Cheios de assistentes, pré-candidatos mantêm uns
poucos em quem confiam
A
pensadora de Marina Silva (Rede), o diplomata de Geraldo Alckmin
(PSDB), o homem da lei de Jair Bolsonaro (PSL) e o bombeiro de Ciro
Gomes (PDT). Nada de partido ou político ilustre. Quando a coisa aperta
para o lado dos presidenciáveis são a essas quatro figuras que eles recorrem
para os desabafos mais confidenciais.
No caso
de Alckmin, Ciro e Marina, trata-se de uma relação construída ao longo de
décadas. Para o tucano e a ex-senadora, o encontro deu-se ainda nos tempos em
que estavam no Congresso. Com Ciro, o laço familiar falou mais alto.Irmão
mais novo do presidenciável do PDT, Cid Gomes é "o cara" da
retaguarda de Ciro [e também aquele que quando era governador do Ceará levou a sogra para passear no exterior por conta dos cofres públicos.]. É a ele que o pré-candidato confia os pensamentos mais
sigilosos e também conta para apagar incêndios que seu temperamento explosivo
provoca por onde passa. Se já não bastasse, Cid é ainda o principal articulador
político da candidatura do irmão.
Um
episódio de fúria de Ciro em 2016 em Fortaleza, no auge dos protestos pelo
impeachment de Dilma Rousseff, ilustra o papel de Cid na vida do
presidenciável. Na madrugada de 17 de março, Ciro desceu do apartamento do
irmão para bater boca com manifestantes de um ato contra Dilma e o ex-presidente
Lula. Enfurecido, o presidenciável xingou, gritou e até disse que Lula era um
"merda" na discussão. Nesse momento, Cid, atrás do irmão, leva as
mãos à cabeça. Ele tenta convencer Ciro a entrar no prédio. Após a explosão,
Ciro aceita a sugestão do irmão. O vídeo circula na internet até hoje.— O Cid
funciona como um contrapeso para Ciro, tenta trazer o equilíbrio. Mas, às
vezes, tem que colocar o uniforme de bombeiro — resumiu um político cearense.
Cinco
anos mais novo que o presidenciável, Cid entrou na política na esteira da
popularidade no irmão. Hoje, cabe a ele apaziguar não apenas os ímpetos do
presidenciável como vendê-lo como boa alternativa para o país a políticos,
empresários e o mercado financeiro. Cid tem dito que, se o irmão não conseguir
apoios de peso, ele abrirá mão de uma candidatura ao Senado para se dedicar
exclusivamente à candidatura de Ciro.
"CHAMA
O ORLANDINHO"
Dedicação
exclusiva é o que oferece há 30 anos o advogado Orlando de Assis Baptista Neto
a Geraldo Alckmin. "Chama o Orlandinho" é uma frase que virou bordão
de Alckmin pela frequência com que é dita. Ele é o
homem da confiança do pré-candidato do PSDB para qualquer assunto, de temas de
governo à Lava-Jato. É o único que tem a permissão de Alckmin para fazer
contato com os advogados que cuidam dos inquéritos do tucano por suspeita de
caixa dois.
Alckmin
aciona Orlandinho para farejar crises internas de governo, alertar auxiliares
sobre eventual insatisfação do tucano com algo que tenham feito e até para
tarefas mais prosaicas como a de responder cartas enviadas ao tucano quando era
governador. A “jurisdição” dele, entretanto, tem limites. Na articulação
política, ele palpita, mas não opera.
A relação
entre Alckmin e Orlandinho começou em 1989, quando o tucano era deputado
federal. Recém-formado em Direito pela Universidade de Brasília, o jovem fora
recomendado a Alckmin pelo pai, vereador na região de Pindamonhangaba, onde o
tucano nasceu. Orlandinho estudava para a carreira diplomática, havia acabado
de retornar de uma viagem à Inglaterra e estava precisando de um emprego em
Brasília.
