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domingo, 23 de julho de 2023

Possível fim do WhatsApp ilimitado pode ter impacto maior do que o previsto - Gazeta do Povo

Vozes - Madeleine Lacsko

Cidadania Digital

O cenário de comunicação no Brasil pode estar prestes a passar por uma mudança significativa, impulsionada pela economia e avanço tecnológico. 
As principais operadoras de telecomunicações do país, Vivo, TIM e Claro, estão atualmente em discussão sobre a viabilidade de encerrar a oferta de acesso ilimitado ao WhatsApp em seus planos de dados, devido aos custos crescentes relacionados à implementação da tecnologia 5G. 
Essa possível alteração poderá impactar diretamente a maneira como as pessoas se comunicam e consomem informações, uma vez que o WhatsApp se tornou uma plataforma central para a troca de mensagens e notícias.
 
Atualmente, o acesso ilimitado ao WhatsApp tem sido uma opção popular e conveniente para muitos usuários, proporcionando uma maneira rápida e acessível de consumir notícias e se manterem informados. 
No entanto, essa facilidade de acesso também pode acarretar alguns desafios. 
A dependência exclusiva desses aplicativos para a obtenção de informações pode limitar a busca por outras fontes e conteúdos verificados, levando a uma possível falta de contexto ou análise mais aprofundada das notícias recebidas.

    A combinação das empresas de telefonia com as Big Techs representa uma estrutura sobre a qual se sustentam negócios e também, ultimamente, o espaço cívico.

A discussão sobre o acesso ilimitado ao WhatsApp levanta questões importantes sobre como as mudanças na economia e na tecnologia estão moldando nossos padrões de comunicação e consumo de informações. Três das principais operadoras de telecomunicações do Brasil, Vivo, TIM e Claro, estão debatendo a possibilidade de encerrar a oferta de acesso ilimitado ao WhatsApp em seus planos de dados. A discussão surge em meio a preocupações com os crescentes custos associados à implementação da tecnologia 5G no país. 
A oferta do WhatsApp ilimitado era uma vantagem competitiva oferecida pelas operadoras, mas agora elas estão avaliando sua sustentabilidade financeira diante do aumento da demanda esperada com a expansão do 5G.

A mudança potencial na oferta de acesso ilimitado ao WhatsApp pode impactar a experiência dos usuários, que se acostumaram a utilizar o aplicativo de mensagens sem se preocupar com limites de dados. A decisão das operadoras de rever essa oferta ocorre devido às complexidades e altos custos envolvidos na implantação da infraestrutura necessária para suportar o 5G, que promete velocidades de conexão significativamente mais rápidas e maior capacidade de dados.  

Como o uso do WhatsApp é amplamente difundido no Brasil, qualquer alteração nas condições de acesso ao aplicativo pode ter um impacto significativo nas escolhas dos consumidores em relação aos planos de telefonia móvel.

Ainda não há uma decisão final sobre o assunto, mas as discussões em andamento entre as operadoras de telecomunicações indicam que a oferta de WhatsApp ilimitado pode ser revista em breve. O cenário reflete o desafio que as empresas enfrentam para equilibrar a oferta de serviços atraentes para os consumidores, ao mesmo tempo em que investem na expansão e aprimoramento de suas redes para atender às crescentes demandas de conectividade trazidas pela tecnologia 5G no Brasil.

Há dois cenários para a informação vindos dessa potencial mudança. Ou as pessoas finalmente ficam mais conscientes ou agora a coisa degringola de vez.

É possível que os consumidores busquem por alternativas para se manterem informados, já que vão pagaro acesso de qualquer jeito. Sem a comodidade do acesso ilimitado, as pessoas podem se voltar para fontes originais de notícias, explorando sites de veículos de comunicação, blogs especializados e outras plataformas que oferecem informações confiáveis e verificadas.

Por outro lado, o fim do acesso ilimitado ao WhatsApp também pode ter um efeito negativo no consumo de notícias. Com muitos consumidores enfrentando restrições financeiras, a falta de recursos para pagar pelo pacote de dados poderia resultar em uma redução do acesso à informação. As pessoas vão trocar menos notícias entre si e não vão checar essas notícias de jeito nenhum porque a ordem é economizar, pensando nesse cenário.

Além do impacto na disseminação da informação, o possível fim do acesso ilimitado ao WhatsApp nos planos de dados também pode ter implicações significativas para os negócios que utilizam a plataforma como ferramenta essencial para suas operações. 
Hoje em dia, o WhatsApp desempenha um papel crucial no mundo empresarial, sendo utilizado por muitas empresas, grandes e pequenas, para se comunicarem com clientes, fornecedores e parceiros de negócios. A facilidade de comunicação, compartilhamento de informações e a possibilidade de realizar vendas diretamente na plataforma tornaram o aplicativo uma ferramenta indispensável para muitos empreendimentos.

Além do WhatsApp, existem outros aplicativos que também oferecem acesso ilimitado em alguns planos de dados, e a possível extinção dessas vantagens pode afetar diretamente a dinâmica das operações de negócios. Muitas pequenas empresas e empreendedores se estruturaram em torno da gratuidade desse acesso, o que lhes permitiu manter custos baixos e eficiência nas comunicações comerciais. Com a perspectiva de terem que pagar por esse serviço, essas empresas podem enfrentar desafios financeiros adicionais ou terão que buscar maneiras alternativas de se comunicar com seus clientes e parceiros comerciais.

Enquanto grandes empresas podem absorver parte desses custos adicionais, as pequenas empresas são mais sensíveis a essas mudanças e podem ter que fazer ajustes significativos em seus modelos de negócios. O pagamento pelo acesso aos aplicativos de mensagens pode resultar em um aumento dos custos operacionais, o que pode afetar os preços dos produtos e serviços oferecidos ou diminuir a margem de lucro desses empreendimentos.

Vivemos a era da hipercomunicação. Toda mudança na comunicação afeta a dinâmica da sociedade. A combinação das empresas de telefonia com as Big Techs representa uma estrutura sobre a qual se sustentam negócios e também, ultimamente, o espaço cívico. Muita gente ainda não percebeu como pode ser afetada porque não sabe que o uso de determinados aplicativos simplesmente não é descontado do seu plano de dados. Precisamos ficar de olho nessa decisão.

Madeleine Lacsko, colunista - VOZES - Cidadania Digital - Gazeta do Povo 

 

 

sexta-feira, 5 de maio de 2023

Censura a caminho - Silvio Navarro

Revista Oeste

Congresso decide votar às pressas projeto sobre censura na internet, espinha dorsal da construção da ditadura de esquerda no país 

O ministro do STF Alexandre de Moraes apresentou ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, mais sugestões para o Projeto de Lei (PL) da Censura, nesta terça-feira (25) | Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
No meio da tarde de terça-feira 25, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, irrompeu no tapete azul do Senado, cercado por seguranças e assessores.  
Desviou dos flashes e microfones e seguiu para uma reunião a portas fechadas com o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco, e o da Câmara, Arthur Lira. Moraes carregava uma pasta com um documento intitulado “Propostas do TSE ao Projeto de Lei 2630”. Minutos depois da visita, a Câmara deu o primeiro passo para transformar a censura em lei no Brasil.

