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domingo, 8 de janeiro de 2023

De olho no retrovisor - Alon Feuerwerker

Análise Política

É da vida que governos registrem desencontros na largada. Basta lembrar dois programas no nascedouro do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, naquele já longínquo 2003: o Fome Zero e o Primeiro Emprego.


O primeiro foi abatido na decolagem,
quando se desenhou mais como iniciativa de organização político-popular do que como ação de combate à fome propriamente dita. O segundo morreu de morte morrida mesmo, quando a sempre repetida tese de que as contratações são estimuladas quando se removem direitos trabalhistas colheu um primeiro fracasso (seriam vários).

Qual a diferença
, porém, com os desencontros de hoje, que se estão longe de serem graves mostram-se sintomáticos? Vinte anos atrás tateava-se para adiante, e agora os ruídos parecem decorrer de uma pilotagem de olho no retrovisor.

Até certo ponto, o governo comandado pelo PT parece ter alguma dificuldade para ganhar velocidade por ter um foco excessivo em falar mal, procurar defeitos e desfazer ações do antecessor, ou antecessores (entra aí a administração que sucedeu a de Dilma Rousseff).

Fez sentido que a propaganda eleitoral petista tenha aproveitado o impulso proporcionado pela ideia, habilmente disseminada, de que o país está destruído e é preciso reconstruí-lo. Eleições vencem-se também por saber navegar e potencializar estados emocionais.  Mas, se o antibolsonarismo parece ter sido suficiente para a colheita dos votos decisivos na eleição de outubro, persistir nele como centro da narrativa traz pelo menos duas complicações: 1) obriga a recuos quando se pretende fazer tábula rasa de eventuais avanços do período anterior; e 2) secundariza-se o coração da narrativa de qualquer governo de sucesso, ser um instrumento para a construção de um futuro melhor.

Sem contar que nunca se falou tanto num candidato derrotado. Bolsonaro continua no palco iluminado, agora pela mão dos adversários.

Vamos ao que interessa. Quais são as ideias do governo para evitar que 2023 registre desaceleração da economia, o que traria certamente a diminuição do ritmo da recuperação do emprego? 
Apenas a ação indutora do Estado (e como vai ser isso?) será suficiente ou será necessário evoluir na melhora do ambiente para o investimento privado?

O principal risco político para a nova administração é continuar ocupada com a guerra cultural-propagandística contra a anterior enquanto se deterioram as condições econômicas do povão. Sempre se poderá, é claro, evocar alguma herança maldita, mas não é certo que venha a resolver o problema.

Até porque o bolsonarismo preserva, como começam a mostrar os levantamentos, forte base social. E mantém uma militância mobilizada para a guerra cultural e de narrativas.  

Muito diferente dos primeiros governos do PT, que só enfrentavam oposição social-partidária real em época de eleição.[a oposição será permanente, não com narrativas e sim com fatos que sempre mostrarão o desgoverno recém instalado - não será tarefa dificil mostrar erros em um ajuntamento, que insistem em chamar de governo, no qual o ministro da Educação não sabe somar 8 + 4.
Necessário ter em conta que com o Novo Congresso a oposição vai complicar mais o que já está  complicado; 
- conseguiram  aprovar a PEC da Transição, que em um primeiro momento pareceu uma vitória da esquerda, mas agora se revela um desastre para os comunistas que tentam iniciar um governo = vai faltar dinheiro, até o pequeno aumento do salário mínimo pode emperrar e não terão a desculpa de alegar que a falta de recursos seria motivada por uma não ocorrida  rejeição da PEC PRECIPÍCIO.]

O governo tem só uma semana, e o presidente parece ter-se dado conta da necessidade de um freio de arrumação. Mais que um freio, talvez seja necessária alguma correção de rota. Lula ainda tem tempo.