Durante
três décadas, para cada função ocupada por Alckmin, Orlandinho teve um cargo de
assessor. Agora na campanha presidencial não será diferente. O fiel auxiliar
tirou uma licença-prêmio remunerada de oito meses do governo de São Paulo para
ajudar o ex-governador. Para
aliados de Alckmin, o confidente número 1 ganhou a confiança pelo estilo
discreto. Ele nunca será visto num palanque ou ao lado do presidenciável na
campanha. Não existem fotos de Orlandinho na internet nem entrevistas. Com
cerca de 50 anos, ele mora sozinho, não tem filhos nem redes sociais. — Ele é
de uma discrição e capacidade de trabalho que ganharam o Geraldo. Nunca
trabalhou com outra pessoa. Tem uma vida devotada ao Geraldo e é os olhos e a
boca dele — afirmou um ex-assessor de Alckmin quando deputado estadual.
REFÚGIO
DE MARINA
A
confidente de Marina atende pelo nome de Maristela Bezerra Bernardo. Socióloga
e jornalista, ela acompanha a política desde o mandato no Senado, em 1995.
Maristela era funcionária de carreira na Casa e atuava na área de meio ambiente
no grupo de consultoria legislativa quando Marina foi eleita senadora. o
primeiro encontro foi nos primeiros dias daquele ano quando Maristela foi até o
gabinete se apresentar à novata senadora. Do episódio corriqueiro, um vínculo
estabeleceu-se, e Maristela tornou-se assessora parlamentar de Marina.
Engajada
na luta em defesa do meio ambiente, as duas viajaram pelo Acre. Maristela
chegou a trabalhar com Marina no Ministério do Meio Ambiente, e a relação
profissional virou amizade. Marina
fala pouco de Maristela. Uma dessas vezes foi para o livro sobre a trajetória
dela mesma em que contou que o encontro com Maristela ajudou a tornar mais
familiar o ambiente desconhecido do Senado. É a ela que a presidenciável
recorre para as discussões mais profundas sobre política e a vida.
Foi na
casa de Maristela que a então senadora se refugiu em outubro de 2013 quando
deixou o prédio do Tribunal Superior Eleitoral com a notícia de que seu novo
partido, a Rede, havia tido o registro negado para as eleições de 2014. Foi lá,
com assessores próximos, que Marina decidiu se filiar ao PSB e ser vice de
Eduardo Campos em 2014.
— A
Maristela é a pessoa que, em tempos de crise, a Marina procura. Ela é uma
grande influência para a Marina, porque ela é crítica — disse um amigo em comum
das duas.
A
socióloga, entretanto, é uma figura de bastidor. Na campanha de 2014, ela
ajudou na formulação no plano de governo, mas nunca esteve na linha de frente
das candidaturas presidenciais da ex-senadora. Maristela sempre ajudou Marina a
escrever artigos. Na morte do pai da ex-senadora, em janeiro deste ano, a amiga
e confidente escreveu um artigo em que deixou nas entrelinhas a forte relação
entre as duas. "Pedro, Pedro Augusto, o seringueiro seu Pedro. Ontem, aos
90 anos, morreu o pai de Marina Silva. Conheci seu Pedro em minhas andanças no
Acre junto com Marina", escreveu a socióloga.
Em 2010,
quando Marina se filiou ao PV para disputar a eleição para presidente,
Maristela foi das primeiras figuras do entorno dela a discutir publicamente os
conflitos que a ex-senadora estava enfrentando no novo partido. "É
interessante observar como o Partido Verde lida com a vida após a entrada de
Marina Silva e de centenas de novos filiados num curto período de tempo. Há uma
dupla tensão. De um lado, os que chegam com a palavra de ordem de mudança
constatam que há uma resistência relevante a enfrentar. De outro, não está
fácil para quem se acostumou ao “liberou geral” nos estados, nos últimos anos,
em nome de metas na eleição de deputados federais e estaduais para obedecer à
cláusula de barreira", escreveu. Nesta
eleição, a amiga continuará contribuindo mas sem participação definida na
equipe.
É o
oposto do esperado do homem de confiança de Bolsonaro, o advogado Gustavo
Bebianno. Morador do Rio de Janeiro, assim como o presidenciável, Bebianno
começou ao lado de Bolsonaro como assessor no seu gabinete na Câmara. Aliados
do pré-candidato sabem pouco da história entre eles. Bebianno foi o escolhido
pelo deputado para ser o representante dele no PSL. Hoje, ele é presidente em
exercício da sigla.
O Globo