O texto final do monstrengo legislativo ainda é desconhecido. Vai se chamar Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. [pelo menos, por enquanto, não há o perigo do  monstrengo virar lei - a votação do dia 2 p.p., foi adiada, já que se ocorresse na data desejada pelo governo, seria abatida; está prevista para os próximos dias, porém, tem tudo para não ocorrer.] Começou com uma proposta do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), votada há três anos numa daquelas sessões virtuais bizarras da pandemia em lockdown, os senadores realizavam votações pela internet de suas casas, sem debates nas tribunas. Desde então, estava empilhado na Câmara, ao lado de mais de 50 projetos similares, até ser despachado de repente por Arthur Lira para o gabinete do comunista Orlando Silva (SP). É isso mesmo: a redação final da lei que trata da liberdade de expressão nas redes sociais será feita pelo Partido Comunista do Brasil.

A votação do projeto está marcada para terça-feira 2. Se houver mudança abrupta no chamado “mérito” — a espinha dorsal do texto —, o projeto voltará para o Senado. No caso de pequenos ajustes ou prováveis penduricalhos, basta o aval da Câmara para a posterior sanção de Lula. Na terça-feira, o pedido de urgência para aprovar a mordaça nas redes sociais teve 238 votos a favor e 192 contra. Havia 431 deputados no plenário — Arthur Lira não é obrigado a votar. Não se sabe, portanto, como pensam os outros 82, o que torna o resultado imprevisível. As bancadas de esquerda votaram unidas a favor da nova lei. Orlando Silva, um suplente que só exerce o mandato porque deputados do PT eleitos estão no ministério de Lula, disse que ainda é possível negociar alguns pontos.

Se a Câmara confirmar a votação, o país continuará vivendo dias como o período eleitoral, em que o TSE baniu a participação de políticos das redes sociais, removeu conteúdos e impôs multas pesadas

Politicamente, o resultado de terça-feira foi o prenúncio de vitória do governo Lula, que, além de chancelar o texto como parte do seu projeto totalitário, também investe em outras frentes no Poder Executivo, como gabinetes de checagem das notícias — para deliberar sobre o que pode ou não pode ser publicado — e denunciar ou pedir a prisão dos seus opositores às Cortes Superiores. 
A Advocacia-Geral da União tem sido usada para prestar esse tipo de serviço. Por que Lira decidiu ajudar Lula nessa empreitada? 
A resposta mais provável é que o deputado optou por ficar do lado de Alexandre de Moraes e do Supremo. A aprovação será, sobretudo, mais um passo do Judiciário para validar toda a cruzada do inquérito perpétuo das fake news ou dos atos antidemocráticos no Supremo
A lei será exibida como um troféu para coroar a prisão de 1,5 mil pessoas nos atos de 8 de janeiro, que se degeneraram em vandalismo e ainda estão muito longe de ser completamente elucidados, depois da divulgação de imagens do circuito interno do Palácio do Planalto.

Também é parte da construção do que, em 2021, o ministro Dias Toffoli, colega de Moraes no Supremo Tribunal Federal (STF), chamou de um “Poder Moderador” no Brasil — algo que não existe no país desde a Constituição Imperial de 1824, elaborada em benefício de Dom Pedro II. 
 
(...)

Nas eleições, a Corte chegou a quebrar os sigilos de aplicativos de mensagens e bloquear contas bancárias em lotes, como no caso que ficou conhecido como “crime do emoji”, envolvendo um grupo de empresários apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro que publicaram “carinhas” e “joinhas” em um grupo de WhatsApp. Ou ainda na censura prévia, algo que não se aplicava no país desde o Ato Institucional Número 5, de 1968, revigorado em outubro do ano passado para impedir um documentário da produtora Brasil Paralelo sobre o atentado à faca contra Bolsonaro. Na ocasião, o julgamento no TSE ficou marcado pelas palavras envergonhadas da ministra Cármen Lúcia de que se tratava de uma censura cirúrgica — o famoso “vai ser só desta vez”.
 
CARMEN LÚCIA SOBRE DECISÃO DO TSE: “NÃO SE PODE PERMITIR A VOLTA DA CENSURA SOB QUALQUER ARGUMENTO"Alexandre de Moraes com Artur Lira e com Rodrigo Pacheco | Foto: Marina Ramos/Câmara dos Deputados e Marcos Oliveira/Agência Senado
 
As emendas do TSE
Como o texto que vai ao plenário na Câmara ainda não é totalmente conhecido, é possível analisar o que diz o projeto do Senado e o que foi proposto por Alexandre de Moraes nesta semana — em suma, ele quer endurecer ainda mais as punições aos usuários e às chamadas big techs.

Por exemplo: Moraes apresentou uma emenda cobrando os provedores de internet, sob pena de responsabilidade civil e administrativa, de “indisponibilizar imediatamente conteúdos e contas, com dispensa de notificação aos usuários, se verificarem ou existir dúvida fundada de risco”. Leia-se: o conteúdo será retirado do ar e o perfil do autor pode ser banido sem aviso prévio, e ponto final.

Quais seriam os parâmetros para punir alguém nas redes sociais? A resposta é: “divulgação ou compartilhamento de fatos sabidamente inverídicos ou gravemente descontextualizados, que atinjam a integridade do processo eleitoral, inclusive os processos de votação, apuração e totalização de votos”. Mais: condutas ou informações que impliquem em “atos antidemocráticos” ou “discurso de ódio”.

Além do banimento das contas e do conteúdo, Moraes afirma que as plataformas — como Twitter, Instagram, WhatsApp, Facebook, entre outros — serão multadas em R$ 100 mil a R$ 150 mil por hora, a contar da segunda hora depois do recebimento da notificação. Há previsão de multas também para monetização de propaganda no período eleitoral.

“Nós queremos equiparar as responsabilidades”, afirmou Moraes. “Eu acrescento ao texto aprovado pelo Senado Federal a responsabilidade de todos os provedores — sejam de redes sociais sejam de mensagens — por conteúdos em que eles ganham. Nós não podemos permitir que, nas Eleições 2024, e, depois, em 2026, continue havendo ataques de desinformação. Isso vai contra a democracia, vai contra a liberdade dos eleitores” 

O texto do Senado
O ponto mais polêmico do Projeto da Censura é a criação de uma autarquia federal para fiscalizar e aplicar essa lei. Seria a polícia brasileira de controle da informação. Algo semelhante à DGI (Direção-Geral de Inteligência) da ditadura cubana, formatada nos moldes da KGB, a polícia secreta soviética, ou da Stasi, da Alemanha Oriental. Serão fiscalizadas todas as plataformas com mais de 2 milhões de usuários, mesmo se forem estrangeiras.

