Temer diz que não sabia quem lhe deu carona no jatinho. Mas não sabia quem deu flores para sua mulher?
Um homem incauto pode até não saber a quem pertence o
jato particular que o transporta, com sua família, de São Paulo para o
litoral da Bahia. Mas uma mulher sempre sabe – ou busca saber – quem a
presenteia com um buquê de flores. O presidente Michel Temer tenta nos fazer crer que não sabia que o jato era de Joesley Batista, “o falastrão”. Hoje sabemos que Temer não sabia de nada, nada. Mas quem enviou as flores para Marcela Temer foi a mãe de Joesley.
Esse é o relato do dono do Learjet e da JBS, o Joesley, que diz ter recebido um telefonema de Temer, agradecendo o mimo das flores. Temer nega. Nessa época, ano de 2011, Joesley ainda não gravava as conversas com um de seus cupinchas no Poder, o então vice-presidente Temer. Uma reportagem exclusiva do jornal O Globo, com o piloto do avião e ex-funcionário da JBS José Cerqueira, confirma o agrado para Marcela. Foi o piloto que entregou o buquê em mãos. A versão de que a mãe de Joesley mandara as flores – e não o empresário – serviria para afastar o ciúme de Temer.
Mas por que falar disso numa semana em que “um oceano de provas de propina e corrupção” na campanha presidencial de 2014 foi mandado às favas pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, o imodesto Gilmar Mendes, o maior marqueteiro da chapa Dilma-Temer? O voo em jato de dono desconhecido, empréstimo anônimo e desinteressado de amigo para amigo, é um “episódio menor” para o atual presidente Temer. Verdade. Hábito trivial em nossa República. Políticos brasileiros viajam de graça em jatinhos de empresários. De graça, não, porque a conta sempre aparece. E quem paga somos nós.
Às favas com os escrúpulos de consciência, disse em 1968 o então ministro do Trabalho e da Previdência Jarbas Passarinho, na edição do AI-5, o decreto que suspendia garantias constitucionais e fortalecia a ditadura militar. Meses antes do Ato Institucional, no mesmo ano de 1968, a música-hino da resistência civil e estudantil “Pra não dizer que não falei das flores”, também conhecida como “Caminhando”, de Geraldo Vandré, foi vice-campeã no Festival da Canção. Só não ganhou o festival por motivos óbvios. E a vitoriosa “Sabiá” de Chico Buarque levou uma das maiores vaias da história do festival. Vitórias e derrotas são muito relativas.
Os momentos do Brasil são diferentes. Nada a ver 1968 e 2017. As garantias constitucionais são respeitadas. A liberdade de expressão também. O julgamento histórico do TSE expôs, sem cortes, para a população e para a imprensa, a divisão entre juízes. Só os índios não contactados até hoje – e talvez o PSDB – ainda não sabiam de que lado estava a verdade real sobre a dupla mista PT-PMDB. Antes do desfecho, o júri popular já dera seu veredito no embate da ética.
O vencedor por pontos, o ninja Herman Benjamin, resistiu com argumentos, citações e documentos a todos os golpes abaixo da cintura. O derrotado-mor, o imodesto Gilmar Mendes, mandou a justiça, a coerência, as provas e sua própria história recente às favas. O vencedor tinha “aura de relator”, segundo seu adversário, e encantou a todos nós. O vencido pedia para si os louros do julgamento. Gilmar acabou constrangendo apenas a si mesmo ao contorcer a lógica e investir contra a “sanha cassadora” da mídia. Ele uniu contra sua arrogância os brasileiros, caminhando e cantando/braços dados ou não.
Por que então falar de flores numa semana em que caixas um, dois e três para financiar campanhas eleitorais foram desembrulhadas na frente do país para cassar uma chapa fria? Por que falar de jatinho se o que importa mesmo é a Lava Jato, com figurantes como o homem da mala Rodrigo Rocha Loures roubando o papel de protagonistas? Porque o presidente Temer foi flagrado numa mentira pueril. E não dá para mentir. Não agora.
Primeiro, Temer negou ter viajado em avião da JBS e afirmou que só voara em aviões da FAB. Depois, recuou e disse apenas o que todos têm repetido. Ele não sabia. Até o PSDB acha que o episódio do jatinho pode dar fôlego à ruptura. Ah, esses tucanos. Não se lembram mais da canção de Geraldo Vandré: Esperar não é saber/quem sabe faz a hora/não espera acontecer.
Ninguém pode acreditar que Temer não soubesse de quem era o Learjet que levou sua família, incluindo o Michelzinho, de lá pra cá e pra lá, sem cobrar aluguel. A viagem não constava da agenda oficial do então vice-presidente. Assim como o encontro fatídico com o falastrão não tinha registro oficial. Ninguém pode acreditar que Temer não saiba quem deu as flores para sua mulher. Pode ter sido dona Flora Batista, mãe de Joesley. Pode ter sido o próprio Joesley. Temer, conversa com a Marcela. As mulheres sempre sabem.
