Vélez só está no MEC por falta de determinação de uma única pessoa: Jair Bolsonaro
A inexplicável relutância em demitir Ricardo Vélez Rodríguez do
importantíssimo Ministério da Educação diz muito da personalidade do
cidadão Jair Bolsonaro e do desconforto do presidente Jair Bolsonaro no
cargo. Aliás, foi ele mesmo quem disse que “não nasceu para ser
presidente, nasceu para ser militar”. O que também é controverso, já que
saiu cedo do Exército, como capitão, e não saiu nada bem.
Se Bolsonaro foi tão impetuoso e decidido ao demitir o amigo Gustavo
Bebianno com requintes de crueldade e ao mandar o ministro Sérgio Moro
desconvidar a respeitada Ilona Szabó para ser uma mera suplente de um
mero conselho, por que mantém Vélez no cargo apesar de tudo e todos?
Porque o ministro é “um cara bacana”, como disse a jornalistas? [comentário 1: o nosso presidente, tudo indica, ainda não assimilou que quem tem o PODER pode exercer na hora que quiser sem necessidade de avisar e/ou dar explicações, especialmente quando se trata de se livrar de quem atrapalha - rapidez é sempre conveniente.
No caso do Bebianno, e no caso da Ilona (que, se empossada, seria uma sabotadora dentro do governo, ainda que na suplência de um conselho sem grande importância) a demissão ocorreu dentro do rito adequado;
a aparente relutância quando a demitir Vélez, tudo indica é apenas uma tentativa do presidente de que o ex-ministro no exercício do cargo de ministro, aja com a dignidade e peça para sair.]
É um mistério e esse mistério fica ainda pior porque Bolsonaro já tinha
decidido a demissão antes da viagem a Israel, mas preferiu ficar
fritando o ministro em público do que fazer o que tinha de fazer. Por
fim, avisou na sexta que pretende defenestrá-lo amanhã. Avisar três dias
antes, pela mídia, que pretende demitir alguém?! Bolsonaro já falou mal da gestão do MEC na TV, admitiu que faltam ao
ministro habilidades essenciais para a função (comando, autoridade,
capacidade para escolher pessoas...) e chamou Vélez ao Planalto na
véspera da viagem. Mas... continuou contando, impassível, as demissões
no ministério: uma, cinco, dez, vinte...
A coisa degringolou de tal forma que, só pela Secretaria Executiva, já
passaram quatro pessoas, mas o chefe continua e não consegue nem demitir
seus auxiliares diretos. Por fim, a ordem parte diretamente da Casa
Civil, à revelia do ministro. Será que ele é o último a saber? Além das demissões em massa, Vélez deu sucessivas demonstrações de não
mandar em nada e em ninguém, surpreendido ora com a ordem para as
escolas desprezarem a lei e filmarem as crianças cantando o Hino
Nacional, ora com a decisão do segundo escalão de suspender a avaliação
da alfabetização das crianças. Deus do céu! [comentário 2: fazemos restrições ao Vélez, bem como ao do Itamaraty - esperamos que ambos nos privilegiem com suas ausências da Esplanada antes da Semana Santa;
mas, mesmo assim, temos que insistir em lembrar que existe uma lei, em plena vigência, que determina a execução do Hino Nacional e que está sendo ignorada, desrespeitada, impunemente.
Está determinado no parágrafo único, artigo 39, da Lei nº 5.700, em plena vigência:
"Art. 39. ...
Parágrafo único: Nos estabelecimentos públicos e
privados de ensino fundamental, é obrigatória a execução do Hino Nacional uma
vez por semana. (Incluído
pela Lei nº 12.031, de 2009)."]
Cem dias depois de ter desbancado Mozart Ramos, do Instituto Ayrton
Senna, Vélez não tem apoio de absolutamente ninguém: da opinião pública,
do setor, de especialistas em educação, muito menos dos militares. Já
perdeu até o aval do guru Olavo de Carvalho, que acaba de chamá-lo de
“traiçoeiro” e entregá-lo à própria sorte. O problema, portanto, não é
Vélez, é Bolsonaro. No meio do furacão, o ministro finge que não é com ele, vai ficando e
passando humilhação. Será que o presidente prefere que ele peça demissão
a demiti-lo? Se for assim, a conversa entre os dois não vai ser bonita,
porque o ministro está confrontando o chefe e com a seguinte mensagem:
daqui não saio, se quiser que me tire. Detalhe: Vélez não consta da
agenda oficial do presidente para segunda-feira.
É uma situação absurda, surreal, que expõe o ministro, o presidente, o
governo e – o mais grave – paralisa um ministério fundamental para o
País, o desenvolvimento, as famílias, o futuro. O MEC parou. O Fies? O
Enem? A política educacional? Essa situação deixa uma reflexão no ar. Vélez foi escolhido por
ideologia e gurus e virou uma ilha cercada de “olavetes” e militares. Já
seu antecessor Mendonça Filho (DEM) foi uma indicação política, pôs na
Secretaria Executiva a craque Maria Helena Guimarães Castro e montou uma
equipe técnica. Qual dos dois é melhor para o MEC?
A culpa não é de gurus, generais e partidos, nem do próprio Vélez.
Jabuti não sobe em árvore e não foi Vélez quem obrigou Bolsonaro a
nomeá-lo. Ele é resultado de um processo muito particular de escolhas e
só está no cargo por determinação, e agora por falta de determinação, de
uma única pessoa: Jair Bolsonaro.