A principal resistência a esse gabinete de censores é da frente parlamentar evangélica na Câmara. Os evangélicos argumentam que a autarquia vai perseguir e punir conservadores que não aceitem a cartilha “progressista” da esquerda e combatam ideologias de gênero e pautas identitárias. Por exemplo: discussões sobre banheiros multigênero, homens biológicos disputando categorias femininas no esporte e o tal “racismo estrutural”.

(...)
O órgão censor deve ser batizado de Conselho de Transparência e Responsabilidade na Internet, com a participação de 21 membros do poder público, da sociedade civil, da academia e do setor privado, com mandato de dois anos e permissão para recondução. Resta saber se o Congresso exigirá que esses nomes sejam aprovados em plenário, como ocorre em outras autarquias, ou se Lula será o único responsável pela escolha. Seja qual for o modelo, já é possível entender o que está em curso no país neste momento: a instauração da censura, pilar histórico de qualquer ditadura. Não tem outro nome.
Charge da semana | Ilustração: Schmock

Leia também “O que aconteceu no 8 de janeiro”
 

terça-feira, 2 de maio de 2023

Cinismo destilado, em estado puro! - Percival Puggina



         Tenho lido algumas opiniões que se exclamam perante a adesão de tantos parlamentares a uma Lei de Censura que poderá incidir sobre eles próprios. 
Esquecem que essa lei serve à ideia de permanência no poder. 
Ela nada tem a ver com rotatividade e com democracia, nem com qualquer ônus a seus autores e defensores.

Cinismo em estado puro. É essa a imagem que me vem à mente quando ouço algum parlamentar defendê-la. Cinismo, sim, redigirem o projeto e lhe aplicarem um nome fantasia que fala em liberdade, transparência e responsabilidade.

Cinismo, sim, atribuírem às big techs a responsabilidade pela momentânea conscientização social sobre o caráter censor da Lei da Censura. O governo e as esquerdas, há bom tempo, andavam felizes porque as tais empresas restringem a propagação de conteúdos que os desagradam. Agora, por interesse próprio, elas abriram um pouco as torneiras da propagação para o outro lado.

Cinismo, sim, então, de uns e de outros. As plataformas que submetem seus usuários conservadores a filtros ideológicos, agora se indispõem porque a tesoura se volta contra elas e pode lhes causar problemas operacionais e financeiros.

Cinismo, sim, pois quem anda por aí de olhos abertos sabe que a censura vem operando há muito tempo no Brasil, sob múltiplas formas. Ela existe no sistema de ensino, censurando o que não servir aos objetivos políticos da esquerda. Nessa toada, censuram-se professores, estudantes, livros e autores. No ambiente educacional e cultural, toda divergência é castigada.

Na vida social, convivemos com temas proibidos. Essa é uma forma de censura que, por condicionamento social, inviabiliza a exposição do contraditório. 
Há opiniões que não podem ser expressas, mesmo que envolvam temas políticos e sanitários relevantes, como certas “vacinas” ou sistemas de votação. Isso é censura. 
Muitos comunicadores têm problemas com a Justiça em sinistros inquéritos que mantêm estreita relação com a liberdade de expressão.
 
Tenho lido, nas últimas horas, que o projeto talvez esteja momentaneamente inviabilizado. Isso não é sinal de desistência.  
O poder de censurar é tão sedutor, corresponde a um anseio tão “esquerda raiz”, que a eventual retirada de pauta é meramente estratégica. Além de manterem os meios de censura de que já dispõem e aplicam com mudo consentimento geral, continuarão trabalhando para transformar em pó de pedra a cláusula pétrea da Constituição que dispõe ser livre a expressão do pensamento.

Por isso, se queremos nosso país de volta, é preciso estar sempre em guarda, sem jamais soltar a ponta da corda.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. 


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

O fim do consórcio de imprensa - Revista Oeste

Cristyan Costa

Encerramento de pool de veículos de comunicação pode sinalizar mudança de rota da mídia tradicional

 Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

  Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

Como em qualquer sociedade capitalista, as companhias privadas competem entre si para ganhar o coração dos consumidores. Nas empresas de comunicação, isso também deveria ocorrer. Certo? Errado. No Brasil, em 8 de junho de 2020, os sites G1 e UOL, além dos jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo, O Globo e Extra formaram um “consórcio de imprensa”, com o objetivo velado de destruir o que enxergavam ser o Grande Satã do Brasil desde antes da eleição de 2018: o presidente Jair Bolsonaro.

Nas páginas desses veículos, contudo, a justificativa oficial para a parceria era divulgar dados sobre mortes por covid-19, em virtude de um “apagão” no Ministério da Saúde — que durou poucas horas. Ao longo da sua existência, o pool usava informações da pasta, como qualquer empresa de mídia, diferentemente da impressão de “exclusividade” que passava. Mesmo assim, o consórcio permaneceu vivo, publicando notícias praticamente iguais todos os dias e com linha editorial quase idêntica.

Durante a pandemia, era comum ler nesses veículos manchetes seguindo a mesma hierarquia de informação: “Sem máscara, Bolsonaro cumprimenta apoiadores” ou “Bolsonaro promove aglomeração com aliados”. Os textos ficaram ainda mais uniformes ao longo dos cinco meses de existência da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19. A maioria das declarações destacadas vinha de senadores que comandavam a CPI, como Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Omar Aziz (PSD-AM) e Renan Calheiros (MDB-AL).

O mesmo ocorreu com o chamado “Orçamento secreto”, revelado pelo Estadão. Publicado no Diário Oficial da União, o mecanismo nada mais é que as velhas “emendas de relator” (saiba mais neste link) — termo que só começou a ser usado pelos integrantes do pool depois da vitória de Lula. Conforme os veículos do consórcio, esse dispositivo tornou-se moeda de troca da gestão Bolsonaro para comprar o apoio do Parlamento, sobretudo do centrão, e manter a governabilidade.

A imprensa tradicional não poupou nem as boas notícias que vinham da área econômica do governo, liderada por Paulo Guedes. Sempre que uma informação positiva era divulgada, como o aumento do Produto Interno Bruto ou a criação de novos empregos formais, o consórcio ou dava uma nota de rodapé sobre o assunto, ou se apressava em atenuar boas-novas com a adversativa “mas”.

Nesta semana, contudo, o consórcio de imprensa lavrou o próprio atestado de óbito. A parceria dos veículos durou dois anos. “Terminou porque cumpriu com a missão de derrubar o presidente anterior”, constatou o jornalista Alexandre Garcia. Para ele, o consórcio de imprensa levou à mais alta potência a máxima do escritor Millôr Fernandes: “Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”.

De acordo com Garcia, a imprensa de hoje afastou-se da verdade e adotou uma posição opinativa. “Aprendi que o jornalista tem de ser escravo dos fatos”, disse. “Não somos donos deles, mas meros intermediários entre o veículo e o público. Infelizmente, as redações estão povoadas de militantes, por culpa da formação universitária defeituosa.”

