Como brincar carnaval diante de um cenário tão macabro?
Ir às ruas para uma festa cujo clima depende de aglomeração seria uma
espécie de suicídio coletivo
[Felizmente, um ano sem carnaval; que falta faz? NENHUMA. O número de mortes será menor, o consumo de drogas cairá ainda que pouco, a imoralidade, a corrupção moral (não toleramos a corrupção pública = a que envolve dinheiro - mas aceitamos a corrupção moral que é a mãe de todas as corrupções); cenas ofensivas à moral e aos bons costumes, a depravação, os atos obscenos, as crianças presenciando imoralidades, o exibicionismo repugnante (lembram do golden shower?)o desrespeito aos valores religiosos,o vilipêndio dos símbolos cristãos.
Vejam a imagem abaixo. Pensem. O recado é claro]
[ A mudança que ilustra esse recado não foi realizada pelos que se
julgam Supremos e pretendem autorizar até quem deve ter o direito de nascer.
Um
alerta: desnecessário, mas para perfeito entendimento dos que quando
desenhamos não conseguem compreender, que o 'coisa ruim', o de vermelho,
está muito triste pela não realização do carnaval 2021.
A mudança mostrada foi realizada por
DEUS, o SER SUPREMO, que realmente pode tudo.]
O carnaval sempre foi um momento de inversão de papéis, de
questionamento das normas, de fuga do padrão da vida cotidiana e da
libertação da repressão. Neste ano, não. Ainda vamos levar algum tempo
para ter a verdadeira dimensão do que está ocorrendo, mas, talvez, o
carnaval deste ano seja um momento de choque da dura realidade, que é a
crise sanitária pela qual o mundo está passando, agravada pela
incompetência e pelo negacionismo do governo. Oxalá, no próximo
carnaval, a maioria da população esteja imunizada contra a covid-19.
No começo da pandemia, imaginava-se que o carnaval de 2021 seria um
dos maiores de todos os tempos, com a população indo às ruas se
divertir, superada a peste. Estaríamos vivendo momentos felizes, de
muita contestação aos tabus da nudez e da sensualidade, de ironias e
críticas escrachadas aos governantes e, como não poderia deixar de ser,
ao presidente Jair Bolsonaro. Feminismo, racismo, diversidade, exclusão,
["Quanto maior a ênfase, por
exemplo, nas teorias de gênero, maior a homofobia; quanto mais igualdade
de gêneros, mais cresce o feminicídio; quanto mais se combate a
discriminação racial, mais ela se intensifica; quanto maior o
ambientalismo, mais se agride o meio ambiente; e quanto mais forte o indigenismo, pior se tornam as condições de vidas de nossos índios",
relatou na entrevista.] os temas característicos do debate contemporâneo, numa sociedade
pluralista e democrática, estariam sendo tratados com bom humor e muita
sagacidade pelo povo nas ruas, cantando marchinhas e sambas.
Por incrível que possa parecer, o carnaval — essa festa tão
desvairada — também é um momento de conscientização da população. É
quase impossível na vida de um brasileiro não ter visto um desfile de
escola de samba, não ter saído num bloco ou participado de um baile de
carnaval no qual não houvesse ruptura ou transformação de costumes. É
uma festa muito ambígua, na qual a fuga da realidade funciona como um
espelho da sociedade, quando a velha senhora que passa roupa para fora
se veste de luxuosa baiana, a madame vira figurante numa ala de escola
de samba, o jovem desempregado brilha na bateria, a socialite leva uma
bronca do bombeiro hidráulico por atrasar o desfile e o galã da novela
arrisca um desengonçado samba no pé, sendo ele mesmo, e não o seu
personagem.
O carnaval substituiu o entrudo, que era uma festa embrutecida, na
qual o povo tomava as ruas para jogar farinha, baldes d’água, limões de
cheiro e até lama e areia uns nos outros. Ou seja, um avanço
civilizatório. Roberto DaMatta, o antropólogo estudioso dos foliões e
dos malandros, sempre destacou que o carnaval não é apenas um momento de
alienação da realidade, é um espaço de transformação dos padrões da
sociedade. O Rio de Janeiro, quanta ironia, teve um prefeito que não
gosta de carnaval e não conseguiu se reeleger. Temos um presidente da
República que também não gosta e que, talvez, se regozije pelo fato de o
povo não ter tomado as ruas para fazer troça das autoridades e de si
próprio.
Folião de raça
Um dos maiores carnavais de todos os tempos, segundo os historiadores,
foi o de 1919, no Rio de Janeiro, ano de estreia do Cordão do Bola
Preta, que havia sido fundado em dezembro do ano anterior e, hoje, é o
maior bloco do país, arrastando milhões pelo centro do Rio de Janeiro no
sábado de carnaval, o que deveria ter acontecido ontem. Aquele foi um
carnaval no qual a população comemorou o fim da gripe espanhola, a
epidemia que matou 15 mil pessoas somente no Rio de Janeiro. Neste
carnaval, a média de óbitos na cidade está em 158 mortes por dia, sendo
234 óbitos e 5,5 mil casos de contaminação nas últimas 24 horas. Já são
551 mil casos no estado. [naquela época se levava semanas para ir do Rio ao Recife; meses para realizar o percurso Europa x Brasil; imagine se uma pandemia daquele porte, com seu elevado índice de letalidade e contágio, ocorresse nos dias de hoje = em que o contaminado hoje pela manhã, pode estar amanhã no outro lado do mundo contaminando.]
Não é privilégio de cariocas e fluminenses. No Distrito Federal, a
covid-19 matou 4.198 pessoas, de um total de 247 mil infectados; oito
vezes mais do que acidentes e homicídios. Em Belo Horizonte, foram 16,5
mil mortes, de um total de 798 mil infectados. Em São Paulo, 55 mil
mortes, com 1,9 milhão de infectados. Na Bahia, 10,6 mil mortos para 623
mil infectados. Em Pernambuco, 10,6 mil mortos para 277 mil infectados;
no Amazonas, são 9,7 mil mortos para 292 mil infectados. Estamos
vivendo a rebordosa das campanhas eleitorais e das festas de fim de ano. [por conveniência muitos atribuem o acréscimo de agora a uma segunda onda = bem mais conveniente que atribuir às eleições de novembro .p., e os festejos de fim de ano.]
Como brincar carnaval diante de um cenário tão macabro? Agora, com a
segunda onda da pandemia, ir às ruas para uma festa cujo clima depende
de aglomeração e contato físico seria uma espécie de suicídio coletivo.
Por isso, mesmo que a festa seja em casa e nas redes sociais, neste ano,
o carnaval não valeu. Melhor ficar em casa, cantar A Jardineira e pôr
fogo na camisa amarela, como aquele folião de raça de Ary e Elizeth, na
quarta-feira de cinzas.
PS: até quinta-feira! Luiz Carlos Azedo - Nas Entrelinhas - Correio Braziliense