Eleições podem ser lidas como disputas tribais. Com uma característica:
em vez de tribos inteiras entrarem em guerra, seus líderes enfrentam-se
num duelo mortal, poupando da morte os liderados do perdedor. Aos quais
fica reservado o “benefício” da escravidão, em modalidades mais ou
menos explícitas. Ou, numa hipótese benigna, lhes é oferecida a paz
honrosa. [com petista nenhuma das opções funciona: - paz honrosa = são traidores e é mesmo que dividir o leito com uma cascavel; - escravidão (além de proibida por lei) são extremamente preguiçosos e desonestos - existe alguns honestos, mas são poucos] Este segundo caso costuma frequentar mesmo é o universo da
ficção.
Em resumo, a tribo só quer saber se o chefe será capaz de trazer a vitória.
Daí a platitude de reclamar que “infelizmente, o debate não trouxe propostas”.
Quem quiser propostas deve procurar na internet ou nos comitês dos
candidatos os tradicionais documentos redigidos para esse fim, no mais
das vezes repletos de intenções que não se realizarão, pois infelizmente
as circunstâncias impedirão. Frustração que será digerida pelos
integrantes da tribo conforme contemplados com o butim produto da
vitória. Uma consequência conhecida é a tradicional pouca disposição de
largar o bem-bom só porque o programa não foi aplicado.
Pois o problema só passa a incomodar quando a não aplicação do programa traz riscos à perpetuação da tribo nos espaços de poder.
Voltando aos debates, está claro que os dois finalistas da corrida
presidencial saíram do primeiro duelo na Band com sua liderança
preservada na tribo. Enfrentaram atribulações, mas foram capazes de
criar situações incômodas para o adversário. Vamos ver como será no
próximo e decisivo encontro.
O futuro duelo final entre Lula e Bolsonaro neste 2022 está a merecer o
batido qualificativo de "histórico". A vitória do capitão em 2018
representou a “libertação” das massas de direita “escravizadas” desde
1985 pelos líderes da Nova República. Para essas massas, é intolerável
imaginar a volta a um passado recente, quando se era governado por uma
facção dos “novarrepublicanos”, e a única opção era votar noutra facção
do mesmo veio histórico.
Para a “frente ampla”, não basta derrotar Bolsonaro. A missão é
recolocar o gênio dentro da garrafa, tanger as massas bolsonaristas de
volta para o cercadinho. Removendo definitivamente o risco de abrir
espaço para uma eventual futura nova liderança que reivindique o comando
do campo derrotado pela Aliança Democrática quase quatro décadas atrás. [Faz bastante tempo que tenho a oportunidade e o prazer de ler os textos do Alon, mas ainda não tinha constatado sua tendência ao humorismo, quando 'dar' uma missão impossível para a esquerda cumprir; = a esquerda vai ser, com as bênçãos de DEUS triturada; encerrando: percebam que a esquerda aos poucos está recuperando, ou em vias de recuperar,posições que perdeu. O Biden mesmo, está só guardando o lugar para a volta dos republicanos = Talvez, até do Trump.]
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político
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Publicado na revista Veja de 26 de outubro de 2022, edição nº 2.808