Possível mudança de rota
 Com a vitória de Lula, o consórcio começou a dar sinais de uma mudança de rota em sua cruzada contra Bolsonaro, ainda que tímidos, em artigos de opinião e reportagens. Um dos primeiros a fazer esse aceno foi o Estadão. Em 24 de dezembro do ano passado, o jornal publicou um editorial contra as indicações do presidente aos ministérios. [em nossa opinião, já ocorre em parte da mídia ações de correção de rumo; o campeão da manipulação da notícias, supressões 'casuais' de palavras e imagens em uma matéria,é do Grupo Globo.Tentam esconder,mas não conseguem, que a reação do povo aos desmandos daquele grupo jornalístico está levando ao carro chefe do empresa - TV Globo - a uma queda de audiência, especialmente com recordes negativos nas novelas.
Talvez seja conveniente à recuperação do grupo, que os 'jornalistas' Bonner e Renata,que apresentam o noticiário noturno que já foi referência em credibilidade e campeão de audiência,sejam demitidos sumariamente da Empresa - seria uma forma de puni-los, até por ousarem inocentar,  em rede nacional, um individuo condenado por nove juízes diferentes com confirmação nas três instâncias - declarando que 'o senhor não deve nada à Justiça do Brasil'.
O povo costuma, julgar, condenar e não revisar suas sentenças.]

“É absolutamente decepcionante para o país verificar a atual composição dos ministérios que vai sendo delineada”, afirmou o Estadão. “Todos os postos decisivos estão a cargo do PT ou de gente que, por mais que esteja circunstancialmente em outra legenda, sempre teve e continua tendo a mesma visão do PT.” Adiante, o jornal diz que, “diante das grandes necessidades do país, não deixa de ser frustrante constatar que Lula e seu partido não mudaram ou aprenderam nada”.

Nesta semana, a publicação denunciou o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, por ter direcionado R$ 5 milhões das emendas de relator para asfaltar uma estrada de terra que passa em frente a oito fazendas de sua família, em Vitorino Freire (MA). A obra de aproximadamente 20 quilômetros corta propriedades da família e as liga a uma pista de pouso particular e um heliponto.  
Também O Globo decidiu pronunciar-se sobre atos de Lula. Publicado em 27 de janeiro deste ano, o editorial “Governo tenta reescrever verdade sobre o impeachment” ataca o movimento do Palácio do Planalto de chamar de golpe o processo de destituição da petista. “Até as paredes depredadas do Palácio do Planalto sabem que a ex-presidente Dilma Rousseff foi afastada por um processo de impeachment, movido pelo Congresso Nacional de acordo com todas as regras previstas na Constituição e na legislação, referendadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF)”, informou o jornal. “Apesar disso, o presidente Lula e integrantes de seu governo têm insistido em desafiar a verdade e em se referir ao episódio como um ‘golpe’.”

Até a Folha, o jornal mais hostil a Bolsonaro, deu um “puxão de orelha” em Lula, ao manifestar-se contra o “pacote antiterrorismo” do Ministério da Justiça. Em síntese, a pasta quer algumas medidas para inibir manifestações. O ponto destacado pelo jornal como “temerário” é o que se refere à intenção de Dino de emparedar as big techs.  “Não se pode usar ataque a Brasília para aprovar leis repressoras às pressas”, advertiu o editorial. “Tratando-se de um presidente que insiste em propagar a tese partidária farsesca segundo a qual houve golpe de Estado no impeachment de Dilma Rousseff, conduzido pelo Legislativo e pelo Judiciário, deveria estar claro o perigo de lidar às pressas com o direito à pluralidade de opiniões”, acrescentou a Folha, ao defender mais debate sobre o texto.

O jornal é ainda o responsável por revelar a ligação da ministra do Turismo, Daniela do Waguinho, com milicianos. Na campanha eleitoral, o então candidato Lula criticava Bolsonaro por supostamente ter relação com milicianos. Em meio ao escândalo de Daniela, Oeste mostrou que, na eleição de 2022, a ministra e seu marido, o prefeito Waguinho, de Belford Roxo (RJ), fecharam a cidade para impedir que adversários fizessem campanha no curral eleitoral do casal.

O jornalista Patrick Santos, ex-diretor de redação da Jovem Pan e autor do livro 45 do Primeiro Tempo, afirma que o jornalismo atual se distanciou de suas raízes e defende uma correção de rota. “Há certezas demais”, afirmou. “Um dos pilares da profissão é perguntar, e isso deixou de ser feito. Ao ler os jornais, enxergo uma visão de mundo única. Sinto falta de debates de ideias. Temos de voltar a fazer esse tipo de jornalismo.” Crítico do consórcio de imprensa, Santos disse que a competição também faz parte da profissão. “É saudável quando se quer ter a melhor reportagem da redação”, disse. “Isso é difícil de ocorrer, quando todos publicam a mesma coisa sobre tudo.”

Imprensa estrangeira
Desde a eleição de Lula, algo começou a mudar também na cobertura dos veículos estrangeiros. O Wall Street Journal (WSJ), por exemplo, tem subido o tom com o STF, classificando-o até como “uma ameaça maior à democracia” que os protestos de 8 de janeiro. Recentemente, o WSJ denunciou o não cumprimento do processo legal com os mais de mil manifestantes presos, por causa dos atos anti-Lula em Brasília.

Considerado de esquerda nos EUA, o New York Times, em 22 de janeiro deste ano, publicou um artigo com a seguinte pergunta: Será que Alexandre de Moraes é realmente bom para a democracia? “Moraes já ordenou prisões sem julgamento por ameaças postadas em redes sociais; liderou o voto que sentenciou um deputado federal a quase nove anos de prisão por ameaçar o tribunal; ordenou busca e apreensão contra empresários com poucas evidências de irregularidades; suspendeu um governador eleito; e bloqueou dezenas de contas e milhares de publicações nas redes sociais, praticamente sem transparência ou espaço para recurso”, observou o jornal.

Até mesmo o jornalista Glenn Greenwald, que se tornou ícone da esquerda brasileira em 2019, por causa da “Vaza Jato”, despertou a ira da militância ao criticar Moraes. “Existe agora, ou já existiu, uma democracia moderna em que um único juiz exerce o poder que Alexandre de Moraes possui no Brasil?”, interpelou Greenwald, ao compartilhar um artigo do jornal O Globo. “Não consigo pensar em nenhum exemplo sequer. Uma das maiores ironias da extraordinária popularidade de Moraes entre a mídia corporativa e a esquerda foi que ele serviu como ministro da Justiça e depois foi indicado para o STF por um presidente amplamente considerado não só ilegítimo, mas ‘golpista’.

