fazendo sujeira no calçamento, recheado de invasores, braços para fora, acenando bandeiras vermelhas. 
Foi pensado, originalmente, com o intuito de avaliar a aprendizagem dos alunos de ensino médio, no entanto, uma vez confiado ao PT, virou componente de relevo na máquina totalitária que o partido montou no MEC.

Entende-se. Para Paulo Freire, patrono da educação brasileira, educar é um ato político e as provas do ENEM deste ano mostram como bem sublinhou Alexandre Garcia em recente artigo que professores formados com as bênçãos desse patrono já não conseguem elaborar uma prova em linguagem compreensível. A educação brasileira é uma tragédia que vai vitimando sucessivas gerações.

O ENEM não é apenas uma fonte de colossais trapalhadas, como as que se repetem este ano. 
É parte, também, de um projeto de hegemonia em implantação há várias décadas e que se realiza induzindo currículos, ordenando pautas, impondo o vocabulário do partido e ideologizando exames, provas e concursos públicos. 
As cartilhas, os livros distribuídos às escolas, os muitos programas nacionais voltados ao famigerado "politicamente correto" estão alinhados com a mesma estratégia.
 
Imagine o contexto: de um lado, uma prova que habilita os bem colocados, num sistema de cotas e notas, a ingressar na universidade; de outro, um inteiro temário de questões onde as pautas políticas e o vocabulário do partido aparecem como textos de motivação, objetos de interpretação, ou respostas a serem assinaladas como corretas. 
Não raro são introduzidas questões controversas, mas os alunos já sabem como pensam os professores... Se estudantes cubanos, venezuelanos ou nicaraguenses fossem submetidos a algum certame nacional, ele certamente seria assim.
 
O Cavalo de Troia tem o poder de agir nacionalmente e de influenciar a quase totalidade dos estabelecimentos de ensino médio do país, mobilizando quatro milhões de estudantes por edição. 
O atrativo que oferece e a pressão de demanda que determina, leva as escolas a condicionarem seus conteúdos às pautas do ENEM. 
Desse modo, a burocracia do MEC dá o tom que devem entoar as salas de aula do país.

Depois – imenso paradoxo! – essa militância de esquerda agarrada ao MEC como carrapato ideológico impõe regras a todos agita suas bandeirinhas vermelhas em defesa da liberdade de cátedra e da autonomia do professor... Dá-me forças, Senhor!

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Em um mês, Temer conseguiu aprovar pautas que estavam paradas



O governo de Michel Temer completou um mês conseguindo tramitar duas pautas importantes no Congresso. A meta fiscal foi revisada e a Desvinculação das Receitas da União (DRU) foi aprovada pela Câmara e enviada ao Senado. Houve também aumento de gastos, mas parte deles foi contratada pelo governo afastado.

A presidente Dilma havia proposto revisão da meta de déficit primário para R$ 96 bi no ano, mas a mudança não foi votada antes do afastamento. O novo governo recalculou e chegou a um valor ainda pior, um rombo de R$ 170,5 bi. Na revisão proposta por Dilma, receitas estavam superestimadas e as despesas eram subestimadas. Era esperada, por exemplo, alta de 9% na arrecadação, mesmo com a forte recessão na economia. Por essa proposta, as contas não fechariam. A nova meta é mais próxima da realidade das contas, mais razoável. A DRU foi encaminhada ao Senado. A desvinculação ampliou de 20% para 30% o percentual das receitas que o governo pode manejar livremente.

Em relação aos gastos, Temer foi contraditório. Pouco antes de ser afastada, a presidente Dilma enviou ao Congresso vários projetos de aumento para o funcionalismo. Ela poderia ter feito isso antes, mas apresentou as propostas quando o afastamento era iminente, na tentativa de criar constrangimentos ao governo interino. Temer apoiou não apenas os aumentos propostos antes como também quis estender o reajuste a mais categorias. Em outro ponto, após anunciar o corte de vagas na administração pública, criou mais cargos. Embora tenha dito que eles não serão preenchidos, a proposta é um risco. O funcionalismo já foi muito inchado nos últimos anos, em especial com os comissionados.     
Ainda falta outra parte do programa, a reforma da Previdência e a criação de um teto de gastos. A primeira discussão é um encontro marcado que o país tem. A mudança no sistema previdenciário vai demandar muita discussão.  A limitação dos gastos foi anunciada, mas ainda não virou realidade. Na política, o governo cometeu erros; algumas indicações para os ministérios foram muito boas, outras foram difíceis de entender e acabaram resultando em afastamentos.

Na economia, Temer teve mais acertos que erros. Em um mês, conseguiu avançar em pautas que estavam paradas no governo Dilma. O clima hoje é um pouco melhor. Ainda há um pé atrás com os próximos atos do governo, mas a confiança das empresas melhorou.

 Fonte: Blog Miriam Leitão – O Globo