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quarta-feira, 6 de julho de 2022

Abstenção decide eleição

Alexandre Garcia

Nós, eleitores, temos o poder de, dentro de três meses, escolher aqueles que podem impedir que a Constituição seja desrespeitada, e eleger aqueles que, nos poderes Legislativo e Executivo, garantam o futuro de nossas famílias com valores em que acreditamos [e quando a Constituição Federal é desrespeitada por aqueles incumbidos de serem seus guardiões? a quem reclamar?]

Estariam os brasileiros se desinteressando por eleições? Segundo estudo sobre alienação eleitoral, do Instituto Votorantim, publicado ontem pelo Estadão, a abstenção, mais nulos e brancos, subiu de 18% para 25%, de 2006 a 2018
Significa que em quatro eleitores, só três escolhem candidato. 
Esse aumento de alienação vem ocorrendo, principalmente, na Região Sudeste São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo —, onde estão 63 milhões de eleitores, 46% do total, e a maior parte dos 30 milhões de idosos não obrigados a votar. Em países próximos, com voto facultativo, a alienação eleitoral foi decisiva.
 
No Chile, os constituintes acabam de entregar ao presidente Boric o texto da nova Constituição
Ela extingue o Senado de 200 anos, cria cotas no Parlamento, justiça diferente para as etnias originais, aumenta "direitos sociais" como aborto e diminui o poder da polícia, entre outras mudanças. [Talvez os chilenos com a alta abstenção pretenderam expressar repúdio ao eleito = ex-guerrilheiro; Virou normal que criminosos que deveriam estar presos - pelo tamanho das penas em regime de reclusão = regime fechado = concorram as eleições. 
No Brasil mesmo o descondenado petista - não foi inocentado - condenado a pena que pelo total de anos deveria ser iniciada em regime fechado e não em regime de 'resort', vai concorrer - perde, encerra a carreira com uma derrota mas curte/exibe  a impunidade.]
Tem 388 artigos e é uma das mais extensas do mundo. Entre os 154 constituintes que trabalharam um ano, a maioria é da esquerda; apenas 37 de partidos de direita. Em 4 de setembro, ela será submetida a um referendo popular. Pesquisas indicam que apenas de 25% a 33% aprovam a nova Constituição. Como assim?  
 
Num plebiscito de 2020, 78% afirmaram querer uma nova Constituição. Em maio do ano passado, elegeram os constituintes pouco mais de 5 milhões dos quase 15 milhões de chilenos aptos a votar. Quer dizer, apenas 36% escolheram quem faria a Constituição; 
agora a maioria que se absteve de votar a desaprova. Esse é o preço da abstenção — deixar que a minoria decida, abrindo mão de um poder que a democracia oferece. Na Colômbia, há pouco, 18 milhões não votaram e 11 milhões elegeram o presidente.

Faltam três meses para a eleição de 2 de outubro. O voto é obrigatório, diferentemente do Chile e da Colômbia, mas as sanções para quem não vota são mínimas, e estão dispensados da obrigação os eleitores com mais de 70 anos. Esses, são cerca de 30 milhões. Além disso, é bom lembrar que o "fique em casa", que prejudicou os brasileiros, pode prejudicar também o poder da maioria, pedra de toque da democracia. Jovens de 16 e 17 anos, que poderiam votar mas não são obrigados, não se empolgaram: hoje são metade dos 2 milhões que se alistaram em 2002. Os que não votam, ou inutilizam seu voto, deixam que os outros decidam. [entendemos que só devem votar os que tem idade para responsabilização penal; vejam o absurdo: se um desses jovens, 16 e 17 anos, que podem votar mas não podem ser responsabilizados penalmente, decidir adentras a uma Seção Eleitoral e arrebentar com uma urna eletrônica, destruindo, nada pode ser feito contra ele - no máximo, será cobrado do pai o valor da urna danificada.]

Para ser eleito em outubro, o governador ou presidente precisa ter maioria entre os votos válidos. Juscelino foi eleito com 36% dos votos; o segundo candidato teve 30% e o terceiro, 26%. E houve uma contestação muito grande por parte dos 56% que não queriam JK.
Por isso, hoje, há o segundo turno entre os dois mais votados, obrigando-se a ter o vencedor mais da metade dos votos válidos. 
Mas os votos nulos e brancos não contam. 
No segundo turno da eleição presidencial de 2018, somadas abstenções, votos anulados e brancos, foram 42 milhões de eleitores que não participaram da decisão.  
O perdedor, Haddad, teve 47 milhões de votos e o vencedor, quase 58 milhões. O equivalente à população da Ucrânia, ou da Argentina, não participou da escolha do presidente do Brasil. [exerceram uma opção que lhes é oferecida e se fosse encontrada uma forma que os obrigasse a votar (escolhendo um candidato e não votando branco ou anulando) metade fosse para cada um dos candidatos nada mudaria.]
 