“Greenwald mostrou que ainda consegue enxergar um pouco a realidade como ela é”, disse o jornalista Fernão Lara Mesquita, ex-diretor do Estadão. “E, por dizer a verdade, foi atacado nas redes sociais pelos que, até pouco tempo atrás, o defendiam. Infelizmente, a ótica da imprensa atual está bastante deformada. Esse consórcio, por exemplo, é esdrúxulo. Sintetiza o grave problema que a mídia enfrenta. Não é à toa que a imprensa vai diminuindo. O jornalismo tem de voltar às suas raízes: perseguir e amar a verdade.”

Leia também “Os vigaristas da adversativa”

 Cristyan Costa, colunista - Revista Oeste


sábado, 10 de dezembro de 2022

O escândalo “Twitter files” mostra que políticas das Big Techs precisam de transparência - Madeleine Lacsko

Vozes - Cidadania Digital


Foto: Pixabay

O escândalo Twitter files pode ter de ser levado a sério agora, com a entrada no caso de Bari Weiss. Até agora, a divulgação sobre manipulação de contas e alcance era argumento divulgado por Elon Musk e também utilizado por Donald Trump para tentar um tapetão eleitoral.  
São dois bilionários polêmicos e com uma tendência política muito clara. Ainda que falem a verdade sobre os arquivos, quando eles são a fonte, a partidarização é inevitável. 
Muitos se perguntam se não estariam escondendo ou exagerando algo.

Pessoalmente, sou contrária à tentativa de Donald Trump de utilizar os arquivos para um tapetão eleitoral. Há uma falha lógica no argumento que ele utiliza de favorecimento dos democratas no Twitter como líquido e certo para a eleição deles. Esse favorecimento por parte das Big Techs e da imprensa é histórico e, mesmo assim, ele foi eleito e diversos outros presidentes republicanos foram eleitos também. Descobrir detalhes do favorecimento não muda o tipo de impacto que ele exerce, algo que não foi decisivo em outras eleições de republicanos e nem mesmo na eleição que ele venceu, bombardeado e ridicularizado pelo mainstream.

Os documentos mostram que empregados do Twitter trabalharam ativamente para impedir que tweets desfavoráveis à sua ideologia viralizassem.


É preciso separar os assuntos, coisa que Trump não tem interesse de fazer, em nome dos próprios interesses políticos. Mas a sociedade tem interesse, sobretudo de outros países em que ainda não está claro como esse mecanismo funciona. Voltemos à Bari Weiss que eu citei no início do texto. Talvez você não a conheça. É uma das jornalistas e escritoras mais talentosas dos Estados Unidos, com um trabalho muito interessante na luta contra o antissemitismo. Foi editora de opinião e literatura no Wall Street Journal. Depois, foi editora de opinião e colunista de política e cultura no New York Times. Hoje, é colunista de política internacional do jornal alemão Die Welt. Ela causou um enorme tremor no mundo do jornalismo político quando pediu demissão do New York Times com uma carta pública em 2020, em que contava sobre a manipulação ideológica e a rendição do jornal aos ataques orquestrados pelo Twitter.

Traduzo alguns trechos e a carta completa você encontra neste link. Os grifos são meus: “Entrei no jornal com gratidão e otimismo há três anos. Fui contratada com o objetivo de trazer vozes que de outra forma não apareceriam em suas páginas: escritores de primeira viagem, centristas, conservadores e outros que naturalmente não pensariam no The Times como sua casa. A razão para esse esforço era clara: o fracasso do jornal em antecipar o resultado da eleição de 2016 significava que ele não tinha uma compreensão firme do país que cobre.

(...)

Mas as lições que deveriam ter se seguido à eleição – lições sobre a importância de compreender os outros americanos, a necessidade de resistir ao tribalismo e a centralidade da livre troca de ideias para uma sociedade democrática – não foram aprendidas. Em vez disso, um novo consenso surgiu na imprensa, mas talvez especialmente neste jornal: que a verdade não é um processo de descoberta coletiva, mas uma ortodoxia já conhecida por alguns poucos iluminados cujo trabalho é informar a todos.

O Twitter não está no cabeçalho do The New York Times. Mas o Twitter se tornou seu editor definitivo. À medida que a ética e os costumes dessa plataforma se tornaram os do jornal, o próprio jornal tornou-se cada vez mais uma espécie de espaço de atuação. As histórias são escolhidas e contadas de forma a satisfazer o público mais restrito, em vez de permitir que um público curioso leia sobre o mundo e tire suas próprias conclusões.

Minhas próprias incursões no pensamento errado me tornaram objeto de constante bullying por parte de colegas que discordam de meus pontos de vista. Eles me chamaram de nazista e racista; Aprendi a ignorar comentários sobre como estou “escrevendo sobre os judeus novamente”. Vários colegas considerados amigáveis ​​comigo foram importunados por colegas de trabalho.

(...)

Alguns colegas de trabalho insistem que preciso ser erradicada se esta empresa quiser ser verdadeiramente “inclusiva”, enquanto outros postam emojis de machado ao lado do meu nome. Ainda outros funcionários do New York Times me difamam publicamente como mentirosa e fanática no Twitter, sem medo de que me assediar seja tratado com a ação apropriada. Nunca é.

(...)

A autocensura se tornou a norma.

As regras que permanecem no The Times são aplicadas com extrema seletividade. Se a ideologia de uma pessoa está de acordo com a nova ortodoxia, ela e seu trabalho permanecem sem escrutínio. Todo mundo vive com medo do trovão digital. O veneno online é desculpado, desde que seja direcionado aos alvos adequados.

(...)

Sempre me consolei com a ideia de que as melhores ideias vencem. Mas as ideias não podem vencer sozinhas. Eles precisam de uma voz. Eles precisam de uma audiência. Acima de tudo, elas devem ser apoiadas por pessoas dispostas a viver por elas.”

Mesmo depois do estrondo causado pela carta pública de demissão, Bari Weiss continuou na mídia mainstream, graças à qualidade de seu trabalho. Não encontrou mais espaço nos Estados Unidos, mas é uma colunista respeitada na Alemanha. Além disso, fundou um projeto independente, The Free Press. É justamente nesse espaço que vão começar a pipocar as reportagens sobre os “Twitter files”.

    Os memorandos internos que ela mostra na thread justificam a diminuição de alcance e a limitação de contas como combate à desinformação.

A equipe já obteve muitos arquivos, que está divulgando conforme a apuração avança. A condição para fazer o trabalho foi que ela pudesse divulgar primeiro na plataforma do Twitter – e fez isso.

Em uma longa thread, ela explica uma reportagem que será publicada em breve sobre as “black lists”. Os documentos mostram que empregados do Twitter trabalharam ativamente para impedir que tweets desfavoráveis à sua ideologia viralizassem, limitar ativamente o alcance de alguns perfis e impedir que determinados temas fossem parar nos trending topics – tudo isso sem informar os usuários.