>> Todas as colunas de Ruth de Aquino
Fonte: Ruth Aquino - Revista ÉPOCA
Esse é o relato do dono do Learjet e da JBS, o Joesley, que diz ter recebido um telefonema de Temer, agradecendo o mimo das flores. Temer nega. Nessa época, ano de 2011, Joesley ainda não gravava as conversas com um de seus cupinchas no Poder, o então vice-presidente Temer. Uma reportagem exclusiva do jornal O Globo, com o piloto do avião e ex-funcionário da JBS José Cerqueira, confirma o agrado para Marcela. Foi o piloto que entregou o buquê em mãos. A versão de que a mãe de Joesley mandara as flores – e não o empresário – serviria para afastar o ciúme de Temer.
Mas por que falar disso numa semana em que “um oceano de provas de propina e corrupção” na campanha presidencial de 2014 foi mandado às favas pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, o imodesto Gilmar Mendes, o maior marqueteiro da chapa Dilma-Temer? O voo em jato de dono desconhecido, empréstimo anônimo e desinteressado de amigo para amigo, é um “episódio menor” para o atual presidente Temer. Verdade. Hábito trivial em nossa República. Políticos brasileiros viajam de graça em jatinhos de empresários. De graça, não, porque a conta sempre aparece. E quem paga somos nós.
Às favas com os escrúpulos de consciência, disse em 1968 o então ministro do Trabalho e da Previdência Jarbas Passarinho, na edição do AI-5, o decreto que suspendia garantias constitucionais e fortalecia a ditadura militar. Meses antes do Ato Institucional, no mesmo ano de 1968, a música-hino da resistência civil e estudantil “Pra não dizer que não falei das flores”, também conhecida como “Caminhando”, de Geraldo Vandré, foi vice-campeã no Festival da Canção. Só não ganhou o festival por motivos óbvios. E a vitoriosa “Sabiá” de Chico Buarque levou uma das maiores vaias da história do festival. Vitórias e derrotas são muito relativas.
Os momentos do Brasil são diferentes. Nada a ver 1968 e 2017. As garantias constitucionais são respeitadas. A liberdade de expressão também. O julgamento histórico do TSE expôs, sem cortes, para a população e para a imprensa, a divisão entre juízes. Só os índios não contactados até hoje – e talvez o PSDB – ainda não sabiam de que lado estava a verdade real sobre a dupla mista PT-PMDB. Antes do desfecho, o júri popular já dera seu veredito no embate da ética.
O vencedor por pontos, o ninja Herman Benjamin, resistiu com argumentos, citações e documentos a todos os golpes abaixo da cintura. O derrotado-mor, o imodesto Gilmar Mendes, mandou a justiça, a coerência, as provas e sua própria história recente às favas. O vencedor tinha “aura de relator”, segundo seu adversário, e encantou a todos nós. O vencido pedia para si os louros do julgamento. Gilmar acabou constrangendo apenas a si mesmo ao contorcer a lógica e investir contra a “sanha cassadora” da mídia. Ele uniu contra sua arrogância os brasileiros, caminhando e cantando/braços dados ou não.
Por que então falar de flores numa semana em que caixas um, dois e três para financiar campanhas eleitorais foram desembrulhadas na frente do país para cassar uma chapa fria? Por que falar de jatinho se o que importa mesmo é a Lava Jato, com figurantes como o homem da mala Rodrigo Rocha Loures roubando o papel de protagonistas? Porque o presidente Temer foi flagrado numa mentira pueril. E não dá para mentir. Não agora.
Primeiro, Temer negou ter viajado em avião da JBS e afirmou que só voara em aviões da FAB. Depois, recuou e disse apenas o que todos têm repetido. Ele não sabia. Até o PSDB acha que o episódio do jatinho pode dar fôlego à ruptura. Ah, esses tucanos. Não se lembram mais da canção de Geraldo Vandré: Esperar não é saber/quem sabe faz a hora/não espera acontecer.
Ninguém pode acreditar que Temer não soubesse de quem era o Learjet que levou sua família, incluindo o Michelzinho, de lá pra cá e pra lá, sem cobrar aluguel. A viagem não constava da agenda oficial do então vice-presidente. Assim como o encontro fatídico com o falastrão não tinha registro oficial. Ninguém pode acreditar que Temer não saiba quem deu as flores para sua mulher. Pode ter sido dona Flora Batista, mãe de Joesley. Pode ter sido o próprio Joesley. Temer, conversa com a Marcela. As mulheres sempre sabem.
>> Todas as colunas de Ruth de Aquino
Fonte: Ruth Aquino - Revista ÉPOCA