O fracasso de um sistema educacional com
quase 12 milhões de analfabetos é o legado da persistência em um modelo falido
adotado por todos os governos
São
11,8 milhões de analfabetos, com mais de 15 anos de idade, representando 7,2%
da população, segundo o IBGE.
Esse é,
em síntese, o atestado de um clamoroso fracasso de gerações na governança do
país. Não há atenuante para a situação educacional desoladora do Brasil. A culpa é, sim, de governos — no plural, em sucessão
cronológica e na plena acepção do termo. E não é de um especificamente,
mas de todos que se revezaram no último século com a promessa de estabelecer a
Educação como prioridade, com destaque para líderes do período recente,
pós-ditadura.
É o
legado de fracasso da persistência em um modelo falido de administração do
Estado brasileiro, no qual
os Poderes republicanos se mantêm inertes, sem cumprir a obrigação
constitucional de zelar por objetivos fundamentais como a construção de uma
sociedade livre, justa e solidária; a garantia do desenvolvimento nacional; a
erradicação da pobreza e da marginalização; a promoção do bem coletivo, sem preconceitos
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Inexiste dicionário com qualificativos suficientes para traduzir a
indignação provocada pelo retrato exposto da região Nordeste, onde a proporção
de analfabetos na população corresponde ao dobro (14,8%) da média nacional,
e quatro vezes mais que no Sul, onde se encontra o
menor (3,6%) contingente de brasileiros que sobrevivem sem saber ler
ou escrever.
A
despeito das promessas eleitorais, a perpetuação da exclusão tem sido obra
governamental permanente. Gasta-se muito, e mal, em
prédios, burocracia e efeitos especiais, como os de internet nas escolas.
Concentram-se orçamentos públicos em universidades, em detrimento do ensino
fundamental. O Centro-Oeste, que sustenta a
terceira maior taxa de analfabetismo (5,7% da população), acaba
de ganhar autorização para três novas universidades.
É
escandalosa, e não há
definição mais adequada, a desigualdade educacional mensurada pela
autodeclaração da cor da pele: entre grupos pessoas assumidas pretas ou
pardas constatam-se duas vezes mais analfabetos (9,9%) do que no grupo de
brancos (4,2%). Significa, na prática, virtual condenação à miséria com base na
coloração da epiderme, porque uma pessoa pobre, que não sabe ler e escrever,
tem escassas chances de emergir da pobreza, lembra Priscila Cruz, diretora
executiva do movimento Todos Pela Educação.
A mudança
é possível, absolutamente desejável. Devem ser saudadas iniciativas como a recente
instituição de uma base curricular comum e nacional. Ainda que tardia,
representa um passo, mas outros são necessários, com urgência. Deveriam servir
de bússola à ação do Executivo em harmonia com outros Poderes, dos partidos e
candidatos, para assegurar à Educação prioridade absoluta na agenda política
nacional do próximo ano.
Editorial
- O Globo