“Nós controlamos bastante a visibilidade. E controlamos bastante a amplificação do seu conteúdo. E as pessoas normais não sabem o quanto fazemos’, disse um engenheiro do Twitter. Dois funcionários adicionais do Twitter confirmaram”,
diz Bari Weiss.

(...)

O trabalho de Bari Weiss é um primeiro passo para que possamos compreender as mudanças no debate público e como nos afetam. Levar isso a sério é a única forma de retomar as rédeas do nosso próprio destino.

Madeleine Lacsko, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


sábado, 18 de junho de 2022

Em expansão no Brasil, rede usada por bolsonaristas fica fora do radar do TSE - Folha de SP

Rede social muito apreciada por bolsonaristas, o Gettr tem ficado fora do radar do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em suas ações para combater a desinformação eleitoral. A ferramenta prevê atingir no segundo semestre deste ano a marca simbólica de 1 milhão de usuários no Brasil.

Atualmente, são cerca de 750 mil, o que faz do Gettr, lançado há cerca de um ano, uma plataforma ainda modesta em comparação com outras como Twitter, Instagram e TikTok, mas com penetração crescente na direita brasileira.

O Gettr foi criado por Jason Miller, que foi porta-voz do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Em 11 e 12 de junho, ele participou da Cpac, conferência conservadora realizada em Campinas (SP), da qual sua empresa foi uma das patrocinadoras. Ao contrário de sua visita ao Brasil no ano passado, quando foi retido no aeroporto de Brasília para prestar depoimento no âmbito do inquérito das fake news, Miller, CEO da rede, desta vez deixou o país sem problemas.

O TSE afirma que, no momento, apenas acompanha o desempenho da ferramenta no país. Ao Painel, Miller diz que está aberto a colaborar. "Temos representação jurídica no Brasil. Nossos advogados fizeram contato com STF (Supremo Tribunal Federal) e TSE e fomos comunicados de que não somos alvos de nenhuma investigação", afirmou.

O Gettr está buscando consolidar sua presença no Brasil com uma grade de programação que inclui lives diárias de alguns dos principais influenciadores bolsonaristas, como Allan dos Santos e Fernando Lisboa. Desde o começo do ano, afirma Miller, essas lives já tiveram mais de 140 milhões de visualizações.

Também passou a publicar anúncios publicitários em veículos alinhados ao governo, com a Jovem Pan, e planeja abrir um escritório no Brasil. O país já é o segundo maior mercado da rede no mundo, respondendo por 14% dos seus usuários, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

O Gettr pretende crescer com o discurso, comum entre bolsonaristas, de que defende a liberdade de expressão. Nós queremos mostrar que é possível apoiar a liberdade de expressão, mas, também, ser uma plataforma responsável, que não permita atividades ilegais, ou discurso de ódio", afirma Miller.

Também há críticas frequentes ao poder das chamadas "big techs", as grandes empresas de tecnologia, que frequentemente removem conteúdo considerado falso."Percebo que há um sentimento no Brasil de que as big techs trataram a América Latina com uma forma de colonialismo digital. Nosso objetivo é diferente", afirma o CEO.

Miller prevê um aumento de interesse pela sua plataforma quanto mais houver casos de "ataque à liberdade de expressão" no Brasil.O banimento por alguns dias em março do Telegram, outra rede popular entre bolsonaristas, foi um momento em que o Gettr registrou um pico de novos seguidores.

Mas a ideia, reforça Miller, é colaborar com o TSE. "Aqui não temos problema com caixa de spam", ironiza, em referência à explicação dada pelo Telegram por ter ignorado os emails de contato da Justiça Eleitoral.

Folha de S. Paulo - Notícias

 

quinta-feira, 9 de junho de 2022

A reversão da censura - Revista Oeste

Loriane Comeli

Decisões judiciais em todo o país têm restabelecido perfis e canais conservadores bloqueados nas redes sociais

Perfis, canais e páginas conservadores cujas opiniões são contrárias ao determinado em uma cartilha de regras não escritas costumam ser sumariamente suspensos ou excluídos das redes sociais. 
E seus administradores acabam banidos, como aconteceu com o canal Terça Livre, do jornalista Allan dos Santos, no começo do ano passado. Na maioria das vezes, o usuário nem sequer é notificado e não é informado sobre qual publicação resultou na penalidade. Situações do tipo começaram em 2016 e se tornaram corriqueiras nos últimos anos.

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

 Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

Para combater a censura escancarada das big techs, os usuários têm encontrado alento em decisões judiciais de juízes e tribunais de todo o país. Os magistrados têm determinado que Facebook, Twitter e Google devolvam as páginas censuradas e indenizem os proprietários por danos morais ou por deixarem de ganhar dinheiro com as redes sociais.  
indenizações ainda não pagas pelas empresas que chegam próximo de R$ 1 milhão.

O advogado Emerson Grigollette, que tem escritórios em Presidente Prudente e Brasília e atua em todo o Brasil, já contabiliza cerca de 120 ações judiciais contra a censura nas redes sociais nos últimos seis anos. “A censura de conteúdo, principalmente a páginas de humor e de memes, começou na época do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff”, afirmou. “Temos conseguido muitas decisões favoráveis, e acredito que isso seja uma tendência.”

Acusações genéricas
Um dos primeiros casos de Grigollette foi o da página Não Intendo, de conteúdo humorístico, que, em março de 2016, foi banida do Facebook, sob a acusação genérica de violação dos Termos e Condições de Uso da plataforma. Não há, contudo, nenhuma indicação precisa de qual item do contrato teria sido desrespeitado e por qual publicação. A rede social foi condenada, em decisão da Justiça de Canoas (RS), a devolver a página, mas, por questões legais, a decisão foi anulada. O processo recomeçou, e o dono da página conseguiu nova decisão favorável. 
 
Enquanto o processo corria, o Facebook apagou todo o conteúdo até então produzido e, por isso, não havia condições de cumprir a ordem de colocar a página no ar novamente. A big tech foi condenada a indenizar o dono. 
Agora se discute o valor da indenização, o qual deverá ser calculado a partir do valor de cada curtida. “Estamos aguardando que a Justiça se posicione sobre o valor da curtida, que é a própria métrica que as redes sociais utilizam para cobrar por seus anúncios”, explicou Grigollette. Nesse caso, a página tinha mais de 1 milhão de seguidores. Se a curtida for fixada em 50 centavos, como estima a defesa, a indenização passaria de R$ 500 mil.

Grigollette também atua em ações nas quais se discute o shadowban, espécie de bloqueio “silencioso” realizado pelas plataformas quando o administrador da página observa a estagnação ou a queda do número de seguidores e o desaparecimento dos posts em pesquisas por hashtags, por exemplo, o que diminui o alcance do perfil. “São casos que vamos precisar de perícia para confirmar o que estamos alegando”, disse.

