Você deve ter visto que a maior parte do debate sobre a
medida provisória que regulamentava a exclusão de conteúdos de redes sociais
tratou a questão como a absurda "MP das fake news".
A MP seria um ataque do governo para dificultar o combate às notícias falsas
que circulam pela internet.
Será mesmo?
É preciso dar um passo atrás, como a Gazeta faz no editorial desta sexta-feira
(17), para entender que existem méritos na MP e no debate sobre a
regulamentação das redes sociais.
Para a Gazeta, é importante que continue a tramitação de um projeto de lei que
trata do assunto e estabelece as responsabilidades das redes sociais. Elas
podem atuar de duas maneiras: como plataformas ou como editoras.
No primeiro caso, elas teriam restrições maiores para apagar conteúdos e
contas. Afinal, plataformas devem se reger pelo princípio da neutralidade.
Por outro lado, se elas escolhem funcionar como editoras, com uma atuação ativa
na moderação, escolha e edição do conteúdo, passam também a responder pelo que
é publicado.
Parece que, no Brasil, essa distinção não está sendo feita e muitas plataformas
atuam como editores, sem as responsabilidades que isso
implica.
Plataformas, em resumo, precisam justificar se apagarem sua conta, ou se censurarem um post, comentário, compartilhamento. Não é o que está
acontecendo.
Em fevereiro deste ano, a Gazeta publicou um editorial a respeito do ataque das
Big Techs contra a liberdade de expressão, que vêm sistematicamente apagando
postagens que contrariam o que elas entendem ser a verdade. Veja como
entendemos o tema:
Mídias sociais são empresas privadas, e por isso, em tese, deveriam ser livres para escolher como pretendem atuar. Mas, uma vez feita essa escolha, devem arcar com seus ônus e seus bônus. Se querem ser plataformas e se apresentar como tais, não podem ter critérios de moderação adicionais aos previstos em lei, mas ao mesmo tempo ficam livres de responsabilização judicial, a não ser em casos bem específicos; se querem ser publishers, podem sê-lo, com a liberdade de usar critérios próprios para apagar publicações, mas também se tornam judicialmente corresponsáveis pelo que permanecer no ar.
A tendência das Big Techs continua a ser a de querer controlar conteúdos – ou seja, agir como editores ou publishers – enquanto mantêm o status legal de simples intermediários para escapar da responsabilização na Justiça. Uma postura hipócrita que terá de ser enfrentada mais cedo ou mais tarde pelo Judiciário, seja no Brasil ou em outros países.
Editorial - Gazeta do Povo - Transcrição parcial por Blog Prontidão Total