O que serve para presidente ou governador serve também para a escolha de nossos representantes no Legislativo
Eles terão o poder de fazer, alterar ou desfazer leis e até de mexer na Constituição, no que não for cláusula pétrea. [alguém em sã consciência acha que o senador Pacheco está exercendo de forma adequada o Poder que lhe é conferido em termos de decidir tramitação de pedidos de 'impeachment'? 
Pacheco, sozinho, bloqueia o direito de 80 senadores decidirem sobre pedidos de impeachment.]
Nós, eleitores, temos o poder de, dentro de três meses, escolher aqueles que podem impedir que a Constituição seja desrespeitada, e eleger aqueles que, nos poderes Legislativo e Executivo, garantam o futuro de nossas famílias com valores em que acreditamos. 
Se nos alienarmos na escolha, ficando em casa ou votando branco e nulo, perdemos a razão para reclamar das consequências. [o ideal seria que todos os brasileiros - ou pelo menos uns 90% do total do eleitorado -  comparecessem às seções eleitorais e votassem de forma consciente escolhendo um candidato, só que lamentavelmente isso não ocorre.]

Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense 

 

domingo, 2 de dezembro de 2018

Forte Apache

Congresso é melhor em levar na conversa que em bater continência

Com seus quase trinta anos de mandato como deputado, Jair Bolsonaro não é alguém a quem se possa atribuir desconhecimento sobre os caminhos em que as cobras andam no Congresso. Tendo sido o presidente eleito durante aquele período de sócio atleta do clube de um baixo clero catedrático nas manhas e artimanhas do Parlamento, por mais razão não se devem subestimar seus conhecimentos na matéria.  Mais do que você, eu ou qualquer um dos brasileiros tidos como experts no tema, Jair Bolsonaro tem ciência de que a guarda compartilhada das relações com deputados e senadores entre o deputado Onyx Lorenzoni e o general Carlos Alberto dos Santos Cruz não é uma aposta necessariamente certeira.

Portanto, ele deve ter um plano cujas informações essenciais garantidoras da eficácia do projeto ainda reserva para si. Se não tiver, pior para todos nós, tripulantes do mesmo barco, sobretudo considerando que o novo mandatário passou muito menos tempo no quartel do que na Câmara e, por isso, percebe (ou deveria perceber) com nitidez que na vigência da democracia é mais fácil o Congresso levar o general Santos Cruz na conversa que os parlamentares aceitarem submeter-se à disciplina militar.  A nomeação de quantidade inédita de militares em governo civil em si não configura risco ao regime nem uma ameaça ao estado de direito, reconquistado a penas duríssimas.  [foi a junção Nova República com o estado de direito que propiciou as condições para o maior assalto aos cofres público -  realizado nos 13 anos de  governo petista - e o maior retrocesso no desenvolvimento do Brasil e estabilização de sua economia.] É evidente que militares formados (alguns até nascidos) nos anos posteriores à ditadura diferentes daqueles forjados em critérios anteriores à reformulação constitucional que desde 1988 sustenta o Brasil democrático e que o submeteu a reiterados e exitosos testes de firmeza institucional.

O problema pode vir a ser o método. Militares têm uma dinâmica própria, cuja pedra de toque está fundada na obediência cega à hierarquia. Outra muito diferente (para não dizer oposta) é a lógica condutora do sistema de poder predominantemente civil. Neste, a palavra de ordem é negociação; naquele, a base reside na garantia da ordem pela obediência cega aos ditames da hierarquia. Militar algum negocia coisa nenhuma com superiores ou com subalternos. Pois bem: parlamentar nenhum presta reverência a ordens-unidas sem que a isso corresponda uma contrapartida, seja ela lícita, ilícita, programática ou de mera conveniência. É da natureza da função, assim como é inerente ao militar o respeito irrestrito à hierarquia funcional.

 
Na complexidade das relações democráticas entre Poderes, mais importante que a obediência ao comandante é a submissão ao abecedê da mandante de campo hoje, e de modo consolidado para sempre, que responde pelo nome de Constituição do Brasil.

O mantra do avô.
Tão atual quanto inesquecível é a frase que ouvi ainda bem jovem de Roberto Campos em 1999, cujo neto ocupará o Banco Central a partir de 2019: “Minha filha, não é a lei que precisa ser forte, é a carne que não pode ser fraca”.





Publicado em VEJA de 5 de dezembro de 2018, edição nº 2611