De acordo com o advogado, a defesa das redes sociais — de qualquer uma delas é sempre genérica, e, da mesma forma que suspendem a página administrativamente sem apontar o problema, as big techs também respondem aos processos sem produzir provas de quebra contratual pelos usuários. “Na maioria das decisões, os juízes têm entendido que as empresas não demonstram qual seria o conteúdo indevido e não provam qual cláusula do contrato foi maculada”, afirmou. “Sem provas, as decisões têm sido favoráveis aos produtores de conteúdo. O que chama a atenção é que na grande maioria das vezes são páginas conservadoras.”

Entretanto, mesmo que houvesse provas da violação aos termos e às condições de uso, que são definidos de forma genérica, o advogado entende que a censura privada não poderia ocorrer, em respeito ao princípio constitucional da liberdade de expressão e ao Marco Civil da Internet. Estabelecido pela Lei n° 12.965/2014, ele prevê que apenas por decisão judicial um “conteúdo indevido” pode ser retirado do ar, salvo em caso de nudez ou de prática de ato sexual.

“Nem mesmo no período mais duro da ditadura militar brasileira se viu tamanho controle da informação”

Justamente para impedir que as plataformas retirassem conteúdos do ar sem critérios objetivos, o presidente Jair Bolsonaro tentou, pela Medida Provisória (MP) 1.068, de 2021, proibir as empresas de derrubarem páginas com mais de 10 milhões de usuários. A MP foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal. Em setembro, a Presidência encaminhou ao Congresso o Projeto de Lei 3.227/21, sobre o mesmo assunto, que ainda será analisado nas duas Casas.

Cerco contra armas
Até mesmo o padre Gian Paulo Rangel Ruzzi, de Embu das Artes, cidade na Região Metropolitana de São Paulo, foi vítima de censura das redes sociais. Sua página no Instagram, utilizada para evangelização e comunicação com os fiéis, foi banida.Não sabemos qual foi o motivo, mas acreditamos que tenha sido porque ele postou uma foto com arma, já que é atirador”, disse Grigollette. Para o juiz Gustavo Sauaia Romero Fernando, da Comarca de Embu das Artes,trata-se de óbvio abuso” da plataforma, e, por isso, o magistrado mandou o Facebook devolver a página ao padre.

Também passou por essa situação o delegado, professor e  instrutor de tiro Paulo Bilynskyj, fundador do Projeto Policial, cuja página no Instagram foi banida, mas a Justiça, em segunda instância, determinou à rede social a devolução do perfil ao delegado. “Há uma clara censura a conteúdos que tratem sobre armas de fogo, que é um objeto perfeitamente lícito no Brasil”, afirmou Grigollette.

                    Delegado Paulo Bilynskyj | Foto: Reprodução

Em agosto do ano passado, Grigollette protocolou na Justiça Federal em São Paulo uma ação em nome da Associação Nacional Movimento Pró Armas, com objetivo de impedir que o YouTube censure vídeos que falem sobre armas de fogo. A medida foi motivada por mudanças nos termos de uso da plataforma que, na prática, impedem qualquer menção a armas de fogo. 

Na ação, o advogado argumenta que, como o YouTube exerce o monopólio no setor, é inaceitável que decida “de forma suprema e irrecorrível que tipo de conteúdo pode ou não ser veiculado”, retirando a monetização de vídeos, suspendendo ou banindo os canais que mencionem armas de fogo. Para a associação, o Google está exercendo maciço, amplo e exagerado controle de conteúdo. “Nem mesmo no período mais duro da ditadura militar brasileira se viu tamanho controle da informação”, comparou a entidade, enfatizando que não existe na legislação brasileira nenhuma proibição para tratar do assunto.

Momento conservador
No mês passado, uma decisão representou uma vitória para o canal Momento Conservador, do YouTube, que teve cinco vídeos retirados do ar, com o argumento de que ofendiam as regras internas da plataforma
O Tribunal de Justiça de São Paulo determinou que o Google devolvesse os vídeos ao canal e cancelasse todas as penalidades
Nos vídeos censurados, o advogado Paulo Antonio Papini, criador do canal, fala sobre a pandemia de covid, vacinas, tratamento precoce e a situação da Venezuela.

Sem apontar quais trechos dos vídeos seriam contrários às normas da plataforma, o YouTube simplesmente retirou os conteúdos do ar em 2021, quando o canal tinha 19 mil inscritos e 1,8 milhão de visualizações. “Foi uma clara atitude de censura totalmente indevida, por um conteúdo que nada tinha de inverídico ou de discurso de ódio”, resumiu Papini. 

“Mesmo que houvesse discurso de ódio em nossos vídeos mas não há , entendo que não cabe ao YouTube retirar o conteúdo do ar”, defendeu Papini. “Sou favorável ao texto da Primeira Emenda norte-americana, que garante liberdade de expressão total, inclusive o discurso de ódio. Quem se sentir ofendido, adota as providências legais para a reparação.

No episódio do canal Momento Conservador, um desembargador que analisou o caso seguiu essa linha de raciocínio e entendeu que o Google, “por mecanismo questionável, removeu os vídeos em autêntica ação de censura prévia”. Para o juiz de segunda instância, tanto a Constituição quanto a lei federal que instituiu o Marco Civil da Internet proíbem a censura, e, por isso, o Google jamais poderia ter retirado os vídeos do ar, conduta que se configura como “hedionda afronta à liberdade constitucional de expressão e pensamento, o que se mostra inadmissível”.

Censura aos assuntos “proibidos” na pandemia
Com a vitória em segunda instância, o escritório de Papini tem atuado em mais de uma dezena de outros casos contra a censura do Google a vídeos postados no YouTube. Um caso interessante é do médico Marcos Falcão Farias Monte, que tem um canal, criado em 2014, com mais de 270 mil inscritos e quase 14 milhões de visualizações
 Durante a pandemia de covid-19, o profissional da saúde passou a emitir opinião sobre tratamento, vacinas e medidas adotadas pelos governos e recomendadas pela Organização Mundial da Saúde. O Google, a pretexto de impedir a divulgação de notícias falsas ou desinformação médica, retirou os vídeos do ar e suspendeu o canal.
O médico Marcos Falcão Farias Monte teve seu canal no YouTube 
acusado de publicar notícias falsas | Foto: Divulgação

O Tribunal de Justiça de São Paulo, contudo, mandou restabelecer os vídeos, ao decidir que as opiniões do médico não podem ser censuradas. A doença “ainda possui muitos aspectos controvertidos, carecendo de maiores estudos”, e, por isso mesmo, “o debate deve ser livre, o que, inclusive, pode contribuir com a descoberta de melhores métodos de enfrentamento do mal”, entendeu a juíza, em decisão de março deste ano. 

Papini lembra que inúmeros médicos que se posicionaram a favor do tratamento precoce da covid-19 tiveram as páginas suspensas ou excluídas definitivamente.É impressionante a gente imaginar que o checador do Google e do Facebook tem mais conhecimento em medicina do que um médico”, comentou. “Na verdade, a intenção das empresas é manter o discurso único e impedir opiniões divergentes.”

