Os governos do PT são
bons em lançamentos e péssimos em execução. Em 2003, semana sim, outra
também, o ex-presidente Lula lançava um novo programa de governo e
escolhia para eles nomes chamativos como Meu Primeiro Emprego e Escola
de Fábrica, que nunca saíram do papel. Alguns empacaram por
incompetência na execução, outros foram abandonados sem terem sido
tentados - até porque a estratégia era desviar a atenção da população da
grave crise econômica do primeiro ano de Lula, quando o crescimento do
PIB desabou para 0,5%. Ofuscando o presente e prometendo um futuro
feliz, Lula foi driblando a realidade e atravessou 2003 sem perder
popularidade, mesmo assumindo - até com certo exagero - a política
econômica de FHC, que tanto condenara nos oito anos anteriores de
governo tucano.
Dilma Rousseff acaba de lançar a segunda fase de
seu Programa de Investimentos em Logística (PIL). Como em 2003 de Lula,
este programa chega em momento de crise econômica, recessão,
desemprego, queda de investimentos e outras mazelas herdadas do primeiro
mandato de Dilma.
Novamente, prometer um futuro feliz ajuda a tirar o
foco da tristeza do presente e, quem sabe, até a melhorar a péssima
popularidade da presidente. E mais: tem a vantagem adicional de tentar
abater xingamentos e críticas de seu próprio partido, o PT, que prometia
fazer do 5.º Congresso, encerrado ontem, um libelo de ataques à
política econômica do governo. Claro,no estilo petista de ser, livrando
Dilma, Mantega e outros responsáveis pelos erros e culpando o novato
ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que veio para o governo convidado por
Dilma exatamente para corrigir os estragos petistas.
O PIL do
segundo mandato tem positivas diferenças em relação ao fiasco do
primeiro, lançado em 2012. A volta do modelo de outorgas nas concessões e
prometer taxas de retorno competitivas aos investidores mostram que
alguma coisa o PT aprendeu, como reconheceu Dilma: "Aprendemos conosco e
esse programa reflete esse aprendizado". Aquela obsessão de Dilma em
fazer diferente de FHC foi amenizada e até a palavra privatização deixou
de ser uma maldição, se não para o PT, pelo menos para ela e os
companheiros que estão no governo.
A próxima etapa é o programa
passar da concepção à ação. Aí é que a porca torce o rabo, é o teste
decisivo para Dilma provar que de fato aprendeu e pode fazer florescer a
competência e a eficiência que faltaram ao primeiro PIL. Não é mais
permitido errar, como aconteceu na concessão de aeroportos, em que
regras de licitação foram mudadas seguidamente para tentar encaixar a
estatal Infraero como majoritária, e acabou saindo o inverso. Superar
preconceitos ideológicos que descambam para inoportunas intervenções do
Estado e uma boa dose de pragmatismo também ajudam. Mas não só.
Sem
a percepção de credibilidade política e estabilidade de regras o
investidor vacila e não investe. E o aval disso precisa ser dado pela
presidente. Cabe a ela vir a público dar sua palavra, tranquilizar e
garantir que as regras de concessão para rodovias, portos, aeroportos e
ferrovias não mudarão no futuro, que o ministro Levy e suas metas de
equilíbrio fiscal não estão no governo de passagem, só para arrumar a
casa e depois voltarem o exagero de gastos, a política de privilégios,
os desequilíbrios econômicos. Já aconteceu no governo Lula, e os
empresários ficam ressabiados. Agora eles querem garantias de Dilma para
decidirem investir.
A presidente, porém, não parece disposta a
assumir esse compromisso. Reconhecer seus erros, então, nem pensar. Ela
continua culpando a crise internacional. Até seu ex-marido e
conselheiro, o advogado gaúcho Carlos Araújo, reconheceu em recente
entrevista ao jornal O Globo: "O governo tomou consciência da gravidade
da situação durante a campanha eleitoral. E aí, no meio da eleição, não
tem como mudar a política econômica. E nem dá para falar em crise, sendo
governo, durante uma campanha eleitoral".
Já Dilma faz aquele olhar de
paisagem...
Fonte: O Estado de São Paulo
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