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segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Lula até o fim 3 e 4

Partido terá 3 ou 4 semanas para operar transferência de muitos milhões de votos; petistas graúdos que não apostam nisso

A destruição da classe política, empreendida pela Lava Jato, está na raiz da ressuscitação de Lula. Assim, mantê-lo candidato pode não ter recuperado a imagem do PT como um todo — embora a legenda seja a preferida de 24% do eleitorado; em segundo lugar, vêm PSDB e PMDB, com apenas 4% … —, mas chancelou com as urnas, ainda que simbólicas, o seu renascimento. Desse ponto de vista, a prisão fez um bem imenso ao candidato impossível: quando foi encarcerado, Lula tinha 30% dos votos; agora, pode ter mais de 40%, já que a margem de erro da pesquisa é dois pontos para mais ou para menos.

Mas a loucura na escolha também está presente. O partido terá três ou quatro semanas para operar uma transferência de muitos milhões de votos. Haddad aparece com 4% das intenções de voto. Digamos que, para ir à etapa final, precise de 20%. Num total de 147,3 milhões de eleitores, terá de ganhar 16 pontos percentuais. Estamos falando de 23,5 milhões de pessoas. Se a coisa se der como quer o PT, com a inelegibilidade de Lula sendo declarada só no dia 17, essa migração terá de acontecer em três semanas: mais de um milhão de pessoas por dia, na média.  Há petistas graúdos que não apostam nisso. Mas ninguém tem a coragem de falar. Lá da cadeia, o homem emite seus “diktats”.

Se PT mantiver ex-presidente na urna, inelegibilidade confirmada invalidará seus votos; o 2º poderia se eleger no 1º turno [Bolsonaro VAI se eleger no segundo turno das eleições de outubro/2018]

A “loucura no método”, pois, já implica substituir Lula por Haddad, mas só na data-limite. Sim, o PT pode recorrer ao próprio TSE e depois ao STF contra a declaração de inelegibilidade do seu chefe mesmo depois do dia 17, mas fará a substituição, sim! Caso o partido decidisse insistir na candidatura à espera do último recurso, o nome do ex-presidente seria mantido na urna eletrônica. Sendo o registro definitivamente negado depois de milhões lhe darem seus respectivos votos, os ditos-cujos seriam declarados inválidos. Se o segundo colocado conseguisse metade mais um dos VÁLIDOS, estaria eleito.

O PT não vai correr esse risco.  A história de que o crescimento de Lula nas pesquisas poderia levar a essa escolha doidivanas é só para confundir os adversários. O PT só quer atrair um pouco mais a fúria da direita xucra para convertê-la em votos, como vem fazendo e com sucesso.

Blog do Reinaldo Azevedo
 


NÃO DEIXE DE LER: PT na TV 1: Provável 1º programa traz Haddad como o apresentador da candidatura de Lula: propaganda é “pra cima”; deixa de lado o rancor

 

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Um revolucionário em ação

Dirceu não se dá por vencido. Como Lula, ele também quer se passar por perseguido político e pretende caracterizar o atual momento como um estado de exceção

Esquecido em uma cela de Curitiba, na qual paga pena por corrupção da grossa, José Dirceu tem mandado cartas a conhecidos seus na esperança de recuperar algo da mística do “guerreiro do povo brasileiro”, perdida em alguma esquina entre o mensalão, o petrolão e o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Com o PT inteiramente devotado a salvar o pescoço do chefão Lula da Silva, nenhum petista parece se incomodar mais com a prisão de Dirceu. Mas o disciplinado ex-guerrilheiro não perde a pose de revolucionário e, por meio dessas mensagens, pretende incitar a militância a “ir às ruas”, pois “é hora de ação”.

Na mais recente missiva escrita em uma folha de caderno escolar onde se lê “O Despertar da Força”, referência a um episódio da série Guerra nas Estrelas –, Dirceu diz que é preciso “exigir justiça para todos, a renúncia de Temer et caterva, eleições gerais, Constituinte”, tudo isso “antes que façam um acordão, como já vem sendo pensado por Gilmar Mendes (ministro do Supremo Tribunal Federal), a falada ‘operação contenção’ para salvar o tucanato e o usurpador Temer”.

Nessa linguagem sôfrega e confusa, decerto pensada para denotar a urgência do momento, Dirceu considera que essa missão, já que ele próprio está preso, cabe aos notórios João Pedro Stédile, líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST); Guilherme Boulos, chefe do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST); e Vagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), ou seja, a tigrada que já está bastante empenhada em transformar a violência e a baderna em armas políticas.

Mesmo dizendo que “quem está preso não deve meter o bedelho” na política, Dirceu quer se fazer passar por um líder capaz de ditar os passos e os contornos da “luta”, atribuindo-se uma importância que raros companheiros lhe dão. “É agora ou nunca”, escreveu, dizendo ser esta a “hora de um programa de mudanças radicais, na política e na economia”.

Entende-se a aflição de José Dirceu. Afinal, já está claro que ele, a exemplo de muitos outros companheiros de viagem de Lula, foi abandonado à própria sorte para não atrapalhar o chefão petista. Desde que o cerco ao ex-presidente começou a se fechar, nem ele nem o PT fazem qualquer referência a Dirceu e aos demais petistas graúdos encrencados na Lava Jato, como João Vaccari Neto e Antonio Palocci, seja para defendê-los, seja para sequer lembrar da existência deles.

A mágoa do outrora “guerreiro do povo brasileiro” é tanta que transparece em outra carta, esta enviada ao governo cubano por ocasião da morte de seu amigo, o ditador Fidel Castro. Na mensagem, lembrou que Fidel nunca deixou de lhe ser solidário durante os “anos de infâmia”, isto é, “não quando eu estava no governo, e sim sempre quando eu mais necessitava – de novo banido e caluniado nos anos do mensalão e também depois da minha condenação e prisão em 2013”.

Mas Dirceu não se dá por vencido. A exemplo de Lula, ele também quer se passar por perseguido político e pretende caracterizar o atual momento como um estado de exceção, em que os direitos elementares de “progressistas” como ele estariam suspensos por um conciliábulo de inimigos dos pobres. Ainda que tenha sido condenado em todas as instâncias judiciais, nas quais, mesmo dispondo de amplo direito de defesa, sua culpa no esquema de corrupção que dominou os governos petistas ficou amplamente comprovada, Dirceu se considera vítima de um complô que envolve até mesmo o Supremo Tribunal Federal (STF). Na carta, ele diz que “o STF se acumpliciou com as ilegalidades do (juiz Sérgio) Moro, com o golpe e, pior, com a impunidade, o corporativismo judiciário”.

A caradura é tanta que Dirceu assina a carta como “Daniel”, um dos codinomes que ele usou durante a ditadura militar. Ou seja, para “Daniel”, estamos vivendo uma nova ditadura, que, segundo sua perspectiva, deve durar quase tanto quanto a de 1964: “Temos ainda 20 longos anos de luta pela frente”. No caso de Dirceu, condenado a 23 anos de prisão, a luta se resume a não ser esquecido de vez.

Fonte: Editorial - O Estado de S. Paulo