Leia também “Congresso em xeque”

 Loriane Comeli, colunista - Revista Oeste


segunda-feira, 28 de março de 2022

O Ocidente já perdeu? - Revista Oeste

Kaíke Nanne

Supostamente, os EUA estão em declínio e a civilização ocidental, em ruínas. Será mesmo? 

A água, símbolo dos Estados Unidos, e o dragão chinês | Ilustração: Shutterstock
A água, símbolo dos Estados Unidos, e o dragão chinês -  Ilustração: Shutterstock

É desolador o panorama que se apresenta quando o objeto da análise é a civilização ocidental. Vladimir Putin não teria tentado ressuscitar a Grande Mãe Rússia e iniciado sua estripulia militar sanguinária na Ucrânia se o Ocidente tivesse líderes fortes. A ordem liberal que preconiza o Estado de Direito, a garantia da propriedade privada e as liberdades individuais está em declínio, e o mundo está ficando menos democrático — de acordo com a Edição 2021 do Global Democracy Index, da revista britânica The Economist, apenas 6,4% da população mundial vive em democracias plenas; é o pior resultado desde o início do levantamento, em 2006. Tem mais. Xi Jinping já declarou que o plano do Partido Comunista Chinês é estabelecerum novo modelo de governança global”, seu país investe pesadamente na Nova Rota da Seda, um ambicioso projeto de infraestrutura que implementará um conjunto de novos itinerários comerciais por terra e mar, e a economia chinesa deve ultrapassar a norte-americana em 2033.

A propalada débâcle ocidental não se expressa apenas na política e na economia. Numerosos analistas dão conta de que a guerra cultural já está perdida. Do TikTok ao Fórum de Davos, da Netflix aos comitês de ESG das grandes corporações, das ONGs às big techs, é só chibata. O Oeste entrou num piro dramático de autoflagelação para expiar os pecados capitais denunciados pelos cavaleiros woke identitários, pela turma de movimentos como Antifa e Black Lives Matter. Nas universidades e na imprensa, a civilização ocidental é frequentemente apontada como produtora de exploração impiedosa e desigualdade social, berço de impérios colonialistas carniceiros, racista e criadora de estruturas que subjugam as mulheres e as minorias.

Em 2050, China e Rússia terão uma redução de nada menos que 20% no número de pessoas com capacidade produtiva

Dado o contexto, parece elementar presumir que o farol do Ocidente está com os dias contados. O Império Americano vai ruir em breve. Os Estados Unidos se tornarão apenas uma sombra do que já foram. E, com os Estados Unidos definhando, todo o ideário ocidental fica à míngua, o Oeste vira História, sem futuro.

Podemos encomendar o mausoléu, certo? Calma. Respire fundo. Conte até dez.

Em primeiro lugar, convém considerar que são os jovens e os imigrantes que têm potencial, energia e disposição ao risco para construir um futuro próspero, com inovação, dinamismo e capacidade de atração de talentos. Em 2050, China e Rússia terão uma redução de nada menos que 20% no número de pessoas com capacidade produtiva, segundo projeções da ONU. Em contraste, os Estados Unidos, de acordo com o mesmo estudo, verão sua população em idade ativa crescer 12% — sem o fator imigração, o país teria uma redução de 4,5% no número de indivíduos economicamente ativos.

Diz o escritor indiano-norte-americano Fareed Zakaria, em artigo para o jornal The Washington Post: “Imigração significa uma economia mais robusta. Os Estados Unidos têm administrado a imigração melhor do que a maioria dos outros países. Recebe pessoas de todos os lugares, elas são assimiladas e integradas ao tecido da sociedade, e os novos imigrantes sentem-se tão motivados quanto os velhos”.

Hoje, cerca de 15,5% da população norte-americana é composta de imigrantes — são mais de 50 milhões de pessoas. A China tem pouco mais de 1 milhão de imigrantes, o equivalente a 0,07% da população. O passaporte azul continua tendo um valor infinitamente superior ao do passaporte vermelho. E isso se reflete no interesse pelo aprendizado do idioma. No mundo, mais de 700 milhões de cidadãos têm inglês como segunda língua. No caso do mandarim, são 180 milhões.

Além dos dados relacionados à imigração, a conta do PIB per capita também precisa ser considerada. Embora a economia chinesa, como um todo, vá superar a norte-americana na próxima década, a geração de riqueza por indivíduo continuará muito maior nos Estados Unidos: em 2050, vai transpor a faixa dos US$ 80 mil por ano, ante pouco mais de US$ 20 mil na China.

No campo da disputa por corações e mentes, os US$ 10 bilhões que o Partido Comunista Chinês gasta por ano na difusão da cultura do país não têm sido suficientes. Aulas de kung fu para jovens africanos e conferências sobre a sabedoria confucionista em universidades ocidentais geram interesse, óbvio, mas não parecem ter o poder de mudar o tal do mindset. Ou você imagina que em Buenos Aires ou Kampala, em Johannesburgo ou Jacarta, a pré-estreia de um filme como A Batalha do Lago Changjin, a mais bem-sucedida produção chinesa de 2021, atrairá um público maior que o lançamento do novo Batman?

Um grupo de analistas internacionais acredita que as aspirações chinesas de dominação mundial podem estar sendo anabolizadas pela maior parte dos observadores — sem má-fé, apenas pelo alarmismo atávico dos que atuam no métier. Segundo essa interpretação contrária ao senso comum, a China estaria mais interessada em assegurar sua ascendência estratégica no leste da Ásia e ampliar seus negócios com todos os países, independentemente do eixo de influência ao qual estejam associados, do que em criar uma nova ordem planetária. O mencionado “novo modelo de governança global” seria um alerta retórico para o Ocidente não criar dificuldades e deixar o país expandir seu comércio sem travas, como regulações ambientais impeditivas.

Fatos e dados sobre a mesa, é bastante provável que os Estados Unidos sigam como o farol do mundo, malgrado o eventual ocupante da Casa Branca, hoje e no futuro — nesse sentido, a guerra na Ucrânia pode até fortalecer a aliança ocidental liderada pelo país e trazer a China para perto. Para uma certa classe média alta bem-pensante, que tem o luxo de discutir os prognósticos distópicos para a civilização ocidental entre taças de pinot noir, os Estados Unidos podem até estar caminhando para o desfiladeiro. Mas, para quem quer produzir e gerar riqueza, viver em liberdade e educar bem os filhos, a América é e será por muitos e muitos anos o melhor lugar. Até porque, embora milhões de indivíduos se submetam contingencialmente a regimes autoritários, a vocação para ser livre está no DNA da nossa espécie. 

Kaíke Nanne é jornalista. Foi publisher nos grupos Abril, Time Warner e HarperCollins. Atuou como repórter, editor e diretor em diversas publicações, entre elas Veja, Época, Playboy, Claudia e Oeste

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Kaíke Nanne,  jornalista - Revista Oeste