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político


domingo, 14 de junho de 2015

PIL, um teste para Dilma

Os governos do PT são bons em lançamentos e péssimos em execução. Em 2003, semana sim, outra também, o ex-presidente Lula lançava um novo programa de governo e escolhia para eles nomes chamativos como Meu Primeiro Emprego e Escola de Fábrica, que nunca saíram do papel. Alguns empacaram por incompetência na execução, outros foram abandonados sem terem sido tentados - até porque a estratégia era desviar a atenção da população da grave crise econômica do primeiro ano de Lula, quando o crescimento do PIB desabou para 0,5%. Ofuscando o presente e prometendo um futuro feliz, Lula foi driblando a realidade e atravessou 2003 sem perder popularidade, mesmo assumindo - até com certo exagero - a política econômica de FHC, que tanto condenara nos oito anos anteriores de governo tucano.

Dilma Rousseff acaba de lançar a segunda fase de seu Programa de Investimentos em Logística (PIL). Como em 2003 de Lula, este programa chega em momento de crise econômica, recessão, desemprego, queda de investimentos e outras mazelas herdadas do primeiro mandato de Dilma. 


Novamente, prometer um futuro feliz ajuda a tirar o foco da tristeza do presente e, quem sabe, até a melhorar a péssima popularidade da presidente. E mais: tem a vantagem adicional de tentar abater xingamentos e críticas de seu próprio partido, o PT, que prometia fazer do 5.º Congresso, encerrado ontem, um libelo de ataques à política econômica do governo. Claro,no estilo petista de ser, livrando Dilma, Mantega e outros responsáveis pelos erros e culpando o novato ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que veio para o governo convidado por Dilma exatamente para corrigir os estragos petistas.

O PIL do segundo mandato tem positivas diferenças em relação ao fiasco do primeiro, lançado em 2012. A volta do modelo de outorgas nas concessões e prometer taxas de retorno competitivas aos investidores mostram que alguma coisa o PT aprendeu, como reconheceu Dilma: "Aprendemos conosco e esse programa reflete esse aprendizado". Aquela obsessão de Dilma em fazer diferente de FHC foi amenizada e até a palavra privatização deixou de ser uma maldição, se não para o PT, pelo menos para ela e os companheiros que estão no governo.

A próxima etapa é o programa passar da concepção à ação. Aí é que a porca torce o rabo, é o teste decisivo para Dilma provar que de fato aprendeu e pode fazer florescer a competência e a eficiência que faltaram ao primeiro PIL. Não é mais permitido errar, como aconteceu na concessão de aeroportos, em que regras de licitação foram mudadas seguidamente para tentar encaixar a estatal Infraero como majoritária, e acabou saindo o inverso. Superar preconceitos ideológicos que descambam para inoportunas intervenções do Estado e uma boa dose de pragmatismo também ajudam. Mas não só.

Sem a percepção de credibilidade política e estabilidade de regras o investidor vacila e não investe. E o aval disso precisa ser dado pela presidente. Cabe a ela vir a público dar sua palavra, tranquilizar e garantir que as regras de concessão para rodovias, portos, aeroportos e ferrovias não mudarão no futuro, que o ministro Levy e suas metas de equilíbrio fiscal não estão no governo de passagem, só para arrumar a casa e depois voltarem o exagero de gastos, a política de privilégios, os desequilíbrios econômicos. Já aconteceu no governo Lula, e os empresários ficam ressabiados. Agora eles querem garantias de Dilma para decidirem investir.

A presidente, porém, não parece disposta a assumir esse compromisso. Reconhecer seus erros, então, nem pensar. Ela continua culpando a crise internacional. Até seu ex-marido e conselheiro, o advogado gaúcho Carlos Araújo, reconheceu em recente entrevista ao jornal O Globo: "O governo tomou consciência da gravidade da situação durante a campanha eleitoral. E aí, no meio da eleição, não tem como mudar a política econômica. E nem dá para falar em crise, sendo governo, durante uma campanha eleitoral". 


Já Dilma faz aquele olhar de paisagem... 

Fonte: O Estado de São Paulo